Crítica | A Escavação – Performances poderosas em drama de época

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O enredo simples e direto ao ponto de A Escavação (The Dig), novo drama original da Netflix, acaba sendo sustentado pela força de seu elenco e pela condução apreciativa de uma direção que deixa a narrativa se desenvolver em seu próprio tempo. Ainda que cansativo para parte do público acostumado com entregas mais ágeis, o longa não perde força conforme avança em sua história, muito pelo contrário, se torna gradativamente mais interessante, porém, claro, acaba não desviando de alguns problemas que empobrecem o roteiro e transformam a experiência em algo mais contemplativo do que envolvente.

A trama e o elenco

Tendo como base uma história verídica por trás, sobre uma das descobertas arqueológicas mais importantes de todos os tempos, a trama reimagina os eventos da escavação de Sutton Hoo em 1939, na Inglaterra, enquanto acompanha a trajetória de Basil Brown, um arqueólogo amador (vivido pelo eterno Lord Voldemort, Ralph Fiennes) em sua busca por artefatos históricos que datam do Século XI, ao mesmo tempo que se encanta por uma rica viúva proprietária do terreno escavado, vivida pela talentosíssima Carey Mulligan (Bela Vingança), uma das melhores atrizes de sua geração.

Nessa ambientação às vésperas da Segunda Guerra Mundial, conforme a grande escavação avança, o sutil romance entre os dois se torna mais intenso, assim como a solidão de ambos. O roteiro faz um bom trabalho em simplificar a jornada e apenas deixar que a excelente química entre os personagens assuma o controle, mesmo que tenha pouco desenvolvimento, especialmente do elenco secundário, como o romance proibido da jovem Peggy (Lily James) e o desejo sexual de seu marido, Stuart (Ben Chaplin) por outro homem.

Dentro dessa simplicidade, o longa utiliza boas locações e situações emocionais para construir a atmosfera do lugar e o sentimento dividido de seus protagonistas, bem como desenvolve a importante mensagem sobre preservação da história para gerações futuras, a cobiça de instituições apenas em benefício próprio e como o tempo apaga os vestígios de vidas massivas que já existiram nesse planeta. Porém, os deslizes estão em seu ritmo mais lento e no excesso de sensibilidade que a direção escolhe dar para cada momento, sem saber dosar com algum senso de humor ou mesmo um romance mais estruturado e menos nas entrelinhas, ainda que as atuações de Mulligan e Fiennes sejam magnificas e carregadas de sutilezas, que quebram alguns clichês do gênero, principalmente pelo fato de que ambos sabem que aquele suposto romance, que está crescendo, será algo finito, já que a personagem de Mulligan tem uma doença grave e está em estado terminal.

A direção

Com olhar sensível e o uso de câmera na mão em uma vibe Terrence Malick (A Árvore da Vida), o diretor australiano Simon Stone (A Filha) acerta em não correr com o desenvolvimento das situações, mas acaba por dilatar demais o tempo em momentos menos interessantes, enquanto poderia trabalhar com mais ânimo outros mais, digamos, envolventes. Ainda assim, o diretor sabe moldar o drama com as pitadas de romance e visivelmente dá liberdade para o elenco ter uma performance livre das amarras do roteiro. O visual, por sua vez, remonta a época com bastante maestria, seja nos figurinos impecáveis ou na fotografia densa, comum em filmes de guerra. A parte técnica, sem dúvida, auxilia para que a trama não caia na completa monotonia.

Conclusão

Da audaciosa prateleira de filmes reflexivos com desenvolvimento lento, A Escavação estabelece um drama de guerra com pitadas de romance de época, mas se sustenta mesmo pela força magnífica de seu elenco principal, enquanto explora, com destreza, as relações humanas que permearam uma das descobertas arqueológicas mais importantes da história moderna. Definitivamente uma surpresa agradável, ainda que esteja distante de ser um filme memorável no vasto catálogo de obras medianas da Netflix. Ainda assim, mesmo lento quase parando, esse vale o tempo gasto.

Nota: 7/10

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