Crítica | Infiltrado – Brutal e estilizado filme de assalto

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Com bons saldos recentes e uma carreira de ótimos e medianos, certamente Guy Ritchie (Magnatas do Crime) é um dos poucos realizadores atuais que conseguem transformar um filme de ação padrão em uma obra mais interessante e orquestrada. Em seu projeto mais recente, Infiltrado (Wrath of Man), a maestria mantém o nível e novamente replica seu habitual apelo visual e sonoro que tanto dá identidade à sua visão cinematográfica excêntrica.

Tendo como inspiração diversos clássicos do gênero, o diretor consegue sair da caixinha estabelecida – ainda que não o suficiente para ser inovador – e entrega um thriller de assalto surpreendentemente melhor que muitas das obras semelhantes estreladas por astros consagrados. Aliás, a pose de durão e a atuação engessada só conclui que Jason Statham é, de fato, o Bruce Willis de sua geração e, como tal, conquista pela performance física muito mais do que por suas nuances dramáticas. E com o astro certo e um roteiro perspicaz, Ritchie brinca de casinha em sua zona de conforto por um passeio divertido e cheio do que o público mais gosta: ação desenfreada.

A trama e o elenco

Com o roteiro sendo baseado no ótimo filme de ação francês de 2004, Le Convoyeur (ou Assalto Ao Carro Forte no Brasil), a trama de Infiltrado segue H (Statham), que consegue um emprego como segurança em uma empresa de carros blindados. Logo em seu primeiro turno diversas tentativas de assalto são registradas. H precisa proteger centenas de milhões de dólares dos bandidos que entram em seu caminho (incluindo participações de Post Malone, Scott Eastwood e Jeffrey Donovan). No entanto, tudo começa a mudar quando descobrimos que o protagonista não é bem quem diz ser e tem muito mais escondido do que sabemos inicialmente. Com divertidas reviravoltas – e algumas um tanto quanto previsíveis – o enredo constrói a atmosfera de suspense crescente durante o processo de relevar aos poucos quem, de fato, é H e qual seu real objetivo nessa missão perigosa.

Ainda que a premissa de Infiltrado seja relativamente simples – um típico filme de assalto de vingança com um protagonista cheio de segredos – o roteiro ambicioso contorna clichês mais aparentes e utiliza muito bem o roteiro do filme de 2004 para dar mais sabor à nova direção que a trama segue, muito mais orquestrada do que a objetiva original. Mas é preciso prestar atenção pois a grande quantidade de personagens paralelos, tramas secundárias e uso excessivo de flashbacks acabam por deixar a narrativa um tanto quanto confusa inicialmente, por sinal, um problema recorrente nos filmes de Ritchie.

Ainda que tenha diálogos ocos vindo de praticamente todos as personagens, o senso de humor é um ponto forte e, mesmo nas cenas mais dramáticas e desequilibradas, acaba por funcionar. Jason Statham (Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw), por sua vez, é um astro da ação e não caminha tão bem assim quando o roteiro exige mais de seu lado sentimental, mas o ator entrega uma performance matadora sempre que entra em cena para momentos de lutas acrobáticas e perseguições desenfreadas. É Statham vivendo ele mesmo, com o diferencial de que agora está nas mãos de um diretor que sabe contornar suas limitações e extrair o suprassumo de seus músculos. Enquanto isso, Josh Hartnett (Penny Dreadful) infelizmente é subutilizado. 

A direção

Se tem algo que Guy Ritchie faz em Infiltrado é mesclar muito bem a ação sangrenta – que enche os olhos de fãs do gênero que habitam o mundo pós-John Wick – com comentários sociais pertinentes sobre até onde uma pessoa é capaz de ir movida por sua fúria cega e seu sentimento de incapacidade diante do mundo perverso e injusto. Mesmo que a jornada de aprendizado e luto do protagonista seja previsível e óbvia, o roteiro justifica seus atos violentos através de uma boa dose de comoção, sem cair (mas já caindo!) no tão irresponsável fetiche pela brutalidade como forma de entretenimento.

O personagem não é um herói e nem mesmo um anti-herói, ele é uma pessoa “comum”, transtornada de ódio e determinada em sua sua missão pessoal – como sugere o título. Já na parte técnica, em certos segmentos a montagem deixa bastante a desejar e a fotografia também não consegue ser tão imersiva quanto outros filmes do diretor. Quando o ritmo desacelera, às vezes a falta de interesse pesa e pode afastar o público na famosa “hora de ir ao banheiro”. Se o longa terminasse 10 minutos antes, o desfecho certamente seria muito mais coerente e satisfatório.

Conclusão

Em suma, Infiltrado é um thriller de ação sólido altamente brutal e estilizado, que entrega tudo que os fãs do gênero mais gostam e com o adicional de ter a condução eletrizante de um diretor inventivo. Mesmo longe de ser uma obra que perdurará o filme acerta em não tentar reinventar a fórmula, sobrando assim muito mais tempo para se divertir com ela e proporcionar bons momentos de ação louca e explosiva. Se for assistir esperando nada mais que um trivial filme de assalto com vingança, certamente irá se surpreender.

Nota: 7/10

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