Crítica | ‘Encontro Fatal’ é só mais um filme genérico da Netflix

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A eterna luta entre público alvo e qualidade parece estar longe de terminar no catálogo da Netflix, que tem cada vez mais investido em obras genéricas, que visam apenas atrair espectadores, do que em conteúdo que possa agregar qualquer tipo de novidade, tanto ao gênero quanto ao serviço. Nessa prateleira de tanto faz como tanto fez, ‘Encontro Fatal’ (Fatal Affair) ganha destaque ao lado de outras obras como ‘Mentiras Perigosas e No Limite da Traição e consagra a que irei chamar de “tríplice Intercine” da Netflix, formada por filmes previsíveis, com romances baratos, um roteiro que mais parece ter sido escrito por amadores na profissão e um teor sexy que de sexy não tem absolutamente nada. A premissa é tão vazia e tediosa, que parece que toda a trama pode ser desvendada logo de início. Já o tão vendido suspense, que tenta replicar filmes sobre amores obsessivos, é uma presepada sem precedentes. Ou seja, mais uma obra que encontra um alçapão no fundo do poço e desce rumo ao esquecimento total.

O começo misterioso, que envolve uma morte sinistra, leva a crer que a trama será mais envolvente que outras obras similares, mas não é isso que acontece conforme conhecemos a protagonista e a treta em que se envolve ao flertar com seu colega de faculdade por não se sentir mais desejada pelo marido. Nesse contexto de traição (que nem ao menos acontece!) ela é perseguida tediosamente pelo amigo e isso a leva descobrir seu passado obscuro. Pronto, é basicamente isso, replicado ao quadrado para segurar as quase uma hora e meia de história vazia, previsível e que não caminha para lugar algum. Os personagens não possuem camadas, não são carismáticos e o romance, seja da protagonista com seu marido ou com o amigo, não convence e nem mesmo apresenta qualquer tipo de química. É só um amontoado de acontecimentos vazios, feitos para manipular as emoções do público, sem que nada faça muito sentido. Todas as cenas e diálogos expositivos, construídos com a precisão de uma bomba nuclear, só servem para mover a história para frente sem que pare para se questionar.

O roteiro é tão raso e preguiçoso, que o próprio vilão, vivido pelo sem carisma e/ou intensidade Omar Epps, é um hacker habilidoso, sem a menor justificativa plausível, mas que usa esse fato para dar uma solução fácil para todas as divergências de sua jornada obsessiva, já que, dessa forma, ele pode ter acesso à câmeras de segurança, celulares, computadores e, aparentemente, até mesmo ao sistema da polícia. É um perfeito deus ex machina personificado para facilitar e justificar a sensação de perigo que ele provoca. Porém, na prática, já que o roteiro escolhe mostrar a identidade do vilão tão cedo, sem grandes mistérios ou revelações, sua presença não provoca medo e nem perigo, especialmente por ter uma inteligência forçada e por “emburrecer” os demais personagens. Nia Long (Vovó… Zona) vive uma protagonista sem ânimo, sem graça e que falha em ser femme fatale. A atriz não se entrega e não segura o drama da personagem, restando apenas uma performance engessada e feita sob medida para um roteiro carregado de falhas.

Com todos os problemas, a parte técnica não fica muito para trás. Há uma tempestade de erros de continuidade e furos que a trama deixa passar, além disso, a direção de Peter Sullivan, do péssimo ‘Obsessão Secreta’ (dá pra ver que ele tem uma forte queda por narrativas clichês sobre amores abusivos!), é puro golpe baixo com o espectador através de cenas construídas apenas para elevar a tensão do momento que, quando chegam ao seu ápice, não entregam absolutamente nada. Aliás, há também um anticlímax enorme na trama, que ocorre antes do desfecho, com algumas revelações previsíveis, e que torna o final bem sem ritmo e puramente forçado. No entanto, se há apenas um elemento que se salva nessa descida caótica, está na representatividade e no elenco de maioria negro, tratado com a naturalidade que toda produção deveria tratar.

Dessa forma, ‘Encontro Fatal’ é o suprassumo da previsibilidade e da preguiça que tanto assola os roteiros rasos dos filmes originais da Netflix. O romance não convence, o suspense não intriga e o elenco é puro desânimo, personificado em uma história tão esquecível quanto sua existência em um catálogo que, se chutar, cai mais de dez filmes parecidos e todos eles com lugar marcado na fila das obras mais genéricas do gênero atualmente.

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