Crítica | Matrix Resurrections – Essência é ressuscitada em roteiro fértil, mas puro Déjà vu

Quando Matrix fez sua estreia nos cinemas lá no longínquo ano de 1999 – um filme original, que não era sequência e nem adaptação de nada – o mundo não estava preparado para o impacto que essa história iria causar na cultura pop e na sociedade da época. E, de fato, uma revolução colossal nasceu dessa ousadia e criatividade de mentes à frente de seu tempo. Talvez por conta disso que o risco de trazer a franquia de volta agora em 2021, com Matrix Resurrections, tenha sido o maior que a Warner Bros. já experimentou em sua existência. Entrar na sagrada toca do coelho e resgatar algo que marcou uma geração – e já havia sido finalizado – não é uma tarefa fácil e isso pode ser visto neste quarto capítulo, que chegou de forma demasiadamente tardia, eu diria.

Se por um lado a trilogia original estava anos-luz na frente de qualquer coisa, Matrix Resurrections dá um passo para trás, foca em recapitular o que já foi visto e parece um pouco atrasado no tempo, uma vez que o resgate da trama funciona bem mais como uma apaixonada homenagem ao legado desses personagens icônicos e aventuras surreais, do que algo que possa abrir novos caminhos ainda inexplorados. E isso é um desperdício sem escalas.

Mas, apesar dos pesares, o roteiro desse novo episódio parece ter tomado a pílula vermelha de tão brilhante e consciente de sua essência e de como a franquia revolucionou o cinema. Mesmo sem alcançar a magnitude que costumava ter, entrega uma sinergia que cativa até quem nunca foi fã da obra.

A trama e o elenco

A trama de Resurrections segue diversas vertentes distintas e brinca com as possibilidades do que é real e do que faz parte da clássica simulação. Por vezes bagunçada e complexa em excesso, por vezes autoexplicativa e autorreferente demais. Uma coisa é certa: a metalinguística segue mais afiada do que nunca. E isso, sem dúvida, não é para todos.

Em uma das possibilidades exploradas, Matrix foi apenas um bem-sucedido jogo de videogame e Neo (com o retorno do carismático e repetitivo Keanu Reeves) foi o seu programador. Essa premissa joga com a mente do espectador, além de nos colocar de volta dentro dos momentos mais marcantes dos filmes anteriores. Fora essa novidade divertidíssima de ser acompanhada, pouco sobra para os fãs mais entusiastas. Após a primeira e boa metade do filme, a ladeira desce vertiginosamente.

Ao deixar de lado a icônica identidade visual esverdeada e centralizar suas forças no mundo futurista “real” e cyberpunk – comum em outras obras atuais – a aventura se passa muitos anos após o sacrifício de Neo e a morte de Trinity (Carrie-Anne Moss tem seu merecido destaque). Ambos agora são lendas, heróis que fizeram com que os humanos e as máquinas pudessem trabalhar juntos para reconstruir um mundo mais justo. Porém, há uma possibilidade de mudar seus trágicos desfechos, uma vez que, mais do que nunca, essa história é sobre o amor genuíno e puro entre dois seres “feitos um para o outro”.

Piegas para os dias atuais? Talvez. Mas o romance entre Neo e Trinity é a lenha que alimenta a fogueira e faz a trama mover para frente. Ainda que essa movimentação seja lenta, melodramática e pouco natural. Com exceção de Jessica Henwick (Amor e Monstros) e Yahya Abdul-Mateen II (Candyman), o restante dos novos personagens são apenas reaproveitamento do elenco de Sense8 e ninguém brilha tanto quanto tenta, especialmente Neil Patrick Harris e sua atuação engessada, fora de sintonia com a seriedade que a trama deveria ter – isso caso se levasse à sério.

A direção

Agora sozinha na direção, Lana Wachowski mostra que ainda está imersa no coração da sua obra-prima e arrisca se divertir ainda mais que antes, especialmente por colocar no filme diversas discussões que Matrix proporcionou no nosso mundo, como o fato de ser uma metáfora sobre transexualidade – algo que gera conversas até hoje – e como o filme impactou a criação das redes sociais.

Agora sem restrições e com grande liberdade criativa, a cineasta usa e abusa do que há de melhor nesse universo, mas se perde dentro de suas próprias ambições. As cenas de ação, por sua vez, são muito mais pontuais e menos impactantes, escassas no meio de tanta reviravolta cabulosa e mal desenvolvida.

Conclusão

Preso demais ao passado, Matrix Resurrections apela forte para a nostalgia – com seu roteiro mirabolante e retornos de personagens icônicos – mas acaba por se tornar uma das sequências preguiçosas que tanto debocha. Com menos ação engenhosa e mais romance cafona, o roteiro troca a sagrada filosofia da franquia por uma simples diversão metalinguística. Ainda que possua boas intenções e cenas de ação replicadas da trilogia clássica, essa ressurreição reimagina sua essência, mas se perde na própria paródia. Matrix marcou a história do cinema, mas esse novo capítulo parece feliz em apenas prestar uma homenagem calorosa.

Nota: 7/10


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