Crítica | Turma da Mônica: Lições – Montanha-russa emocional em sequência nublada e madura

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Após estabelecer laços de amizade e fundamentar uma base sólida para o nascimento de uma franquia live-action promissora e que possui um mundo absolutamente rico a ser explorado, as crianças do Bairro do Limoeiro estão de volta aos cinemas para nos proporcionar algumas reflexões em Turma da Mônica – Lições, sequência direta do filme de 2019, que adapta novamente a graphic novel homônima do universo de Maurício de Sousa. Porém, os anos se passaram e agora todos estão mais velhos, com maiores responsabilidades e com a aventura despretensiosa em segundo plano.

Assim como todas as grandes sagas do cinema protagonizadas por crianças, seu segundo longa foca nas consequências da jornada anterior e mostra como o amadurecimento é inevitável, afinal, tanto o elenco quanto as personagens estão crescendo de forma desenfreada e isso precisa ser parte importante da história. Porém, quem se encantou com o tom infantil divertido e aventuresco de Laços, pode acabar por se decepcionar, uma vez que Lições é bem mais melancólico, denso e imerso na obrigação de provocar sentimentos e lágrimas, algo que deixa o roteiro engessado e preso na tentativa. Ainda assim, a evolução de tom é clara e, por vezes, necessária, como trocar um bonito e simples algodão doce por um petit gâteau sofisticado, que exige mais cuidado ao ser digerido. É gostoso? É sim! Mas nem todo mundo compra.

A trama e o elenco

Uma das maiores qualidades dessas adaptações de quadrinhos que fizeram parte significativa da vida de praticamente todos nós está mesmo em seu cast fantástico. O elenco (e suas caracterizações) são extremamente bem pensados e dá para ver o empenho da produção em fazer algo satisfatório e divertido ao mesmo tempo.

Especialmente em Turma da Mônica: Lições é chuva de fanservice para todos os lados – ainda que boa parte dos novos personagens apenas existam para ser apenas isso. De qualquer forma, o elenco principal segue invicto no carisma e entrega uma química ainda melhor que antes.

Giulia Benite, a Mônica, está absolutamente ótima e confortável no papel que, dessa vez, exige mais nuances e lágrimas em sua jornada interna. A atriz é o destaque, mas os demais estão igualmente focados e menos “fofinhos”. Acredite, isso é bom.

Uma vez que o grupo é disperso e as crianças se separam pela primeira vez na vida desde o maternal – após um incidente com a Mônica – cada personagem possui sua própria jornada pessoal e essas pequenas aventuras internas sem dúvida enriquecem a trama.

Cebolinha (Kevin Vechiatto está ótimo também) é obrigado a falar de forma correta, Cascão (Gabriel Moreira) é matriculado na natação para seu maior pesadelo e Magali (Laura Rauseo) descobre que tem ansiedade – por isso come de forma desenfreada – ou seja, cada um começa a entender que a doce infância se perde dentro das responsabilidades de estar se tornando adolescente.

Essa ruptura nos permite conhecer melhor cada um deles de forma separada (algo que foi ponto negativo no anterior), porém, leva tempo demais para que a tal união seja reestabelecida, o que faz a trama ser infinitamente menos Turma da Mônica clássica e mais algo que encaminha a jornada para a edição Jovem do grupo. Ao ter como base a rivalidade e os conflitos de Romeu e Julieta, dessa vez é estabelecida uma leve e sutil história de amor entre Mônica e Cebolinha – assim como nos quadrinhos. Mas Magali e Cascão, por mais que se esforcem, ainda são coadjuvantes aqui.

Já o elenco adulto – que agora inclui nomes como Isabelle Drummond (como Tina) e Malu Mader – funciona mesmo de apoio para alguns conflitos, nada extraordinário ou que possa se destacar. Certamente Monica Iozzi, que dá vida à mãe da Mônica, é a mais importante, já que parte dela a tal ideia de separar o grupo. Além dessa, a presença de Humberto (vivido pelo carismático e promissor Lucas Infante) e Do Contra (Vinícius Higo), tornam o humor atrativo e bem equilibrado com o drama.

A direção

Apesar de alguns pontos serem inferiores ao primeiro filme e a sensação de pressa em Turma da Mônica: Lições acabar por colocar os pés pelas mãos em certos momentos cruciais da trama, a condução de Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs), por sua vez, alinha todas as engrenagens e faz a máquina funcionar. Além do inquestionável talento na direção, o cineasta está imerso na história desde o começo e mostra que sabe ofertar easter eggs – no melhor estilo Universo Marvel – mas também mergulhar nas camadas mais íntimas de suas personagens centrais.

Depois de receber duras críticas pelo ritmo mais lento de antes, esse parece estar regulado, mais dinâmico e sem longas pausas dramáticas em que a câmera espera uma lágrima cair, porém, essa aceleração – somada ao excesso de elenco coadjuvante – acaba por concluir rápido demais alguns conflitos (como a rivalidade entre as famílias) e dilatar sem necessidade outros. De qualquer maneira, é louvável que o ar mágico ainda se mantenha firme e forte.

A ambientação da cidade pequena e acolhedora, a fotografia aconchegante e os figurinos – agora mais realistas que antes – imergem o espectador nesse mundo onde a infância parece ser a energia motivadora. Ainda que atemporal, a ausência de tecnologia torna tudo ainda mais nostálgico, humano e envolvente.

Conclusão

Com isso, muito mais comovente e maduro que o filme anterior, Turma da Mônica: Lições se afasta da aventura fofa despretensiosa para mergulhar em uma sequência nublada, ao falar sobre amadurecimento, dependência emocional e os ensinamentos que a vida nos dá. Todas essas reflexões pontuais temperam uma adaptação infantil impressionantemente rica em detalhes, com elenco que ainda esbanja carisma e que, de fato, consagra o universo nostálgico de Mauricio de Sousa como patrimônio nacional de valor e qualidade inestimável.

Mas, nem tudo que reluz é ouro no Bairro do Limoeiro e o roteiro apressado comete deslizes, personagens servem apenas de fanservice e, por vezes, nos faz sentir falta do tom mais aventuresco de antes, no entanto, a produção mantém o nível de qualidade no topo a fim de fazer uma continuação essencial, cativante e que se justifica. Crescer nunca é fácil e a trama habita deliciosamente em uma fase da vida em que nossos amigos são a nossa família. Depois dessas lições indispensáveis, a base para o terceiro capítulo está estabelecida e promete que a pesada chuva da despedida irá finalmente cair, restando apenas boas lembranças.

Nota: 7/10

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