Crítica | Sem Remorso – Talento de Michael B. Jordan desperdiçado em thriller grosseiro

É realmente amargo que os talentos do astro Michael B. Jordan (Creed), um dos melhores atores de sua geração, tenham sido desperdiçados com uma adaptação tão trivial do romance de Tom Clancy – autor das aventuras de Jack Ryan – , em Sem Remorso (Without Remorse), que está chegando agora ao Amazon Prime Video. O longa é aquele tipo de filme de ação que segue o genérico manual passo a passo de como fazer um thriller convencional, sem que haja qualquer diversão ou pensamento inovador dentro do gênero, restando apenas uma atuação poderosa do protagonista, perdida dentro de uma enxurrada de previsibilidades e incoerências de um enredo mal executado.

A trama e o elenco

Na premissa de Sem Remorso, com base no livro publicado em 1993, Michael B. Jordan vive o respeitado John Kelly, militar de operações especiais, que, após voltar de uma missão secreta, vê seus companheiros serem assassinados juntamente à esposa grávida, o que dá corda para se iniciar uma busca desenfreada por justiça, que mescla vingança pessoal e ódio em um enredo puramente envolvido e sustentado pela violência. Acontece que muito da trama encontra-se datada nos dias de hoje e sua adaptação talvez tenha acontecido longe demais de quando esse tipo de história patriótica costumava fazer mais sentido, já que conspirações governamentais e corrupção da sociedade anda empenhando enredos enraizados nas fórmulas genéricas e que apresentam poucas novidades realmente contemporâneas.

Como um boa história de origem para o herói John Kelly (ou John Clark), agora vivido por um homem negro após já ter sido interpretado nos cinemas por nomes como Willem Dafoe e Liev Schreiber em Perigo Real e Imediato e A Soma de Todos os Medos, respectivamente, definitivamente o personagem ganha mais fôlego e independência das histórias de Jack Ryan e se prova realmente digno de uma trama própria, porém, o roteiro possui dificuldades de provar o valor do protagonista em sua própria narrativa e centraliza as energias na ação desenfreada e não tanto assim no desenvolvimento emocional do mesmo, que passa a ser unidimensional, assim como os vilões previsíveis e as reviravoltas de revirar os olhos. A dinâmica do protagonista com os coadjuvantes – especialmente com o engessado Jamie Bell (Rocketman) – torna-se mecânica demais e, no fim das contas, não convence.

A direção

Surpreende o fato de que o italiano Stefano Sollima, nome por trás de ótimos filmes como Suburra e Sicario 2, desempenha uma condução tão sem substância como em Sem Remorso, ainda que saiba trabalhar muito bem o carisma do protagonista. Falta dinâmica e ousadia nas cenas de ação (que estão super escuras) e na construção da atmosfera de suspense, já que parte do clima dessa obra necessita desse ambiente intrigante e nervoso para funcionar, envolver o espectador e, por consequência, repercutir.

Fora isso, há um afastamento do material de origem que deve desagradar bastante os fãs mais apaixonados e tradicionalistas, mesmo que algumas decisões do roteiro e da direção façam mais sentido nas telas. O livro é ambientado na era do Vietnã, com grande agitação política, mas aqui, isso foi atualizado para a década da justiça social. O ritmo, por sua vez, desesperadamente apressado e a ânsia para desenvolver um franquia, acabam colocando todos os esforços a perder logo no primeiro capítulo de algo que, visivelmente, será muito maior e, claramente, mais problemático.

Conclusão

Com isso, a trama é Sem Remorso? Talvez! Mas não deixa de ser um grosseiro Filme B que desperdiça o talento nato de Michael B. Jordan e proporciona uma migalha de diversão. O material original é retrabalhado para ser um thriller básico de vingança, mas que possui pouco pelo qual Clancy é conhecido. Tem muito pouco de espionagem, ciência militar e tecnologia, ou seja, pode não ser um começo assim tão promissor para uma franquia, mas certamente deve distrair quem busca uma história rasa para desligar a mente por algumas horas.

Nota: 5/10

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