Crítica | ‘Para Todos Os Garotos: PS. Ainda Amo Você’ perde a personalidade e se deixar levar por clichês

Com grandes sucessos, nascem sequências piores. ‘Para Todos os Garotos que Já Amei’ estreou na Netflix em 2018 e logo se tornou um fenômeno de público, exatamente por abraçar os clichês adolescentes das comédias românticas dos anos 90 e, ao melhor estilo John Hughes (Curtindo a Vida Adoidado), seguir a fórmula que já está estava escassa nos dias de hoje. De fato, o primeiro filme não inventa a roda, mas sabe trabalhar muito bem com os desafios que possui e, com carisma, desenvolve personagens cheios de alma. Até a protagonista que idealiza o amor funciona dentro do contexto. Porém, de 2018 para cá muita coisa aconteceu no mundo teen da TV, e séries como ‘Euphoria’ e ‘Sex Education’, estabeleceram um novo padrão de como lidar com certos assuntos. Ainda que ‘Para Todos Os Garotos: PS. Ainda Amo Você’ não seja um filme pensado para o mesmo público que consome ‘Euphoria’, é inevitável não perceber como essa sequência é desesperadamente datada.

E não é ultrapassado apenas por ser um filme sobre uma jovem indecisa no amor, mas sim, por abordar esse sentimento da forma mais superficial possível. A alma dos personagens, em especial da protagonista, se desfez dessa vez e o roteiro, picotado e desconexo, adaptado do livro de mesmo nome, da autora Jenny Han, não sabe para onde quer ir e não mergulha por completo em suas decisões dramáticas, até mesmo o centro da narrativa, que é o triângulo amoroso, é tratado com tamanha falta de coragem para que a personagem não seja vilanizada por simplesmente sentir desejos. Aliás, é na protagonista que mora o maior problema de todos. De doce e divertida, Lara Jean (Lana Condor) se torna insuportável e egocêntrica. E sim, mesmo que a proposta seja mostrar que ainda sente algo por um dos crushes da infância, após o mesmo receber sua carta no final dos eventos do primeiro filme, sua personalidade desequilibra dessa vez e segue o caminho contrário do desenvolvimento e evolução que teve anteriormente. Não apenas ela, mas toda a proposta do filme faz um caminho reverso e se mostra um desserviço quando o assunto é, principalmente, desconstrução.

Como diretor, Michael Fimognari (que dirige pela primeira vez um longa, após ser o diretor de fotografia do primeiro filme) é um excelente fotógrafo. Seus comandos se mostram tão perdidos quanto a história. O excesso de cortes de um plano para o mesmo, erros de continuidade e tramas paralelas, como a amizade superficial da Lara com Stormy (Holland Taylor), que faz mais sentido no livro, afastam o espectador da história, além disso, o elenco, dessa vez, está sem química e não funciona junto, fruto de um trabalho preguiçoso de direção. Apesar de pouco tempo em tela, Jordan Fisher (que vive John Ambrose), consegue roubar o pouco de carisma que Noah Centineo (Peter) possui. E, dessa forma, o triângulo amoroso mira em um relacionamento moderno, mas acerta mesmo é em ‘Crepúsculo’, só trocar os humanos sem sal por vampiros, já que ambas as protagonistas parecem não saber viver sem ter um personagem masculino sendo seu centro do universo.  

Até nesse aspecto o longa retrocede. Se antes a personagem Kitty (Anna Cathcart), que vive a irmã mais nova de Lara, servia como uma espécie de dispositivo do enredo para trazer frases de efeito que combatem o machismo, por exemplo, e ser um bom alívio cômico, dessa vez, sua presença foi colocada completamente de escanteio. Assim como a relação entre as irmãs e de Lara com seu pai, nada disso teve evolução. O foco total é ela e sua indecisão sobre qual menino quer ficar no fim das contas. Apenas isso e mais algumas presepadas do roteiro para fazer rir com situações constrangedoras. Não há nenhuma justificativa sequer para que houvesse essa sequência, já que nenhum personagem é desenvolvido mais a fundo e a trama, que se passa poucos dias após a primeira parte, não caminha para lugar nenhum.

Sendo mais do mesmo, ‘Para Todos Os Garotos: PS. Ainda Amo Você’ mergulha tão fundo nas breguices das comédia românticas dos anos 90, que ao invés de fazer uma homenagem, como o primeiro filme se propôs a fazer, se torna insuportavelmente datado, clichê e retrocede em todos os sentidos. Falta tempero, ousadia e coragem nessa salada de adolescentes, cuja única decisão na vida é escolher entre um boy e outro. Ainda que tenha uma legião de fãs e que seja uma história realmente doce em certos momentos, a franquia cumpre o proposta de distrair, com seu ritmo “Sessão da Tarde”, mas ao ser colocada ao lado de tantas produções excelentes, como ‘Sex Education’, que ajuda na formação do caráter do adolescente, presta quase que um desserviço de tão ultrapassada.

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