Crítica | Space Jam: Um Novo Legado – A aventura mais surtada e divertida do ano

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Mexer com jogo que está ganhando é um risco eminente de colocar tudo a perder. Essa sensação de pisar em campo minado é comum toda vez que Hollywood resgata um clássico das prateleiras empoeiradas dos estúdios e dá a ele uma nova roupagem, mais moderna, mais dinâmica e, muitas das vezes, desnecessária, uma vez que o segredinho do sucesso está exatamente no charme de ser datado, de ser fruto de um momento singular no tempo, uma sociedade que só existe resquícios hoje em dia. Felizmente, para os fãs, esse não é o caso de Space Jam: Um Novo Legado (Space Jam: A New Legacy), uma mistura (que está bem na moda!) de sequência com reboot, já que o novo longa – que chega 25 anos após o original – reconhece a existência da primeira aventura, no entanto, se aprofunda ainda mais no “Multiverso” da Warner Bros.

Para as crianças, a diversão é genuína, na medida certa, e para nós, entusiasmados e temerosos com essa mistura propagandista de esporte com desenho animado, o resultado é como estar em um parque de diversões com ingressos ilimitados, caçando easter eggs a cada segundo. Funciona? Demais! Tem força para reverberar por anos como o primeiro? Certamente não.

A trama e o elenco

O mundo mudou e, mesmo que Space Jam: O Jogo do Século tenha sido lançado em 1996 e logo se tornado um absoluto sucesso de bilheteria na época, seu enredo era, na totalidade, vazio, seus personagens humanos atuavam vergonhosamente despreocupados e, no fim das contas, o filme servia mais para promover a NBA em seu auge do que qualquer outra coisa.

Nisso, o reboot consegue modificar algumas estruturas e trazer mais sentimento, emoção e coerência para esse universo maluco e repleto de metalinguagem e quebra da 4ª parede, afinal, a trama – que não se leva nada à sério – se passa dentro dos servidores da Warner Bros., lugar esse onde estão guardados todos os “mundos” do estúdio, tais como o universo DC, Harry Potter, Game of Thrones e, por último mas não menos importante, os Looney Tunes.

Os desenhos animados mais famosos do planeta, liderados por Pernalonga (que está bem mais maduro), agora são esquecidos nas vitrines do tempo, deixados de escanteio pelas crianças que estão consumindo animação 3D e não mais as maluquices de Gaguinho, Patolino, Piu-Piu, Frajola, Taz-Mania, Coiote, Papa-Léguas, entre outros (aliás, a versão dublada conta com as vozes originais dos cartoons no Brasil). Correndo o risco de serem deletados da realidade por uma cruel e gananciosa inteligência artificial da Warner (vivida por ninguém menos que o ótimo Don Cheadle) – focada na modernidade do estúdio para as novas gerações – eles se unem ao famoso e aclamado LeBron James – que substitui o papel que no original havia sido de Michael Jordan – para uma espetacular partida de basquete que mescla o jogo clássico com a tecnologia dos videogames de última geração. Quem ganhar, leva a chance de colocar seu plano em prática, seja para o bem ou para o mal.

Dessa premissa lunática, o roteiro mergulha inicialmente no drama familiar de James com seu filho mais novo, Don (Cedric Joe) ao seguir o clássico “meu pai não me entende/meu filho não quer seguir meu legado no esporte”. Esse aprofundamento nas relações humanas é a base para que a mensagem motivacional do desfecho funcione, uma vez que, no meio de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, o enredo consiga utilizar esse dilema de geração como carga emotiva. E isso, somado ao fato de que o “herói” é uma pessoa real, um esportista querido por todos e que interpreta uma versão de si mesmo nas telas, a conexão emocional não é difícil de ser alcançada.

LeBron atua modernamente bem – pelo menos melhor que Jordan – inclusive, até há uma piada sobre esportistas atuando no cinema que justifica seus momentos mais engessados. O roteiro e a trama em si não dependem de sua profundidade e, por conta disso, dá mais certo do que se poderia esperar. O foco e o carisma dessa obra está mesmo nos desenhos animados e suas personalidades conflitantes e raramente tediosas.

Assim como vemos em Detetive Pikachu, por exemplo, a mistura de nostalgia com renovação é bem-vinda. São os personagens que fizeram parte da nossa infância, mas também são eles por um novo ponto de vista, mais coerente e eficaz nesses tempos, afinal, o mundo Looney é pautado por ser cartunesco, irreal e sem leis da gravidade. Tudo isso existe aqui e esse conceito é tratado como uma singularidade especial, que serve também para deixar a partida de basquete ainda mais alucinante e divertida.

