Crítica | ‘Lost Girls: Os Crimes de Long Island’ desperdiça uma ótima história

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A decisão de como contar uma história definitivamente define o rumo que o projeto terá, ainda mais se for baseada em fatos. Uma série documental, um pseudodocumentário ou mesmo um filme ficcional inspirado nos eventos, ao menos, uma dessas opções precisa ser determinada para que a história possa, de fato, surtir impacto no espectador, que já se envolve na obra sabendo que verá algo realista e tocante. Acontece que é aí que ‘Lost Girls: Os Crimes de Long Island’, nova aposta da Netflix, mergulha em seu maior erro: não saber ao certo qual história deseja contar e tentar abraçar todas as formas possíveis de contá-la. Desde seu clima denso, melancólico e triste, que promete um viagem pesada pelo misterioso caso das jovens meninas que desapareceram em Long Island, narrados no best-seller homônimo de Robert Kolker, o longa promete um suspense intenso, ao anunciar que “o caso nunca foi solucionado”, mas na prática, desperdiça tempo demais caminhando para lugar algum.

O roteiro definitivamente se perde dentro de sua própria proposta e, o que começa intrigante e até mesmo promissor, desanda conforme a história se esgota muito apressadamente por já utilizar, de cara, todas as suas fichas na construção do suspense. Não demora muito para a trama perder o fôlego e começar a dar voltas em torna de nada, até cansar o espectador, já que o caso real em si é enigmático e obscuro, mas é exatamente por não ter tido uma resolução plausível, que se torna um material fraco na elaboração de um roteiro, afinal, o longa termina sem um desfecho ideal e faz parecer que todo o caminho percorrido não levou a nada. E não tem nada pior do que sentir que o investimento foi desperdiçado, ainda mais quando o elenco consegue superar as expectativas.

As atrizes escolhidas para carregar a história são ótimas e entregam o máximo de emoção que cabe em seus papeis, em especial, Amy Ryan (Ponte dos Espiões) e Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit). Assim como sabem trabalhar bem o drama das situações e até emocionam em determinados momentos. Além disso, há um interessante trabalho de sororidade desenvolvido pela diretora Liz Garbus (What Happened, Miss Simone?), que acerta no tom e na profundidade da obra, ao mostrar o poder do machismo no mundo criminal, que trata as vítimas femininas como “prostitutas”, na tentativa de encontrar justificativa para suas mortes, mas se perde exatamente, na já citada tentativa de mesclar documentário com ficção. Sua direção insiste em colocar o ritmo lento e narrativo do documentário em uma obra que se vende como um suspense investigativo, que necessita mais intensidade e ação. Essa falta de equilíbrio faz a receita desandar por completa e cresce, cresce e cresce, para não entregar nada no clímax.

Ainda que tenha essa dificuldade de partir para caminhos mais viáveis no cinema de ficção e se afastar da narrativa documental, há sim bons elementos na história, que a torna relevante e necessária de ser mostrada, principalmente como elemento de lembrança para que as autoridades possam perceber que o caso, assim como tantos outros sem solução, precisam de respostas e justiça. Ao menos, no desenvolvimento emocional, o drama consegue fazer refletir sobre diversos assuntos pertinentes e que não deixam de ser tocantes, apesar de exagerar na melancolia, até mesmo ressaltada pelos tons frios e escuros da direção de fotografia e a trilha melosa e triste. Se pegarmos uma história similar, como a de ‘Três Anúncios Para Um Crime’, por exemplo, fica evidente que se o longa tivesse seguido por esse caminho narrativo e dramático, teria funcionado melhor.

Dessa forma, ‘Lost Girls: Os Crimes de Long Island’ promete um mergulho misterioso em um crime sem solução, mas, na realidade, entrega uma trama desvigorosa, que não sabe se deseja ser um filme de suspense ficcional ou um documentário realista. O resultado desse desequilíbrio é uma história que deixa de ser promissora para se arrastar e terminar exatamente igual ao caso real: sem desfecho e sem respostas. Ainda assim, as performances das atrizes são excelentes e a sororidade que a direção emprega na trama é relevante e essencial. Certamente irá bater forte no emocional de alguns, mas provocará tédio em outros.

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