Crítica | ‘Isi e Ossi’ tenta ser ‘Romeu e Julieta’ e se excede com humor patético

O tal “amor proibido” definitivamente é a fagulha que alimenta a chama de muitos roteiros, desde clássicos do cinema, como ‘Titanic’, até as inúmeras adaptações de ‘Romeu e Julieta’ para diferentes plataformas. Essa dinâmica de oposições, entre um personagem de uma classe social elevada, que se envolve com outro, de outra classe, e cria uma relação de amor através do convívio, já tem sido explorada à exaustão no cinema, e antes disso, no teatro, nas tragédias românticas de Shakespeare, ou seja, é importante saber que, no quesito novidade, ‘Isi & Ossi’, nova comédia romântica da Netflix, não se destaca e não agrega valor nenhum ao gênero, mas merece atenção por fugir do eixo americano e mostrar, ainda que superficial, a realidade de alguns jovens alemães.

Certamente, essa mudança de cenário é válida, ainda que o longa siga à risca o “padrão Netflix” de contar histórias rápidas, diretas e sem grandes perspectivas, já que a trama aborda o relacionamento de uma jovem rica, que quer chamar a atenção de seus pais, com um menino pobre, que acaba se apaixonando de verdade e colocando os planos de fingir um relacionamento por água abaixo. Ao melhor estilo novelesco de ‘Malhação’, a história segue um humor bobo, nascido dessa dinâmica entre o rico e o pobre, com algumas piadas realmente patéticas e desnecessárias sobre negros, gays e imigrantes e um começo enérgico, que lembra a montagem de filmes como ‘500 Dias Com Ela’. Uma pena que esse bom ritmo inicial, narrado de forma até divertida e instigante, vá se perdendo de forma gradativa.

A direção de Oliver Kienle (A Quatro Mãos) é ágil e ritmada, dos males, o menor, assim como a atuação dos protagonistas, vividos por Lisa Vicari (da série ‘Dark’) e Dennis Mojen (Traumfabrik), ambos até possuem boa química e entregam o que o roteiro permite, em especial, quando a trama sai levemente da superficialidade e aborda o cotidiano da vida deles, suas diferenças e dificuldades. Ainda que carregada de clichês, ao menos caminha por alguns assuntos interessantes, sendo mais um caso de que o projeto teria funcionado melhor (e se aprofundado mais), caso tivesse sido uma série e não um filme, já que lida com uma juventude mais adulta e com maiores responsabilidades do que de outras comédias românticas típicas do serviço de streaming, que só replicam a vibe dos anos 1990 sem trazer nenhum conteúdo relevante. Esse, ao menos, lida com a luta de classes e as diferenças sociais da Alemanha atual.

Como a trama e o ritmo perdem a energia conforme a história avança, as cenas de comédia se tornam cada vez mais rasas e o romance enfraquece. Fica a sensação de que a produção se perdeu pelo caminho e, na tentativa de fazer algo novo, entregou apressadamente mais do mesmo, que apela para todo o tipo de piada para forçar o espectador a rir do absurdo, até seu desfecho insatisfatório, apressado e sem graça. Se não fosse por alguns elementos isolados da trama, toda a construção dramática teria ido por água a abaixo, já que a parte técnica não possui nenhuma grande novidade que possa fazer ser lembrada.

Dessa forma, ‘Isi & Ossi’ prova, mais uma vez, que os filmes originais da Netflix têm dificuldade de serem originais, e que o forte do alemão definitivamente não é o senso de humor. Ainda assim, a comédia romântica estabelece uma relação curiosa entre seus protagonistas e, em pelo menos parte da proposta, diverte, quando não utiliza sua comédia ácida e dispensável, com uma trama novelesca sem grandes ápices. Ou seja, é mais uma típica repetição de fórmula que, pelo menos, não termina em tragédia.

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