Passado o drama, não demora muito para Space Jam: Um Novo Legado mergulhar no multiverso da Warner e suas inúmeras possibilidades de referências (incontáveis até!), que vão desde uma cena fantástica em live-action com Mad Max, passando por uma divertida da Vovó no mundo de Matrix e até mesmo no clássico Casablanca. De Hogwarts à Westeros, todos os grandes filmes e séries do estúdio fazem uma pontinha que seja na jornada dos protagonistas e o senso de humor está um delírio à parte. Praticamente todas as piadas e sátiras funcionam e dão um gostinho bastante criativo ao roteiro, que consegue ser mais do que uma propaganda do tipo “assinem a HBO Max para ter todos esses mundos juntos” e passa a ser uma carta aberta de amor ao cinema e aos profissionais que fazem esses filmes, algo parecido com o que Jogador Nº 1 havia feito alguns anos antes.

A direção

Ao nos afastarmos de qualquer justificativa coerente sobre a existência desse multiverso e as decisões rasas – porém cabíveis – dos personagens, é relativamente fácil suspender a descrença e embargar nessa aventura.

Os efeitos especiais são um show à parte. Tanto o CGI dos inúmeros cenários futuristas, quanto a mistura superdivertida de animação 2D com 3D, tudo funciona especularmente bem. A interação dos cartoons com os personagens em live-action é convincente e há química entre todos eles. Cada desenho tem seu momento de brilhar (meu favorito é o Gaguinho e sua batalha de rap, hilário!) e a união de todos deixa a partida do jogo – que se arrasta por muito tempo – bastante imersiva e absurdamente cômica.

Ademais, a fotografia viva e colorida e a trilha sonora – que toca temas clássicos (como “Edwiges’ Theme”, sim fãs de Harry Potter, há bastante referência ao mundo bruxo!) quando a trama adentra nos mundos específicos – é de ir ao delírio na poltrona do cinema. E poucos filmes fazem isso de forma tão natural hoje em dia.

Já dentro das reformulações, fora a presença adequada de jogadoras da WNBA – a liga feminina de basquete – Lola Bunny (agora dublada por Zendaya), que havia sido hiper-sexualizada no original, retorna guerreira após passar alguns anos treinando com as Amazonas para se tornar uma heroína ao nível da Mulher-Maravilha. E ela rouba a cena como a mais inteligente e estrategista do grupo. Há também bastante representatividade consciente através de um elenco majoritariamente negro.

A mensagem central de Space Jam: Um Novo Legado, sobre “ser o que você quiser ser”, faz desse um filme-família que, para nossa surpresa, possui algo a acrescentar além de pura diversão megalomaníaca. Apesar de manjar mais de comédias escrachadas como Todo Mundo em Pânico 5, o diretor Malcolm D. Lee definitivamente se supera e entrega uma condução enérgica, um enredo movimentado e planos sofisticados, mas caóticos em determinados momentos.

As cenas de ação, com ritmo apressado, cansam, especialmente por conta da busca incessante por easter eggs nos backgrounds, como King Kong, o Gigante de Ferro, Scooby-Doo, os monstros do Invocaverso e até uma participação especial de Rick and Morty e de um ator famoso que vira e mexe é confundido com um astro do basquete em uma das cenas mais surtadas do filme. Como dá para perceber, os executivos de marketing da Warner estavam realmente em um parque de diversões.

Conclusão

Com isso, apesar das peculiaridades caóticas da direção e um enredo levemente menos raso que o original, Space Jam: Um Novo Legado é o típico filme-família com mensagem motivacional, um verdadeiro espetáculo moderno que certamente irá agradar os fãs ao mostrar como se faz uma sequência decente de um clássico.

Quando eleva sua premissa lunática para abrir as portas do divertidíssimo multiverso da Warner Bros., entrega também a caçada por easter eggs mais empolgante dos últimos anos. Há bom humor, há nostalgia e há espaço para contrapor o antigo com o contemporâneo sem que nenhum saia perdendo, afinal, o que realmente importa não é ganhar o jogo em si, mas sim, se divertir no processo. E pode apostar que aqui a diversão é garantia de sucesso. Você quer Multiverso, Marvel Studios? Então presta atenção como se faz!

Nota: 8/10

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