Crítica | Paternidade – Comédia doce e madura sobre ser pai solo

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De fato, Paul Weitz (American Pie, Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família) é um cineasta que ocasionalmente consegue encontrar coração nas comédias convencionais. Mesmo em besteirol, o diretor mergulha em temas mais profundos como maturidade, descoberta sexual e agora, paternidade, mais precisamente sob um olhar ainda pouco explorado nos cinemas: as peripécias de ser um pai solo.

Em Paternidade (Fatherhood), drama da Netflix sobre o tão controverso assunto, o diretor não apenas monta um conto dolorosamente adorável e repleto de significado, como também consegue fazer o que parecia ser impossível: extrair uma atuação madura e dramática de Kevin Hart (Jumanji). Sem sombra de dúvida, a melhor de sua carreira.

A trama e o elenco

Através de um humor preciso e pitadas de emoção entre as risadas, a trama acompanha a vida de Matt (Hart), um técnico que está prestes a ter seu primeiro filho com sua esposa Brenda (vivida por Rachel Mutombo de The Bold Type) e, após algumas tentativas de atrasar a chegada da criança ao mundo por benefício próprio, se vê na complexa – e aterradora – tarefa de ter que criar sua filha sozinho e, com isso, ter que mudar sua rotina de farra e sua vida pacata para sempre após ficar viúvo de forma inesperada.

Ao seguir por um ponto de vista pouco comum – o do pai solo – o roteiro da dramédia, inspirada em uma história real que serviu de base para o livro Dois Beijos para Maddy: Uma história real de amor e perda, do autor Matthew Logelin, sabe muito bem dosar as reflexões mais densas com o humor simples, extraído de atuações genuínas e situações bastante convencionais para um pai de primeira viagem – ou para qualquer pessoa que precisa lidar com o fato de criar um ser humano do zero.

Ao colocar um ator de comédias escrachadas como o ponto central dessa jornada, que necessita ser mais emocional, o risco era alto, porém, Hart contorna seu senso de humor caricato e deixa sua persona cômica em casa, uma vez que atinge ótimos momentos de drama e entrega uma performance bastante convincente, longe do exagero que costuma fazer e notavelmente mais contido e imerso no papel. Uma surpresa.

O restante do elenco, por sua vez, também está ótimo, especialmente Lil Rel Howery (Corra!) e a pequena Melody Hurd e toda a sua doçura. Há tiradas astutas sobre o homem, visto como o provedor do lar “convencional”, ser o elo que mantém a família de pé e como Matt experimenta na pele o sentimento de milhões de mulheres que são abandonadas por seus maridos e precisam criar uma ou mais crianças sozinhas e ainda trabalhar. A figura paterna, geralmente pouco afetuosa no cinema, ganha uma delicadeza excepcional e, sem passar pano para erros machistas, mostra como um homem pode (e deve) ultrapassar as barreiras da masculidade frágil e baixar a guarda.

A direção

Ao apelar para o lado emocional, o diretor Paul Weitz acerta principalmente no equilíbrio entre os sentimentos e no ritmo instigante, que não permite a trama perder seu entretenimento nem mesmo quando entra nos importantes momentos de reflexão. Essa habilidade contorna as previsibilidades do roteiro – que de fato é simples e direto ao ponto – e a falta de surpresas das reviravoltas e converte esses problemas em combustível para a fofura da relação de descobertas entre pai e filha. Com isso, até os clichês são compreensíveis e não pesam tanto assim para o desenrolar da trama.

A trilha de Paternidade segue adequada e a parte técnica, como a excelente fotografia, auxiliam a construir esse ambiente inóspito na vida do protagonista e como o amor – em seu mais puro estado – inesperadamente preenche seus espaços vazios.

Conclusão

Para nossa surpresa, Paternidade é sincero e funciona perfeitamente como uma comédia madura e repleta de ternura sobre os desafios de deixar a masculinidade frágil de lado para ser um pai solo. Mesmo com previsibilidades, Kevin Hart está excepcional e isso é um elogio raro em sua carreira de baixos e nulos. O elenco faz a emoção ser real e o humor preenche nosso coração com facilidade, de longe, o melhor filme para assistir no Dia dos Pais que a Netflix já produziu.

Nota: 7/10

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