Crítica | Duas Por Uma – Desperdício de talento em dose dupla

A boa e velha dinâmica da troca de identidade é feita em ‘Duas Por Uma’ (The Stand In), nova comédia Original da Netflix, com o maior cinismo possível desse tipo de obra. Apesar do carisma de Drew Barrymore (As Panteras) e seus esforços para fazer a comédia decolar, a fórmula “feijão com arroz” perde energia muito cedo e esgota todas as possibilidades de “brincar” com a premissa. Ainda que batida e previsível ao quadrado, há boas ideias na trama e uma crítica pertinente (e ácida) à indústria do cinema e ao “star system” de Hollywood.

A trama e o elenco

Como forma de fazer uma autocritica até mesmo a sua carreira de sucesso na comédia, Drew Barrymore aproveita o espaço para entregar uma atuação média, que vai do drama ao humor exagerado e que se extrapola no terceiro ato. A atriz consegue desenvolver trejeitos que diferencia uma personagem da outra e, diferente de filmes sem coerência alguma, como a franquia ‘A Princesa e a Plebeia’, aqui o fato de ser duas pessoas “iguais” ultrapassa o previsível “irmãs gêmeas” e até faz sentido, já que, na trama, Paula é a substituta de cena de Candy Black, ex-atriz famosa no ramo da comédia que caiu em decadência após se envolver em diversos escândalos e ser colocada na geladeira da indústria do cinema (um paralelo talvez com a carreira de Katherine Heigl e como Hollywood a “cancelou”).

Justificada a aparência da dupla, agora o roteiro só precisa desenvolver uma trama concisa dentro dessa temática e consegue, em partes, especialmente no começo da história e na dinâmica entre as duas personagens, porém, o trem sai dos trilhos muito cedo e a mudança abrupta de intenção de Paula, que se transforma na grande vilã, não faz o menor sentido. Na intenção de surpreender o público mais entusiasmado, o roteiro entrega uma reviravolta novelesca fajuta que apenas expõe a fragilidade do roteirista em construir uma história tão simples e boba como esta. E, além de Barrymore, ninguém mais no elenco se destaca ou merece devida atenção.

A direção

A trabalho de Jamie Babbit (Turminha das Sapinhas de Tetinhas Pequeninas – sim, o título nacional é esse mesmo!) começa bem, quando explora a solidão do artista e a decadência de uma carreira de sucesso, porém, é completamente incompetente em manter um ritmo e em elaborar, com mais eficiência, os dilemas das personagens e o contexto da história. O drama é resolvido muito apressadamente, sem contar que falta humor. Depois do exagero inicial, que parecia ser consciente, a graça se dissipa e nenhuma piada funciona. Toda presepada é constrangedora de ser assistida, especialmente por conta da mudança brusca na personalidade das protagonistas e na forma meia boca em como o longa escolhe encerrar sua história, subvertendo as expectativas e invertendo o vilanismo, algo que só funciona na teoria.. ou em novelas mexicanas melodramáticas.

Conclusão

Com isso, Drew Barrymore se esforça em dobro para subverter a fórmula, mas ‘Duas Por Uma’ não deixa de ser uma comédia saturada, que falha em sua sátira e que falta substância para fazer o humor funcionar. Apesar do carisma da atriz, a presepada é desagradável de ser assistida e multiplica seu fracasso por duas personagens irritantemente mal construídas. Mais uma vez a Netflix prova que filme em dose dupla é passar vergonha em dobro.

Nota: 3

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você também pode gostar: