Crítica | ‘Um Amor, Mil Casamentos’ não é engraçado e nem romântico

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As comédias românticas parecem ter encontrado na Netflix o público fervoroso que costumava ter nos anos 1990 e começo dos anos 2000, época em que o gênero estava absolutamente dominando o público jovem. Já hoje, o algoritmo da Netflix indica cada vez mais filmes semelhantes para o assinante que assistiu um dos filmes do gênero e, dessa forma, aumenta significativamente o consumo e a demanda. E é aí que mora o problema: essa demanda exorbitante de um gênero específico, sem o tempo ideal para se planejar uma obra que, ainda que simples e direta, feita apenas para divertir, possa também entregar  algo mais elaborado, mais inteligente e criativo do que filmes como ‘Um Amor, Mil Casamentos’ (Love Wedding Repeat), que se apoia em uma desastrosa festa de casamento para gerar humor através do constrangimento de situações extremamente falsas e teatrais.

E põe teatrais nisso, já que toda a construção da comédia, até mesmo por se passar em apenas um ambiente, lembra demais uma peça de teatro. Infelizmente, uma peça insossa. Se por um lado, a premissa até pode pensar em trazer alguma originalidade, por outro, o roteiro é tão absurdamente precário, que sua trama não avança para lugar algum, fica apenas dando voltas e mais voltas em torno de si mesma e da criação de humor em cima de personagens rasos e bobos, com dilemas insuportáveis de tão irritantes, como um (Allan Mustafa) que só está preocupado se o seu pênis é grande o suficiente e outro (Tim Key) que só sabe falar sobre si mesmo sem que seja interrompido. Conforme conhecemos mais e mais os convidados da festa, menos a história se torna interessante e o clima divertido de romance do começo, se dissipa totalmente.

Enquanto a encenação extremamente falsa do elenco lembra uma peça de teatro roteirizada, a história ultrapassa a barreira do novelesco e caminha exatamente para a previsibilidade. Sem nenhuma surpresa ou ponto de virada, o roteiro se acha inteligente em voltar no tempo e desenvolver outra situação com o tal remédio para dormir. O famoso “e como seria se…?” que corrige as lacunas das imbecilidades dos personagens a fim de entregar um final bonitinho, romântico e clichê. A direção de Dean Craig (Morte no Funeral) é anêmica e quase inexistente. O diretor desperdiça todo o potencial de entregar uma comédia simples, porém eficiente, e não consegue fazer nem mesmo essa simplicidade de cenário, de elenco e de roteiro se tornar algo minimamente criativo. Aliás, até mesmo o título nacional não faz muito sentido, sendo que são os amores e os casais que são muitos, não o casamento.

E se a direção e o roteiro estão caindo rapidamente rumo ao caos, não é o elenco que vai conseguir levantar. A duplinha sem química de protagonistas, vivida por Sam Claflin (Como Eu Era Antes de Você) e Olivia Munn (O Predador), sem dúvida, também é um desperdício, exatamente pelo fato de que são bons atores na pele de personagens completamente superficiais e sem energia. Se pegarmos outro filme parecido, porém bom, o ‘Como Eu Era Antes de Você’, Claflin está ótimo em um papel que também exige pouco, ou seja, o problema é mesmo dessa obra e sua construção falha de personagens, que se excede pela quantidade de atores e atrizes que não servem para absolutamente nada na trama, não é mesmo Freida Pinto e suas meia dúzia de falas? Com exceção de uma única boa piada com o protagonista usando o dedo do ator Joel Fry (Yesterday) para vomitar e a cena ser realmente estranha, nem o humor tem força para chegar onde deveria.

Com isso, mesmo buscando ser uma comédia escapista, o genérico ‘Um Amor, Mil Casamentos’ se perde por completo em uma desastrosa festa, onde a falta de criatividade, a superficialidade e o humor insuportavelmente imbecil são os convidados de honra. Em determinado momento, até mesmo os protagonistas se perdem e a história se transforma em um vai e vem desenfreado de narrativas insignificantes, que testam a paciência e a inteligente do espectador. Não é engraçado e nem romântico, é apenas cômico, por forçar situações bobas, ao melhor estilo ‘American Pie’ do camelô. Mas se o intuito é apenas rir e se distrair, certamente há coisas melhores no catálogo da Netflix.

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