Crítica | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é o maior, mais memorável e emocionante filme do Aranha

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Essa crítica contém spoilers sobre Homem-Aranha: Sem Volta para Casa!

Muito antes do Universo Cinematográfico da Marvel ser essa explosão atômica de empolgação que é hoje, lá nos primórdios do surgimento do gênero no começo dos anos 2000, a Sony Pictures apostou todas as suas fichas em um herói inusitado, um menino mundano que, assim como muitos de nós, possui dificuldades na escola, nos relacionamentos e no convívio social. No entanto, depois que uma aranha radioativa transfere para ele poderes inimagináveis, ele compreende suas responsabilidades no mundo e se transforma no super-herói do povo, no personagem que – de lá para cá – se mantém na liderança como o maior vendedor de ingressos para filmes solos.

E essa febre de 40º parece chegar ao seu ponto mais elevado e ambicioso em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (Spider-Man: No Way Home) – terceiro filme solo do herói dentro da Marvel Studios e a também a conclusão de mais uma trilogia do personagem. Mas a jornada saltando de prédio em prédio nunca foi fácil.

Para chegar aonde chegou e atingir o nível de credibilidade e maturidade desse encerramento de ciclo absolutamente espetacular, o herói precisou fazer parte de outros filmes populares e, até mesmo, ir ao espaço enfrentar Thanos. Isso para não contar as histórias anteriores, uma vez que a trilogia conhecida pelos fãs como “original”, do diretor Sam Raimi, acabou por ter uma conclusão agridoce, bagunçada e que deixou muitos insatisfeitos… já a segunda, protagonizada por Andrew Garfield, nem se quer teve uma conclusão, ou seja, a expectativa estava alta em torno de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, afinal, muito além de mexer com universos, esse capítulo foi vendido como o encerramento de uma fase da vida de Peter Parker e a resolução de toda uma aventura teen que teve seu início em De Volta Ao Lar.

Mas será que – sem a presença de todos os fanservices – o fim fez sentido? A resposta é bem simples: perfeitamente sim.

A trama e o elenco

Grandes ambições, de fato, trazem filmes espetaculares. A trama desse capítulo é tão além das possibilidades e une tantos atores que já se despediram desse tipo de filme, que acaba por soar como uma grande homenagem ao Homem-Aranha, quase um desses reunions que são populares hoje em dia.

No enredo, agora o mundo todo sabe que Peter Parker é o Amigo da Vizinhança e a trama começa exatamente após o desfecho do filme anteriorLonge de Casa – quando o vilão Mystério (Jake Gyllenhaal) arquiteta um plano para incriminar o herói e fazer o mundinho limitado e discreto de Parker colidir com o caos de ser o Aranha. Quando percebe que esse fardo está também afetando seus melhores amigos, Peter pede a ajuda do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para fazer com que todos esqueçam que ele é o Teioso. Mas, é claro, como bem sabemos, o feitiço dá errado e eles começam a receber visitantes de outros universos paralelos.

Sim, agora, de fato, as portas do Multiverso – que parecem terem sido abertas na série Loki (tudo isso ainda é muito confuso e a Marvel não está se dedicando a explicar) – estão estabelecidas e, em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, todos que sabem que Parker é o Aranha estão surfando para o mundo central – a linha do tempo sagrada, digamos – e fazendo uma verdadeira omelete de realidades.

Tantos os vilões quanto os heróis de franquias passadas estão de volta para ajudar Peter na sua missão heroica de tentar salvar o máximo possível de almas pelo caminho. Da trilogia 1 temos de volta Dr. Octopus de Alfred Molina, o Homem-Areia de Thomas Haden Church e, claro, o icônico Duende Verde de Willem Dafoe. Já da trilogia 2, Electro de Jamie Foxx (o dono das piadas mais hilárias) e o Lagarto de Rhys Ifans também retornam. Porém, agora esses personagens estão no MCU e ganham upgrades, tanto na questão tecnológica (que inclui correção de visuais e explicações mais plausíveis para seus poderes) quanto no clima entre eles, agora bem mais amistoso e por vezes cômico. Marvel sendo Marvel né?

Seus passados são relembrados (caso o público tenha esquecido), mas eles ganham a profundidade necessária para entendermos suas motivações, afinal, em seus universos, cada um acaba por morrer ao enfrentar o Homem-Aranha e, nesse novo mundo existe a possibilidade de sobreviver. É dito que eles foram retirados de suas realidades pouco antes do fatídico momento da morte. Alguns simpatizam com o discurso de Parker, que propõe encontrar uma “cura” para cada um de seus poderes, mas outros não acreditam que essa benção é uma maldição. E é esse o grande conflito da história, que leva à um clímax arrebatador e carregado de emoção para deixar qualquer fã de boca aberta, uma vez que Tobey Maguire e Andrew Garfield*rufem os tambores* – também retornam para ajudar a resolver essa treta multiversal.

Hollywood tem suas surpresas, não é mesmo? Como forma de redenção e a possibilidade de corrigir deslizes do passado, a Sony brinca com o legado do Aranha e mescla suas franquias em um crossover que transpira empolgação. A química entre os três personagens é absolutamente o ponto alto do roteiro. Entre uma piada sobre Vingadores ser uma banda e a tão polêmica teia orgânica do Aranha de Maguire, o trio proporciona momentos de pura catarse emocional, que faz qualquer fã de longa data ter um surto no cinema. Mas, muito além de easter eggs gratuitos, o roteiro sensível e inteligentíssimo constrói uma espécie de rede de apoio de heroísmo e a presença dos outros Aranhas acaba por servir como suplemento para a jornada final do Peter de Tom Holland, mais novo e mais ingênuo que os demais.

