Crítica | Tempo é um filme bom e não passa disso

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Se tem uma coisa que assusta as pessoas é o tempo. Sua ambiguidade, a forma como transcorre de forma única para cada pessoa, e, principalmente, os efeitos que tem nas pessoas. A velhice é uma companheira obrigatória da vida (para quem chega até lá) e, na maioria das vezes, uma não muito bem-vinda. E é a partir deste conceito curioso, instigante e tenebroso que M. Night Shyamalan apresenta seu novo filme.

Com uma trama que se desenvolve paulatinamente, Tempo conta a história de uma família que resolve passar férias em um resort paradisíaco e acaba conseguindo uma viagem exclusiva para uma praia deserta e rochosa, junto com algumas outras famílias. Depois de pouco tempo na praia, eles encontram um cadáver e percebem que o tempo passa de um jeito diferente ali, o que os força a correr para encontrar uma solução e escapar de lá.

É dentro desta trama relativamente simples e que não exige explicações mirabolantes sobre como a praia tem esses efeitos que o diretor e roteirista explora os conceitos bastante interessantes e metalinguísticos da história. O temor pela passagem do tempo quebra a barreira da saúde dos personagens em tela e também afeta o espectador, forçando-o a se imaginar dentro da mesma situação. Não só a velhice antecipada, mas uma puberdade e uma gravidez vividos dentro de minutos. Os diálogos entre as crianças, durante esse primeiro momento de mudanças significativas, são os melhores do filme todo, especialmente considerando a montagem diferente pela qual o diretor optou.

Com referências a clássicos de terror, até o momento em que toda a loucura da praia começa, sua câmera acompanha os personagens em enquadramentos imprecisos e os diálogos que seguem também vão na mesma linha, com frases de efeito e atuações dúbias – tudo intencional, mas não deixa de ser esquisito. Depois disso, quando o terror e a bizarrice tomam conta do filme, Shyamalan lembra muito mais a direção que optou por seguir em A Vila e com sua produção mais recente, Servant.

A discussão sobre velhice – que faz mais sentido do título original, Old – acompanha todo o trajeto dos protagonistas, do início ao fim, mas tem seu destaque na forma como Shyamalan consegue transmitir para a tela as tendências contemporâneas que as pessoas seguem para escapar das rugas e dos cabelos brancos. Uma das personagens do longa é uma modelo e, conforme vai envelhecendo no filme, ela se torna uma das aparições mais grotescas dentro da filmografia do diretor, e é curioso como sua estética remete a uma harmonização facial envelhecida e acabada.

Neste filme, é curioso como Shyamalan abre mão de um terror implícito e mais subjetivo – como fez em Sinais e A Vila – e aposta em cenas mais fortes, bizarras e grotescas, de um jeito até mesmo mais gore. De fato é evidência de uma tentativa de abordar um estilo de terror mais palpável – ao estilo Jogos Mortais ou O Chamado –, ainda que mantenha o mar e a própria praia como um personagem vivo e macabro, assim como foi feito com a vila. Neste caso em específico, a praia de Tempo é similar com o oceano de O Farol, vivo, ecoante e presente em todo o momento, sempre de forma incompreensível e sem respostas. No filme de Robert Eggers, entretanto, a presença misteriosa não traz como requisito nenhuma retórica e todos os aspectos sinistros e macabros permanecem no campo das teorias.

M. Night Shyamalan, por outro lado, com a expectativa que foi criada sobre ele de entregar finais com grandes plot twists e reviravoltas que ninguém esperava, segue uma norma escondida aqui e apresenta todos esses elementos prometidos de um jeito racional, lógico e encaixando bem na trama, mas o faz com pouca inspiração. O resultado é um final que faz sentido, responde as dúvidas, e deixa uma inquietação gigantesca sobre se este realmente é um bom filme do cineasta.

No fim das contas, Shyamalan é um refém da própria experiência e das expectativas que sua grande carreira criou. Tempo é realmente uma fuga do diretor para fora da zona de conforto e que te arrasta para a jornada sem descanso, te colocando na pele dos protagonistas. Por um lado, o cineasta te convida a enfrentar o medo da velhice de uma forma pitoresca e exagerada e que funciona, mas infelizmente não traz nada além disso. Considerando que M. Night Shyamalan é um diretor que nunca fica no meio termo, entregando filmes que ou são considerados clássicos instantâneos, ou são fortemente odiados, Tempo não é nenhum dos dois; é um filme bom, não passa disso – infelizmente.

Nota: 7/10

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