Crítica | Fúria Incontrolável – Um estúpido dia de fúria com Russell Crowe

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A epidemia de raiva que assola o mundo é a base para construção da trama rasa de Fúria Incontrolável (Unhinged), o novo thriller do Amazon Prime Video que tem como protagonista um vilão pavio curto em uma cidade sem a menor paciência para conflitos diários. Essa união inflamável faz nascer uma história bastante inspirada em Um Dia de Fúria, de 1993, porém, em um contexto mais contemporâneo, algo que facilita a propagação de ódio entre as pessoas, afinal, um simples gesto – como buzinar – pode despertar uma caçada desenfreada por vingança. Tá, ok, tudo bem que a premissa não está lá assim tão longe da realidade, especialmente com a correria diária e o cansaço dos seres humanos em ter que lidar uns com os outros, mas convenhamos que é preciso suspender muito a descrença para engolir tantos exageros desse roteiro preguiçoso.

A trama e o elenco

Sem muita introdução, a trama já nos coloca no contexto de que existe um assassino sangue frio que possui total descontrole de sua raiva e passa seus dias descontando todo seu rancor em pessoas aleatórias pela cidade. Para viver esse sujeito, Russell Crowe (com um visual bastante trabalhado para ser a personificação do maluco creepy) é escalado para o papel e até entrega bastante veracidade, ainda que seja um vilão/protagonista vazio em camadas e sua única motivação seja, de fato, perseguir pessoas “ingratas” por aí. Certo dia, a vida de uma jovem e seu filho esbarra nesse caos ambulante e, a partir desse ponto, a narrativa se intensifica, já que o maníaco furioso começa uma perseguição alucinada com o intuito de fazer ambos sofrer. E é isso. Dessa premissa superficial, pouca coisa boa é extraída, sendo o elenco a maior qualidade do filme.

A atriz Caren Pistorius (Máquinas Mortais) é boa e cumpre o papel de ser a jovem indefesa sem grandes ápices, assim como o menino Gabriel Bateman (Brinquedo Assassino), também um bom ator da sua geração e que geralmente entrega performances mais emotivas. Em Fúria Incontrolável, é pouco aproveitado, mas serve de alimento para os perigos da trama. Aliás, põe perigo nisso, já que o filme é altamente coberto de cenas violentas, bem realizadas por sinal. A ação, por sua vez, recheada de cenas de perseguição de carros, serve para manter o espectador acordado, ainda que sejam repetidas à exaustão. Até mesmo os cenários da cidade são constantemente os mesmos, em uma fotografia brega com filtro azulado. Fora isso, o roteiro enfraquece com o desenrolar da narrativa e, tanto as reviravoltas, quanto as decisões dos personagens, são estúpidas e infundadas.

A direção

Não que o diretor Derrick Borte (Caminhos de Sangue) tenha alguma preocupação com a coerência, mas há momentos difíceis de digerir de tamanha preguiça do roteiro em desenvolver conflitos mais cabíveis. Na construção de suspense, o cineasta até manja de ritmo e dilata o tempo para instigar a curiosidade do público, algo que faz o filme ter momentos divertidos e um começo bastante promissor, porém, quando a premissa se esgota – e isso não demora muito – Borte não sabe por qual caminho seguir e apela para violência gráfica e corrida de carros pela cidade para despistar perguntas como “que p*rra esse cara está fazendo?” e “não é possível que NADA o mata”. Em certo ponto, quando tudo é possível de acontecer, o vilão humano se torna quase que um assassino slasher aos moldes de Michael Myers e, mesmo que Russell Crowe tenha fôlego para tal papel, perde a graça no instante que percebemos que o roteiro irá protegê-lo de qualquer mal até o desfecho.

Conclusão

Por conta disso, Fúria Incontrolável é um thriller sem cérebro, que desperdiça a sagacidade de Russell Crowe em um vilão totalmente desequilibrado e sem princípios, mesmo com potencial para fazer algo bastante brutal e perturbador dentro dessa premissa de Um Dia de Fúria. Proporciona diversão por algum tempo, mas logo abre espaço para o tédio e a falta de coerência por conta de tantas situações irreais que o roteiro se compromete a fazer. Um filme vazio, feito para se perder a fé na humanidade. Será que é isso mesmo que estamos precisando nesse momento?

Nota: 5/10

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