Crítica | Maligno – Novo e BIZARRO clássico do horror

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Dar o primeiro passo rumo à renovação não é tarefa fácil e exige assumir grandes riscos. Poucos cineastas arriscam fugir da caixinha estabelecida pelos gêneros e entregar algo fora do comum, afinal, quando alguém vai ao cinema ver um filme de terror convencional, a pessoa já sabe exatamente o que vai encontrar nas entranhas da trama. E talvez por conta disse que Maligno (Malignant), nova obra de James Wan, seja tão absurdamente inesquecível.

Visionário como tal – após criar franquias que são verdadeiras minas de ouro como Jogos Mortais, Sobrenatural e Invocação do Mal – o realizador retorna ao gênero que o consagrou nos cinemas com Maligno, uma história totalmente original, mas influenciada por inúmeras outras que, mesmo com a sensação de familiaridade, consegue dar a volta por cima e surpreender, envolver e o mais difícil de tudo: ser completamente diferente de suas inspirações.

Enquanto o “pós-horror” leva o gênero para um caminho dramático e pseudo-cult, Wan lidera a vertente paralela ao movimento e mantém a formula de sucesso de fazer um filme extremamente comercial de baixo orçamento, mas que deve ficar na boca do povo por tempo significativo e, mesmo que não teste nossa inteligência, condensa todas as alegorias que fazem o horror ser o que é e proporciona uma aventura excêntrica, grotesca e singular, a qual gruda em nossa mente como um tumor sem cura.

A trama e o elenco

É possível que haja uma crise de identidade no roteiro? Sim, a premissa estabelecida – que rende um final de cair o queixo (já chego lá!) – assume diversas vertentes e Maligno navega por diferentes subgêneros do terror. Começa dentro do que seria uma trama sobrenatural, com fantasmas e demônios, mas logo assume a postura de slasher – com sangue, tripas e um lado gore bizarro – e, dentro desse passeio pela história do cinema, presta homenagens à mestres como Dario Argento (Suspiria), Brian De Palma (Carrie – A Estranha) e até mesmo Mario Bava, líder da “Era de ouro” do terror slasher italiano. As referências são visíveis na fotografia neon que exalta o vermelho, na excelente trilha sonora e na direção.

Cada um desses elementos técnicos criam uma atmosfera de medo e suspense que nos convida a desvendar o que de fato está acontecendo antes que a grande reviravolta seja entregue. O roteiro se esquiva de previsibilidades – ainda que algumas sejam inevitavelmente óbvias – e tenta, o tempo todo, entregar pistas falsas e confusas para que o final possa ter o seu devido impacto. E tem. Tudo é tão surreal, maluco e corajoso, que a suspensão da descrença não fica no caminho, uma vez que somos comprados pela esquisitice.

Na trama – que se estabelece por entregar respostas à conta gotas – acompanhamos o momento da vida em que Madison (vivida por Annabelle Wallis) se vê em um relacionamento tóxico e é agredida por seu marido. Essa união de medo, temor por sua própria vida e falta de esperança, traz à tona seu antigo e obsessivo “amigo imaginário” Gabriel. Aos poucos, ela descobre que há mais em seu passado do que ela poderia sonhar e Gabriel transforma sua vida em um caos absurdo. Qualquer coisa além disso seria spoiler.

Entre cenas de sustos ao melhor estilo Invocação do Mal – com os cantos escuros sendo aproveitados e o uso adequado de jump scare – a primeira metade do filme arquiteta lentamente o que virá no clímax frenético e até parece não sair muito do lugar, porém, da metade para o final, a trama dá uma volta e se transforma em uma caçada sinistra e inesperada por um assassino com poderes sobrenaturais pelas ruas de Seattle.

Além de Annabelle Wallis (Annabelle), que é boa atriz, mas vive uma personagem unidimensional tão imersa em traumas que não existe mais nada além disso, o destaque fica para Maddie Hasson (Impulse) e o detetive George Young (A Receita Final). O elenco em si não é o ponto forte.

A direção

Essa retomada às raízes do gênero e ao estilo caricato, sangrento e por vezes cômico do anos 70 e 80 cai muito bem à técnica de James Wan e sua visão criativa sobre como criar medo com elementos simples e subverter clichês. Apesar de Maligno ser um filme de menor aspecto, o diretor mantém sua identidade visual icônica e até mesmo repete planos de obras grandiosas, como Aquaman. Há uma cena de ação com luta feita com a mesma maestria da cena em que Nicole Kidman enfrenta o vilão no filme do herói da DC.

Fora isso, a câmera flui entre os cenários e insere o espectador dentro da história como um espírito que observa tudo de cima. Cada loucura do roteiro tem um elemento específico dos filmes do Wan – a violência gráfica de Jogos Mortais, o sobrenatural do Invocaverso e as reviravoltas chocantes de obras como Gritos Mortais – ou seja, além de ser um grande tributo ao gênero, também funciona como sua consagração como um dos mais importantes mestres do terror contemporâneo.

Já o desfecho – com a reviravolta que deixaria Voldemort com inveja – surpreende, inquieta e ressignifica tudo que estava sendo feito até então. É cômico e nauseante ao mesmo tempo.

Conclusão

Através disso, além do desfecho de deixar qualquer um boquiaberto com tamanha bizarrice e excentricidade, Maligno presta tributo ao gênero ao retornar às raízes do horror com a maestria de um diretor visionário, destemido e apaixonado pelo cinema como James Wan, que não poupa esforços em fazer algo único e absolutamente memorável.

A trama de Maligno esconde surpresa atrás de surpresa, mistura subgêneros em uma salada sangrenta e ultrajante e, claro, tira o espectador do eixo. O que seria essa senão a descrição do nascimento de um novo e audacioso clássico do terror? É, por vezes, ridículo? Sim. O roteiro passa por crise de identidade? Talvez. Mas, ao contrário do nome, é um terror benigno, antinatural, que dá fôlego ao gênero desgastado e vai ficar com você por muito e muito tempo.

NOTA: 9/10

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