Eles estão de volta!

Maguire – que se despediu do personagem lá em 2007 – agora vive um Peter mais maduro, com dores nas costas e que já passou por tanta coisa, que nada mais o abala. Já o Aranha de Garfield ainda carrega a dor da perda de Gwen Stacy (Emma Stone), mas segue salvando o mundo e se divertindo com a pegada mais “cool” que possui. A interação entre os dois é ainda mais divertida, algo que os entusiastas sonhavam por anos e que agora é realidade. É como uma espiadinha rápida na vida desses personagens que tanto amamos para saber como estão suas vidas nos dias de hoje. Sem dúvida, um deleite, um presente de Natal que abraça e aquece o coração.

Fora isso, MJ (tem como Zendaya ser mais incrível?) e Ned são – de longe – a melhor equipe. Inclusive, Jacob Batalon possui bastante destaque como aprendiz do Doutor Estranho e é ele quem – curiosamente – reúne os três Aranhas. Tá pouco ou quer mais? Então toma mais: Charlie Cox de volta como Matt Murdock/Demolidor é a cerejinha desse bolo!

Mas não se engane, fora o tom cômico e o senso de humor afiado do elenco, este filme é sobre consequências, sobre fardo do heroísmo e, acima de tudo, sobre maturidade. Sendo assim, há sua parcela de brutalidade (dessa vez vemos socos e sangue) e trevas para compor um Tom Holland denso, descontrolado de ódio e que não é mais a criança do começo dessa aventura. O astro entrega tudo que aprendeu nesses anos e usa seu carisma com maestria na sua melhor performance na Marvel. Muito se diz sobre quem é o melhor Aranha do cinema e esse capítulo – que une todos eles – certamente evidencia que a versão de Holland é uma mistura divertida e pontual de todos os outros.

Ele é descolado, doce e divertido, mas possui seu lado sombrio, dominado pela culpa de ver alguém que tanto ama morrer, assim como o destino de todos os demais em qualquer universo que seja. Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é um filme sobre o inevitável e sobre como as perdas que temos pelo caminho são sementes para germinar nossa história por aí. Após tantos vilões e tantos aprendizados ao trabalhar em equipe (aliás, isso é algo que o Aranha de Holland tem a ensinar aos demais!), o Homem-Aranha termina onde a jornada que conhecemos começa. Um novo ciclo se inicia e promete uma futura trilogia amadurecida e distante dos holofotes dos Vingadores.

A direção

É admirável que essa quantidade exorbitante de personagens não afete o roteiro à ponto de deixá-lo apressado ou mesmo sem camadas. Há muitas subtramas secundárias, mas, uma vez que a origem desses vilões e dos Aranhas são ignoradas e apenas pontos chaves de suas vidas em outras franquias são trazidos de volta, mais dinâmico fica de se compreender e focar na jornada central.

Trabalho minucioso e satisfatório do diretor Jon Watts em manter a narrativa sempre em movimento, algo que nem mesmo Sam Raimi soube lidar com o desfecho de sua trilogia e o excesso de vilões desconexos. Porém, Sem Volta Para Casa é uma vitrine. Os personagens fazem suas passagens, arrancam gritos do público e seguem sem que isso afete a narrativa principal, uma tarefa árdua de união, mas suas aparições, por si só, já ofuscam qualquer falha na construção desse palco repleto de estrelas do passado.

As cenas de ação (e os excelentes efeitos especiais), por sua vez, são o suprassumo do espetáculo e o longa possui o que podemos chamar de “melhor terceiro ato do MCU”, por vezes até melhor que o superlotado desfecho de Vingadores: Ultimato. Ainda que muita coisa aconteça ao mesmo tempo no clímax, há organização, pausas dramáticas e momentos cômicos que tornam os últimos 30 minutos de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa uma experiência verdadeiramente épica e extasiante, para não citar a impecável trilha sonora composta por Michael Giacchino. Se não se arrepiar com o tema do Aranha de Tobey Maguire sendo tocado em uma cena emocionante do herói com o Homem-Areia, nada mais vai te comover.

Conclusão

Agora sim podemos dizer que o cinema voltou! A experiência catártica de sentir uma montanha-russa de emoções em conjunto chega ao seu ápice com o monumental Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, uma verdadeira homenagem – repleta de coração e sentimento – ao legado do personagem nas telonas, que celebra tudo que significa um filme de super-herói. Ao correr riscos e abraçar o inimaginável, esse capítulo prova que o nível de maturidade, comprometimento e ambição da Marvel Studios ultrapassa as barreiras do multiverso.

Apesar das toneladas de fanservice, easter eggs e participações ilustres – capazes de testar o ataque cardíaco dos fãs – o roteiro privilegia a emoção e encerra a trilogia com maestria, senso de humor e aprendizados sobre o fardo de ser um herói e as responsabilidades de ter grandes poderes. Não existe despedida fácil, mas Tom Holland – picado pelo entusiasmo de fazer parte de algo tão grandioso – e sua gangue fazem com que a nossa volta para casa seja em meio às lagrimas, sorrisos e o conforto de saber que personagens que tanto amamos (e crescemos juntos) estão em boas mãos.

O cinema escapista sempre foi sobre ter esperança e, após dois anos de pandemia global em seguimento, essa sensação de união e carinho com os fãs vem como um abraço necessário, uma carta aberta de amor que, claro, é inevitavelmente gananciosa. De qualquer forma, mesmo com algumas decisões gratuitas em demasia, esse é o ponto mais épico do MCU e o maior, mais memorável e emocionante filme do Aranha já exibido na tela grande.

Nota: 10/10


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