Certamente, Phoebe Waller-Bridge é uma das mulheres mais influentes da TV atual, após o sucesso avassalador das duas temporadas de ‘Fleabag’ e de ‘Killing Eve’, a atriz, roteirista e diretora agora também é a produtora executiva, ao lado de Vicky Jones, de Run, um thriller romântico da HBO, que mostra um casal que larga tudo para ficar um com o outro. A premissa é curiosa, original e regada de muito mistério, apesar do clima ser completamente cômico. Essa união quase perfeita de múltiplos gêneros é o diferencial, que envolve o espectador do começo ao fim do episódio piloto. Além disso, o capítulo inicial não introduz os protagonistas e nem para pra responder perguntas, segue apenas em um ritmo alucinado, ao melhor estilo ‘Corra Lola, Corra’.
O título, traduzido para “corra/corre”, diz muito sobre a narrativa, desenfreada e sem pausas para explicações. A trama, focada em um casal de ex-namorados que apostaram 20 anos atrás que um deles mandaria uma mensagem de texto para o outro, sobre fugirem juntos, parte do princípio de que conhecer os personagens pode esperar um pouco mais, pois é o momento da fuga em si, o grande centro da história. Porém, pequenas pistas sobre o que, de fato, está acontecendo são inseridas ao longo da correria, que começa com a Ruby, personagem da atriz Merritt Wever (Inacreditável), e sua jornada rumo ao local onde combinou de encontrar com Billy (Domhnall Gleeson, de ‘Questão de Tempo‘) e, logo em seguida, mostra mais detalhes dos motivos pelos quais enviou a SMS, que se torna o centro da trama no segundo episódio. Outro ponto forte, é a química entre os dois e a dinâmica cômica em que um lida com os “defeitos” e mudanças do outro.
A paixão é evidente entre os personagens, graças ao excelente trabalho do elenco e a fluidez da comédia, quase que totalmente corporal e inserida com bastante inteligência, algo que lembra ‘Fleabag’. O humor é a cola que gruda todos os elementos no mesmo lugar e nos faz conhecer mais detalhes sobre o passado de cada um e seus atuais relacionamentos, sem que o real motivo para a tal fuga seja revelado a princípio. O roteiro segura os mistérios com rigidez e entrega o mínimo possível para situar o espectador dentro do contexto da história. O texto, sagaz e hilário, constrói situações cômicas constrangedoras, especialmente por boa parte da trama dos primeiros episódios se passar dentro de um trem. O romance também é interessante, semelhante ao ótimo ‘Antes do Amanhecer’ (1995), cuja força está na relação simples e honesta entre o casal e suas nuances entre a paixão e a culpa por estarem fugindo juntos.
Os episódios são curtos, o que é uma maravilha, sendo uma série semanal que funcionaria melhor caso fosse assistida no formato de maratona (a temporada completa liberada de uma só vez), até mesmo para manter o fluxo constante de velocidade em que a história se desenvolve. Ainda que enérgico, em alguns momentos isolados, a falta de explicações acaba cansando um pouco, mas nada que influencie o nosso envolvimento, principalmente pelo fato do segundo episódio desacelerar um pouco e focar na relação de amor e ódio da dupla e nas consequências de largar tudo para trás. É aí que as nuances entre eles são reveladas e somos convidados a participar desse jogo maluco e alucinado que estão jogando.
De um modo geral, ‘Run’ é uma ‘Fleabag’ sob trilhos. Uma série simples, com poucos personagens e completamente eficiente no que se propõe. O humor é contagioso e o ritmo frenético em que a trama se desenvolve é realmente especial e criativo. A força está no texto inteligente e na química entre o casal protagonista, que logo logo deve se tornar o casal favorito de muita gente por aí. Mais um acerto da HBO e uma aposta original para os órfãos do humor singular do fenômeno Phoebe Waller-Bridge.