Crítica | Vingança & Castigo – Elenco de primeira em faroeste elegante e feroz

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Tem sido um ano generoso para os faroestes. Especialmente para àqueles que buscam subverter expectativas e fugir do senso comum do gênero, afinal, esse tipo de thriller de vingança já foi feito diversas vezes, não é mesmo? Um homem comum sai em sua última jornada para se vingar pela morte trágica de alguém que ama. Sendo assim, o que faz de Vingança & Castigo (The Harder They Fall) – novo Original da Netflix – ser tão majestosamente especial e diferente da fórmula? Simplesmente pelo fato de abraçar a violência sem fim sem necessitar justificá-la, ter consciência de seus inúmeros clichês e realçar todas as características que fazem esse tipo de obra ser um sucesso.

Com seu respeitável estilo visual e uma trilha sonora contemporânea mágica, o roteiro e a direção mantém a tensão sob controle e brincam de velho-oeste enquanto entregam um dos melhores filmes da plataforma de streaming desse ano.

A trama e o elenco

Aliás, é importante ressaltar – além dos inúmeros acertos do filme – que sua alma está no recorte racial que faz em colocar um elenco majoritariamente negro dentro de um gênero tão segregado, que raras vezes deu lugar de destaque para questões raciais e voz para a comunidade afrodescendente americana. Como um bom Black Western, essa mudança de perspectiva é exatamente bem-vinda.

Ainda que esteja dando destaque aqui no texto, o roteiro de Vingança & Castigo em si trata a inclusão da forma natural que deve ser. É difícil que o carisma sem igual do charmoso Jonathan Majors (Loki) e de LaKeith Stanfield (Judas e o Messias Negro) e Zazie Beetz (Deadpool) não roube a cena, mas há diversas outras qualidades em destaque que dão ainda mais sabor à história.

Na trama instigante e coesa dentro de sua missão de entreter e fazer uma afinada crítica social, Majors interpreta Nat Love, um fora da lei destemido que descobriu recentemente que seu inimigo mortal, Rufus Buck (vivido pelo sempre ótimo Idris Elba), será libertado da prisão. Ele é chefe de uma gangue com uma reputação infame de roubo e assassinato. Enquanto está fora, o grupo é liderado por Trudy Smith (vencedora do Oscar Regina King) e Cherokee Bill (Stanfield), uma espécie de porta-voz. Rufus é responsável por metade da razão de vida de Love, uma vez que matou seus pais na sua frente quando ainda era criança. Essa busca incansável por vingança lembra e muito as narrativas de Quentin Tarantino, porém, mais refinada, consistente e menos torture porn.

Apesar de nenhuma das histórias serem baseadas em fatos verídicos, o roteiro inteligente incorpora e valoriza as figuras lendárias do oeste da vida real – que ficaram famosas pelo boca a boca através dos tempos – para a criação de seus inúmeros e profundos personagens, quase como uma adaptação de contos de fadas e lendas urbanas de uma América cuja poeira do tempo insiste em apagar.

Desde cenas cativantes e muito bem montadas de monólogos até sequências de ação estilosíssimas, toda a identidade visual do longa é puro deslumbre e nasce do olhar aguçado que o diretor Jeymes Samuel (They Die by Dawn) possui para com obras desse gênero. Sua condução exala apelo estético e combina uma trilha sonora evocativa com belas imagens para criar toda essa atmosfera divertida, densa e de ritmo impecável. Fora isso, o diretor aproveita plenamente seu elenco estelar (no melhor estilo Os 7 de Chicago) e, ainda que tenha uma progressão bagunçada na trama, visivelmente não perde seu ponto de convergência.

Conclusão

Dessa forma, Vingança & Castigo é um faroeste sólido, divertido e revigorante para o gênero, feito sob o olhar de um diretor cheio de vitalidade e que sabe que contar uma boa história – com muito estilo – faz a diferença. Além de um elenco de primeira e uma narrativa feroz – por vezes bagunçada demais – a obra da Netflix presta homenagem à excelência negra dentro de um gênero do cinema sempre hostil em lidar com questões raciais. Sua violência certeira faz algo tão edificante e racional que Tarantino, mestre consagrado desse tipo de obra, nunca foi capaz de fazer.

Nota: 8/10


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