Crítica | Céu Vermelho-Sangue – Morcegos a bordo em pulsante suspense

Seria seguro presumir que o terror é o atual gênero favorito da Netflix – e o mais consumido por seus assinantes. Basta olhar para seus últimos lançamentos como Um Clássico Filme de Terror e a trilogia Rua do Medo. Essa leva de horror fora de hora – uma vez que outubro costuma ser o mês voltado para o gênero – curiosamente tem proporcionado obras interessantes e acima da média na plataforma, mesmo, claro, com problemas em diversos segmentos. A bola da vez é o suspense Céu Vermelho-Sangue (Blood Red Sky), que reconstrói a clássica história de vampiro para um contexto moderno e até mesmo plausível através de uma dose extra de originalidade. Mas será que o filme alemão tem mesmo força para decolar ou vai queimar assim que tocar o sol?

A trama e o elenco 

Para começo de análise, vale ressaltar que o enredo é ambicioso e os roteiristas estão cientes de que o público irá comparar a trama com o ótimo Plano de Voo, estrelado por Jodie Foster. De fato, o thriller da Netflix possui fortes semelhanças em sua estrutura inicial: uma mulher em um avião que precisa se salvar e salvar seu filho de terroristas. Porém, as comparações possuem vida curta quando a trama mergulha em seu mistério central e se mostra muito mais sombria e surreal do que o filme de 2005, afinal, trata-se se um filme sobre vampiros e mais que isso, vampiros sanguinários e violentos presos em um avião lotado de passageiros que atravessa o atlântico.

Ao se afastar de premissas parecidas, o longa não escapa, no entanto, de cair em outras histórias já conhecidas e talvez a mais notória delas seja o livro Noturno (The Strain no original), escrito pelo cineasta Guillermo del Toro (A Forma da Água) que, inclusive, virou até série de TV na Fox. Uma vez que se conhece a trama do livro, o filme alemão – que não possui relação alguma com ele – soa quase como um plágio descarado.

Mas vamos prosseguir sem mais comparações. Passada a primeira metade do longa, o suspense já está estabelecido e o público acompanha a jornada de uma mãe (vivida pela ótima surpresa Peri Baumeister) – infectada por uma espécie de vírus que a torna sedenta por sangue – que precisa salvar seu filho das garras de terroristas humanos que, por coincidência, pegaram o mesmo voo que ela. Dentro dessa aeronave dos infernos, a viagem da Alemanha para Nova York proporciona bastante sangue, desespero e luta por sobrevivência.

A narrativa – que demora vidas para tomar forma – ganha força quando descobrimos que a vampira não é, na realidade, a grande vilã, mas sim uma criatura consciente de que o “vírus” vampiresco não pode se sair daquele avião – como vemos acontecer na cena de abertura, que se passa no presente, com o voo aterrissando em segurança.

Dessa forma, as expectativas são subvertidas e a entidade maligna não é o maior dos problemas, especialmente quando a perversidade humana domina. Na luta entre sua bondade e instinto maternal vs. a necessidade de se alimentar, a protagonista surpreende e entrega até mais camadas do que se poderia esperar. O elenco de Céu Vermelho-Sangue (que incluí até mesmo Dominic Purcell, de Prison Break), por sua vez, está excepcional e os personagens são bem desenvolvidos, assim como as relações de afeto uns com os outros, elemento esse essencial para fazer filmes que se passam em apenas um ambiente funcionar e, no fim das contas, emocionar o público.

A direção

Talvez o maior dos problemas de Céu Vermelho-Sangue – que possui uma direção de fotografia marcante e ótimas cenas de ação, tendo em vista o orçamento mediano – seja o seu tempo de duração. Com meia hora a menos a trama certamente teria uma progressão melhor, mais intensa e pulsante. A narrativa é construída calmamente no início e apressadamente no clímax para o final, ou seja, se estende demais onde poderia ter um corte significativo. Ainda assim, o diretor Peter Thorwarth realiza um trabalho decente na construção do suspense e das intrigas, assim como entrega cenas de ação coerentes e bem filmadas para um local fechado.

As criaturas são medonhas (lembram o visual de vampiros clássicos como o Nosferatu e/ou os de 30 Dias de Noite) e o trabalho da maquiagem também merece bastante mérito. De forma curiosa e criativa, a trama proporciona a vibe de obras cultuadas – com vampiros mais sangrentos e fora de controle, como se o vírus dentro deles fosse o da raiva – mas traz as analogias para o contexto “pé no chão” de um voo convencional. Até mesmo o nome da companhia aérea (Translatlantic) remete à Transilvânia. Cada detalhe é feito com inteligência e fisga o espectador do começo ao fim, sem deixar cair na monotonia, apesar de sua duração desnecessária.

Conclusão 

Com isso, para nossa surpresa, Céu Vermelho-Sangue utiliza o horror visceral para incrementar um drama maternal que comove, mas também garante um suspense pulsante, repleto de criatividade e reviravoltas intrigantes que devem agradar os amantes das clássicas histórias de vampiros raiz. Com muito sangue, carnificina, cenas de ação agitadas e um bom elenco, a obra da Netflix só perde por ser extensa demais. Superado essa demora para pegar no tranco, a diversão e o entretenimento é garantido. Esses assustadores morcegos a bordo nem mesmo Samuel L. Jackson seria capaz de enfrentar.

Nota: 7/10

Gostou dessa notícia? Acompanhe sempre o site do Pipocas Club para não perder nenhuma novidade sobre filmes e séries. Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News.

Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso canal no Telegram.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você também pode gostar:

7 filmes e séries que chegarão na Netflix em Outubro Resistência – A próxima evolução do gênero em filme ambicioso Entenda as polêmicas por trás de Som da Liberdade Novo terror alienígena chegou hoje no streaming e está dando o que falar A Freira 2 segue no topo das bilheterias; veja o top 10 Chris Evans voltará a ser o Capitão América? Nosso Sonho – Batidas emocionais em filme para passar em Hollywood Milagre na Cela 7 é baseado em uma história real? Duna: Parte 2 é adiado pela Warner Besouro Azul é um fracasso?