Crítica | A Festa de Formatura – Musical artificial com desperdício de elenco

De todos os gêneros mais populares, o musical é o que têm mais sofridos com a mudança de geração e a forma como o público atual consome cinema. A dinâmica desse tipo de obra necessita de bastante carisma para se sobrepor ao seu público-alvo e conquistar a grande maioria e, na contramão dessas mudanças, as produções insistem em manter a estrutura do passado. Por conta disso, pela ausência de novidade e/ou excesso de estereótipos, o gênero se afunda no desgaste e não se ajuda, como acontece com o superficial ‘A Festa de Formatura’ (The Prom), adaptação cinematográfica da Netflix de um popular musical da Broadway, que teve sua estreia em 2016. O tema em si é tão relevante e contemporâneo, que o musical, diferente de outros clássicos, está ganhando um filme muito antes do habitual, porém, enquanto se torna cada vez mais rico de valores e mensagens sobre inclusão e aceitação, peca pela forma artificial e rasa em como lida com cada um desses temas.

A trama e o elenco

Ao seguir o padrão narrativo de outras obras de seu diretor, Ryan Murphy (Glee, Pose, American Horror Story), que diga-se de passagem caiu como uma luva nesse musical, já que sabe lidar com a temática LGBTQ+ e com obras guiadas por música, o longa se excede em duração (mais de 2 horas de filme musical é complicado) em contraponto à sua falta de conteúdo para manter a trama relevante por tanto tempo. Diferente de obras como ‘La La Land’, por exemplo, que constrói uma história fechada e que também funciona sem as canções, ‘A Festa de Formatura’, por sua vez, necessita da música para elevar o nível de qualidade de sua premissa e isso transforma todo o restante do texto, incluindo os momentos de diálogo, em um aglomerado de frases de efeito superficiais, declamadas por um elenco estelar, mas que não agrega valor algum. E olha que os nomes de peso são figurinhas carimbadas. A sensação é que todos estão constrangidos com a falta de substância da produção e o texto parece ter sido pensado para um público que nunca teve contato com uma pessoa LGBTQ+ na vida.

Dito isso, no enredo, Dee Dee Allen (Meryl Streep), aclamada vencedora do Tony Award, faz parceria com Barry Glickman (James Corden) em um musical sobre a primeira-dama Eleanor Roosevelt, que acaba fracassando entre a crítica especializada. Por conta dessa derrota, a dupla decide encontrar alguma caridade para apoiar e resgatar seus valores. Eles juntam esforços com a veterana do teatro da Broadway, Angie Dickinson (Nicole Kidman), e com o ator Trent Oliver (Andrew Rannells). Até que encontram uma causa em Emma (Jo Ellen Pellman), uma estudante do último ano proibida de levar sua namorada Alyssa (Ariana DeBose) ao baile de formatura. O quarteto da Broadway viaja para a pequena cidade do interior para ajudar as adolescentes nessa missão.

Bem, dentro dessa proposta, o roteiro possui sérias dificuldades em provocar emoção e acaba se excedendo no humor, que não decola como deveria. As performances são espalhafatosas (por mais que isso seja aceitável em musicais) e repletas de exageros, assim como as atuações. Streep está ótima por ser Streep, mas sua personagem só serve para atrair público. Kidman não faz nada além do convencional e James Corden é péssimo e deveria desistir de fazer musicais após o desastroso ‘Cats’, aliás, fazer dois musicais ruins em menos de dois anos não é para qualquer um. Com isso, sobra apenas o núcleo teen da jovem Emma, que parece ser uma remake de ‘Glee’ sem tirar nem pôr.

A direção

Que Ryan Murphy é um visionário, todos sabemos, mas seus trabalhos são extremamente semelhantes, infelizmente, até nos mesmos erros que comete. A tecla de mais inclusão que tanto bate é sim essencial, porém, seu foco é tão grandioso em criar obras para serem devoradas pelos olhos, que esquece de fazer uma trama que flui de forma natural. Além disso, o mundo gay que geralmente constrói é didático, o que é bom, mas carregado de estereótipos e clichês que cansam. A direção de arte, figurino e fotografia em A Festa de Formatura são puro deleite (algo comum na filmografia de Murphy) e funcionam para recriar a ultra felicidade dos palcos da Broadway, com suas explosões de cores, luzes e brilhos, para compensar a falta de encanto das canções, facilmente esquecidas após a exibição.

É glamour para todos os lados e, por conta desse aspecto, o longa não perde o espectador de início, mas sua história não progride com a naturalidade e emoção que o roteiro acredita ter. Todos os pontos alfinetados são vagos, ensaiados demais. Há muito mais melodrama do que o necessário e isso faz parte do objetivo de Murphy em comover o público a qualquer custo, fora o fracasso em dar aos personagens (que são muitos) arcos narrativos que não funcionam.

Conclusão

Ainda que sua mensagem tenha grande valor, ‘A Festa de Formatura’ é extravagante e puro exagero melodramático em forma de um musical artificial, sem ritmo e com canções rasas. É grandioso em qualidade técnica, mas desperdiça o melhor elenco de Hollywood com uma trama que têm mais êxito na Broadway. Para os amantes de musicais, não é um completo desastre como ‘Cats’, mas para quem torce o nariz, essa aposta da Netflix dificilmente vai fazer mudar de ideia.

Nota: 6

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