Crítica | Enquanto Estivermos Juntos – Romance cristão amarga de tão doce

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Ao pegar os embalos do sucesso de ‘Nasce Uma Estrela’, o romance cristão ‘Enquanto Estivermos Juntos’ (I Still Believe) narra a cinebiografia do músico Jeremy Camp e seu relacionamento conturbado com uma jovem que marcou sua trajetória e serviu de musa inspiradora para seus maiores sucessos. Porém, diferente do projeto dedicado da Lady Gaga, esse aqui força a emoção do público através de situações desesperadas e uma jornada apressada para cobrir diversos momentos da vida do cantor, sem parar para mergulhar mais a fundo em conflitos reais. O longa, de quase duas horas de duração, soa bem mais como uma grande propaganda de autopromoção do que uma obra que realmente sirva para passar qualquer mensagem motivacional.

A trama e o roteiro

Como um produto desenvolvido para atingir um público religioso em sua grande maioria, o roteiro de Enquanto Estivermos Juntos até que equilibra bem seu tema central, que é a fé e a espiritualidade, com um romance água com açúcar todo trabalhado na fórmula “amor à primeira vista”. Nessa trama, Jeremy, vivido por KJ Apa (Riverdale) é um jovem otimista e feliz com a vida, que sonha em se tornar um grande músico gospel de sucesso ao cantar sobre suas experiências com a religião, porém, ao conhecer Melissa, interpretada por Britt Robertson (Uma Longa Jornada), e se apaixonar perdidamente, sua rotina começa a mudar, afinal, a jovem está doente e tem pouco tempo de vida ao seu lado.

Dessa premissa genérica, tirada diretamente dos romances dos anos 1990 (ainda que seja baseada em fatos), o roteiro de Enquanto Estivermos Juntos extrai todo o sentimentalismo possível da dor provocada pelo luto e do otimismo de uma possível cura, para levar o público a um nível de emoção extremamente forçado, porém, bem sucedido em comover, especialmente por conta da boa química do casal e da forma, sábia, em como conduz os momentos de tristeza através das canções carregadas de melancolia e palavras de esperança.

O elenco, por sua vez, está condizente com o que a trama propõe, ainda que o romance entre eles seja enjoativo e a história não saiba desenvolver conflitos. Há apenas uma única virada no roteiro: Melissa vai morrer. E todo o restante começa a orbitar em torno dessa revelação, fazendo com que o filme dê voltas e mais voltas ao redor desse acontecimento e dilatando o máximo possível a dor do casal em prol de, desesperadamente, sensibilizar o espectador. Em pouco tempo, o cansaço vence e nem mesmo as canções, que são boas até, conquistam. KJ Apa, em especial, necessita cantar e interpretar e não faz feio, mas também não se destaca o suficiente para ser lembrado em qualquer temporada de premiação. Ainda que seu esforço seja evidente, fica faltando carisma.

A direção

Se por um lado, a emoção é trabalhada minuciosamente, por outro, nada realmente é aprofundado. O ritmo da narrativa faz o relacionamento do casal ser algo corrido, as pressas, sem tempo para que possamos nos envolver com cada um separadamente. O trabalho de Jon e Andrew Erwin na direção é falho, acelerado e clichê em todas as formas que escolhem mover a narrativa pra frente. É desanimador a falta de novidade e de criatividade da dupla em preencher as lacunas que existem entre o romance do casal e a carreira do protagonista. O que sobra nesse miolo não tem importância alguma e se perde totalmente.

Conclusão

Dessa maneira, ‘Enquanto Estivermos Juntos’ força um romance místico inexistente, cai na maldição da previsibilidade e se mostra desesperado para sensibilizar o público a qualquer custo. A trama se esgota e se perde no ritmo lento, as canções, melancólicas em excesso, azedam a história e só resta mesmo rezar para que as quase duas horas de filme passem bem rapidamente.

Nota: 4

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