Crítica | Silenciadas – Muito mais do que um filme sobre bruxaria

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A maior qualidade de Silenciadas (Coven of Sisters), novo drama espanhol da Netflix, está na decisão de contar uma história, que por anos rendeu frutos para o cinema de horror, através de uma vertente dramática bastante útil, especialmente com as mudanças que a indústria do cinema vive atualmente. Vilanizar bruxas na cultura pop apenas replica misticismos ultrapassados e uma das mais absurdas e violentas crenças que o mundo já proporcionou. Felizmente, algumas obras recentes estão remando contra a maré nesse assunto. Isso, por si só, já merece atenção. No entanto, a progressão demasiadamente lenta atrapalha a conexão direta do espectador com essa trama mais sentimental.

A trama e o elenco

Tendo como base lendas que datam do Século XVI, a trama acompanha um grupo de meninas que são caçadas e aprisionadas durante a perseguição às bruxas. Membros locais e da Igreja acreditam que a jovens são adoradoras de Lúcifer e que precisam ser julgadas pois tais crimes, porém, conforme a história progride, o roteiro deixa claro que as meninas estão sofrendo apenas por serem mulheres, algo que se repete até os dias de hoje. O roteiro, bem executado, acerta em fugir do óbvio e desenvolve uma relação extremamente profunda entre as personagens e como são inocentes no mundo perverso dos homens. Com senso de humor irônico, o clima denso abre espaço para mais reflexão e menos terror, apesar da ambientação ser propícia ao gênero. As florestas escuras e a densidade da atmosfera são ótimas para um conto das bruxas tradicional, mas o drama assume o controle de forma brilhante.

O elenco de Silenciadas, por sua vez, cumpre o objetivo e conquista com facilidade. As jovens, em especial Amaia Aberasturi, são realmente cativantes. A química do grupo envolve e nos faz sentir suas dores e angústias, ao mesmo tempo que também permite rir dos absurdos que são expostos e de como a caça às bruxas do passado havia sido fundamentada em mentiras odiosas, preconceitos e machismos. Com a forte mensagem por debaixo das camadas irônicas, o roteiro faz um recorte de uma época que nunca se extinguiu e permite um paralelo com os tempos atuais. Porém, a perda de ritmo é clara e a trama desgasta sua energia muito rapidamente ao prolongar o momento das jovens em cativeiro e encurtar o clímax que estava sendo prometido. A narrativa segue por altos e baixos, mas quando está no fundo, demora para se reerguer.

A direção

Apesar do orçamento modesto, o cineasta argentino Pablo Agüero (Eva Não Dorme) consegue conduzir bem a trama e foca sua maestria em desenvolver a relação das meninas com o mundo e como a liberdade feminina apavora homens estúpidos. Seu olhar sensível proporciona bons momentos de diálogos e até consegue agregar leveza dentro de um contexto completamente sinistro e pautado pela violência. No entanto, como já citado, o diretor pesa a mão no ritmo lento e arrasta diversos momentos que poderiam ter sido mais coesos. Essa falta de equilíbrio sem dúvida afeta o envolvimento do público e deve afastar quem espera, por conta da temática, um filme de terror convencional. Apesar disso, o desfecho majestoso transforma as jovens nas vilãs que elas tanto eram taxadas, afinal, “homens tem medo de mulheres destemidas”.

Conclusão

Inesperadamente divertido, Silenciadas é uma sátira inteligente sobre a ridícula histeria da caça às bruxas. Um conto contemporâneo bem executado e, ao mesmo tempo, modesto para uma premissa sobre esse tema. No entanto, mesmo com atuações evocativas e uma direção imersiva, o ritmo falha e deve afastar parte do publico que busca uma história convencional dentro desse conteúdo.

Nota: 7/10

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