Crítica | Esqueceram de Mim no Lar, Doce Lar é puro e autêntico desânimo

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Está aberta a anual temporada natalina no streaming e com nada menos do que a repaginada de um (senão o) dos maiores clássicos do cinema de feriados comemorativos: Esqueceram de Mim – agora com o adicional de “No Lar, Doce Lar” no título.

A produção da 20th Century Studios, de baixo orçamento e que grita “filme para TV”, encontrou uma casa no Disney+ e, certamente, uma forma de ganhar a atenção do público por ser um remake contemporâneo do filme de 1990. No entanto, não é bem assim. O longa é, na realidade, uma sequência que se passa no mesmo universo da franquia que fez Macaulay Culkin ser o astro mirim mais famoso de uma geração e, fora o clima nostálgico de “eu já vi isso antes”, nada mais funciona.

E certo quando dizem que altas expectativas levam às maiores decepções, mas há um gosto amargo em Esqueceram de Mim no Lar, Doce Lar (Home Sweet Home Alone) que lembra açúcar queimada, passada do ponto quando a intenção era fazer um delicioso caramelo com pitadas de enfeites natalinos. Nessa premissa simplória, todas as engrenagens de fato estão dispostas, mas a falta de engenhosidade do roteiro – que segue à risca e replica a fórmula do original – e o senso de humor bobo e extremamente sem ânimo, acabam por nos fazer realmente querer esquecer que tanta oportunidade foi desperdiçada com algo que tinha grande potencial.

A trama e o elenco

Sem saber se quer ser contemporânea ou nostálgica, a trama – que se diz inspirada no roteiro original de John Hughes – passa a sensação de temer fugir do óbvio e se mantém na preguiçosa zona de conforto, como se pegasse a energia e a eficácia da criação do roteirista de obras como Curtindo a Vida Adoidado e a jogasse na privada.

Há menções aos dois filmes originais – incluindo uma citação ao Kevin e uma ponta de Devin Ratray reprisando seu papel de Buzz McCallister – que aquecem o coração de quem cresceu com a franquia, mas, ao mesmo tempo que a história busca rir das conveniências e clichês de deixar uma criança esperta sozinha em casa, acaba por fazer algo infinitamente mais exagerado através de um senso de humor forçado e o desperdício do bom elenco.

E, apesar de ser motivo de boicote por parte de fãs mais fervorosos, não há nada de errado em refazer um clássico visando agradar uma nova geração – o próprio filme parece consciente de que é um risco assumido, aliás – e se pegarmos exemplos recentes, como Ghostbusters: Mais Além, fica claro que essa maldição pode ser perfeitamente quebrada quando o roteiro é bom. Porém, o difícil de digerir mesmo é quando o novo usa a estratégia do antigo fingindo fazer algo inovador.

Nada, absolutamente nada, soa natural neste. Desde Archie Yates (Jojo Rabbit) – que é fofo e espontaneamente cômico – não ter o carisma perverso de Culkin e, com isso, perder a força da natureza que era o protagonista, até as piadas infames sobre assuntos sem graça, passando por um elenco sem sintonia, ou seja, tudo faz a história perder força e, no fim das contas, ser o mais puro tédio.

Dessa vez, os bandidos desprovidos de inteligência são trocados por um casal ordinário – vivido por Ellie Kemper (Unbreakable Kimmy Schmidt) e Rob Delaney (Deadpool 2) – que buscam encontrar um objeto de grande valor deixado na casa da família que viaja para passar o Natal em Tóquio, mas que esquece seu caçula para trás na pressa. Não há grande motivação além disso. Eles precisam entrar na casa e Max (Archie), apenas por diversão e tédio, decide criar engenhocas mortais para impedir a invasão.

Ainda que a energia da franquia possa habitar essa premissa e a estrutura clássica esteja presente – nem que seja em espírito – a execução é uma vergonha de tão rasa e falha com seu excesso de personagens que estão em outro tom, especialmente Ellie Kemper. O caos da data comemorativa acaba por se tornar o caos da trama que demora demais para chegar onde deseja e, de certa forma, corre apressadamente para cumprir seus requisitos.

Até mesmo as armadilhas no terceiro ato, algo de praxe e ponto alta da saga, não são engraçadas ou mesmo críveis para fisgar o espectador. A mão da Disney pesa demais na fantasia e se afasta do mundo cabível, sendo necessária uma maior suspensão da descrença dessa vez. E se formos nos apegar à mensagem central – sobre dar valor a família e a verdadeira essência do Natal – o alçapão do poço desce ainda mais profundo pois a forçação de barra é quase que robótica.

A direção

Enquanto o roteiro tenta desesperadamente reproduzir as artimanhas que fez a franquia ter fama, a direção de Dan Mazer (Tirando o Atraso) também mira na narrativa de Chris Columbus (diretor do filme dos anos 90), mas não consegue acompanhar seu encanto.

Os problemas, já existentes no passado, parecem ganhar ainda mais força e sobrepor as poucas qualidades. Além do clima natalino habitual e algumas sequências de ação mais, digamos, animadas, a condução de Mazer parece satisfeita em não explorar o potencial do elenco de comediantes e nem mesmo dos cenários em si, como se o diretor estivesse conformado com o fato de que o filme está fadado ao fracasso e, qualquer tentativa de contornar isso, só o deixaria mais confuso e bagunçado.

Conclusão

Com isso, debaixo de toneladas de piadas ruins e um roteiro que não sabe se quer ser inovador ou saudoso, Esqueceram de Mim no Lar, Doce Lar é puro e autêntico desânimo. A versão repaginada do clássico natalino – que marcou uma geração – foca tanto em extrair a essência divertida da franquia, que desperdiça seu elenco talentoso em uma obra que, definitivamente, é melhor ser esquecida.

O espírito do original está ali em algum lugar, talvez soterrado pela neve da preguiça de Hollywood em reviver um clássico sem ao menos se dar ao trabalho de colocar amor, propósito e diversão nele. A sessão da tarde nunca foi tão amarga.

Nota: 2/10


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