Crítica | The Umbrella Academy – 2ª temporada é deliciosamente melhor que a anterior

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Adaptações de HQ’s são um desafio para qualquer produção que precisa escolher se se mantém fiel ao material de base ou se toma outro caminho, que diverge do original e assume uma identidade própria. Poucas obras conseguem esse equilíbrio e, as que conseguem, não parece durar por muito tempo. Se essa adaptação ainda por cima for para uma série que tenha mais de uma temporada, vem junto a pressão para se reinventar e agregar novidade, sem que perca sua essência e identidade. E nesses aspectos, ‘The Umbrella Academy’ consegue, com bastante estilo e carisma, desenvolver uma energia extra para sua 2ª temporada, mas tendo como referência a mesma fórmula que fez a primeira funcionar, cujo diferencial está mesmo na mudança de ambientação, já que essa nova fase do grupo de super-heróis se passa quase totalmente nos anos 1960 e explora algumas facetas das personalidades dos personagens que ainda não havíamos visto.

Para começo de análise, é difícil não comparar algumas particularidades de outra grande série que acabou na Netflix, Dark, já que – coincidência ou não – há semelhanças entre as duas produções, como por exemplo a fuga do apocalipse eminente, as viagens no tempo para “se salvar” e até mesmo um trio sinistro e silencioso de vilões cujo objetivo é matar os protagonistas à todo custo. Essa repetição de premissa, ainda que nos faça lembrar de outras produções, funciona para as duas séries, já que é o tom, algo que as diferencia por completo. Ainda mais carregada de humor ácido e sarcasmo, ‘The Umbrella Academy’ faz comédia com suas estranhezas e com a falta de critério do universo desenvolvido por Gerard Way (vocalista da banda My Chemical Romance) e ilustrado pelo brasileiro Gabriel Bá, assim como ‘The Boys’, não tem medo de fazer referências e ser uma grande paródia de quadrinhos de super-heróis, já que tem semelhanças com ‘Quarteto Fantástico’ e até mesmo os ‘X-Men’. Mas, felizmente, sobra espaço para desenvolver uma história que realmente prende, especialmente pela diversidade de narrativas de seus protagonistas.

Nessa nova trama, para se salvarem do apocalipse provocado pela Vanya (Ellen Page) no final da 1ª temporada, todos são levados para o passado pelo Número Cinco (Aidan Gallagher) e deixados por lá. Nesse contexto, desenvolvem ligações com pessoas dos anos 1960 e começam a viver uma nova fase de suas vidas, distantes um do outro e sem o uso de seus poderes. A Academia Guarda-Chuva se desfaz, porém, o grupo precisa se reunir ao descobrir que o tão temido apocalipse os seguiu e eles possuem apenas 10 dias para evitar que o mundo seja destruído novamente (dessa vez através de uma guerra nuclear). A partir disso, o novo ciclo divide os núcleos e, dentro do arco principal de salvar o mundo, eles precisam lidar individualmente com seus demônios. Enquanto a trama de Klaus (Robert Sheehan) se constrói como a mais fraca e carregada de alívio cômico, ainda que tenha algumas nuances de romance, a jornada de Allison (Emmy Raver-Lampman) é extremamente assertiva e atual, ao mostrar a segregação racial da época e sua luta contra o racismo, que entrega ótimas e emocionantes sequências.

Fora a energia de alguns núcleos, a trama se mantém na fórmula da temporada anterior, no modelo “bomba-relógio”, já que o tal fim do mundo está para acontecer. O Número Cinco, talvez por não ter vivenciado o passado como os demais, não tem evolução em sua personalidade, mas diverte como a criança rebelde de costume. Diego (David Castañeda) ganha mais espaço e sua jornada é divertida e importante para a trama geral, o lado da inédita Lila (vivida pela atriz Ritu Arya), que possui bastante carisma. Fora isso, é visível que a produção ganhou um upgrade, já que os efeitos especiais e a fotografia estão ainda melhores e a direção está mais ousada em arriscar alguns ótimos planos sequências e uma câmera leve, que viaja por entre os cenários e dá um ar de quadrinhos. As cenas de ação também estão mais presentes e funcionam melhores que a primeira temporada, já que os poderes dos heróis são utilizados em momentos realmente importantes, assim como a presença marcante de uma trilha sonora que mescla o contemporâneo com clássicos. A identidade visual se destaca positivamente e a trama conquista em não ser apenas lutas de heróis, mas saber dosar também o drama, o humor e discutir temas importantes, para preencher as lacunas entre as cenas mirabolantes de ação e porradaria.

Mesmo quando o objetivo é explorar os inúmeros personagens de apoio, a trama dessa segunda temporada não perde força, como acontece em séries como Cursed: A Lenda do Lago’, por exemplo. Os momentos de desaceleração aqui são necessários para trabalhar o lado emocional de cada um e a ligação do grupo entre si. Enquanto Vanya está mais vulnerável e Ellen Page entrega uma performance doce e delicada, a personagem é deixada de lado grande parte da temporada, algo que faz sentido, tendo em vista que teve muito destaque na primeira e que seu poder é também o mais descontrolado. Dessa forma, podemos mergulhar mais intensamente em outros relacionamentos e desvendar a origem de alguns fatos, como a própria Academia em si e o surgimento do chipanzé Togo, por exemplo. Elementos esses que trazem novidade e essencialidade para os capítulos, além de direcionar a história para um futuro ainda mais promissor, após um desfecho de temporada absolutamente épico e repleto de plot twist.

Com uma 2ª temporada estilosa, criativa e peculiar, é perceptível que ‘The Umbrella Academy’ corrigiu erros do passado e está encontrando seu tom ideal para narrar uma história de super-heróis irreverente e singular, sem deixar de lado a parte humana e falha de seus personagens e os temas sociais importantes. Sem dúvida, há mais ousadia e diversão em relação a primeira, sem contar o roteiro inteligente e a elegância de como a direção entrega ótimas sequências de ação e faz referências à filmes como ‘X-Men’ e ‘De Volta Para o Futuro’. A surpresa é ótima e, assim como ‘The Boys’, sem dúvida se consagra como a história de super-heróis mais diferente e fértil dos últimos tempos.

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