Crítica | ‘A Barraca do Beijo 2’ cai na maldição da sequência

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Muito se discute sobre se a Netflix salvou as comédias românticas da extinção ao presentear seus assinantes com histórias teen como ‘Para Todos os Garotos Que Já Amei’, ‘Você Nem Imagina’ e ‘A Barraca do Beijo’, por exemplo. Mas será mesmo que o serviço de steaming salvou ou, na realidade, ressignificou o gênero? Um fato é certo: as comédias românticas perderam força nos cinemas e se mostraram mais eficazes nos streamings, especialmente pelo toque contemporâneo e atualizado de algumas franquias, destemidas em, por exemplo, lidar com temas LGBTQ+ e com uma geração de jovens adultos moldados pela internet. Nesse período do audiovisual, com a TV em segundo plano, é possível usar e abusar de elementos que antes estavam restritos à um único tipo de público e, com isso, as histórias ganharam um gás à mais. Mas e quando essas histórias caem na maldição da sequência? O quão original é replicar a fórmula duas vezes sendo que ela já está sendo replicada em tantas outras produções? Pois é sobre isso que ‘A Barraca do Beijo 2’ (The Kissing Booth 2) se aprofunda.

A sequência do filme de 2018, também baseada no segundo livro da autora Beth Reekles, publicado esse ano, começa apenas um mês após os eventos da primeira história e segue acompanhando a rotina da jovem Elle (vivida pela Joey King), após seu namorado Noah (Jacob Elordi) se mudar para estudar na Universidade Harvard. Novas questões surgem com esse namoro à distância e com a sua relação com seu melhor amigo, Lee (Joel Courtney), já que essa amizade está sufocando o relacionamento dele com a namorada. Sem agregar muita novidade, o longa afunda no mesmo imediatismo exacerbado que a sequência de Para Todos os Garotos Que Já Amei’, que tenta colocar 10 mil histórias dentro de apenas uma e, com isso, atira para todos os lados, mas não acerta nenhum alvo. Sem exagero, há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo dentro de ‘A Barraca do Beijo 2’, que é difícil focar na jornada de autodescoberta da protagonista, algo que deveria ser a linha central dessa nova aventura. O filme cobre o período de quase um ano na vida dos inúmeros personagens e é uma correria cansativa, intensificada por uma direção apressada, incoerente e afobada de Vince Marcello.

Ainda que o roteiro seja rico em aprendizados adolescentes, que fazem a obra não ser um descarte total, sua realização na prática destoa do nível de maturidade que busca seguir. Os conflitos são resolvidos com facilidade em poucas cenas, a comédia é escrachada e o humor, completamente infantilizado, assim como a narrativa enérgica e a montagem paranoica com cortes excessivos. Parece uma novela mexicana teen dos anos 1990 de tão boba que é sua construção dramática e tão infantil que são seus personagens, tanto que, todo o drama provocado por uma suposta traição, soa adulto demais para a história contada e não faz muito sentido, principalmente pela manipulação do roteiro de tentar, à todo custo, enganar o espectador, sendo que está nadando sem colete salva-vidas no mar da previsibilidade. Até mesmo a tal barraca do beijo, que dá título ao filme, é uma pura e descarada repetição do filme anterior, apenas com uma roupagem mais atual para disfarçar a fórmula e um beijo entre dois meninos que a direção filma como se fosse o Super Bowl da escola, com zero naturalidade.

Os clichês de filmes adolescentes, que tanto pesam em outras obras, acabam nem se sobressaindo aqui, já que há problemas maiores e mais urgentes. O humor, presente do começo ao fim, apenas funciona quando o foco é a Elle, já que Joey King (indicada ao Emmy entre um filme e outro) tem carisma de sobra e entrega uma atuação condizente com a inocência da protagonista. Sua relação com Lee também é boa, especialmente pela química de King com Courtney, porém, Jacob Elordi visivelmente não se encaixa mais nessa história. Tanto o ator, que parece puro desânimo, quanto seu personagem deslocado, que vive uma vida de adulto e já partiu para os “pecados” do mundo, enquanto as crianças estão organizando barracas do beijo na escola. Dessa vez, o triângulo amoroso aumenta, assim como a proporção do filme, e vira um quinteto amoroso bizarro e mal desenvolvido, no entanto, a adição de Marco (Taylor Perez) dá uma requentada no romance e promete mais tretas no próximo (e quem sabe último!) filme, já que nesse não sobrou espaço para que ele pudesse ser o tão temido e previsível vilão.

Dessa forma, ‘A Barraca do Beijo 2’ é uma enorme festa infantil que, preguiçosamente, repete a fórmula e não demonstra que adquiriu nenhuma maturidade com seu humor enfadonho e personagens sem nuances. Na tentativa de ser maior e melhor que o anterior, o roteiro tenta abraçar tanta coisa que, no fim, não desenvolve bem nenhuma delas e a direção parece correr uma maratona para explorar essas histórias ao mesmo tempo. É puro desperdício de energia e oportunidade de fazer a trama, que já não é lá grandes coisas, evoluir e se aperfeiçoar para ser, de fato, uma comédia teen de qualidade. O resultado é uma novela adolescente que deseja ser uma obra contemporânea, mas que se perde em sua própria ambição e falta de amadurecimento.

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