Crítica | ‘Um Lindo Dia na Vizinhança’ é monótono e desregular, nem Tom Hanks salva

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Há vezes em que um astro rouba a atenção de uma obra para si e consegue, com sua atuação prazerosa, torna o projeto melhor do que seria com a sua ausência, porém, também há casos em que nem mesma a força de um ator aclamado consegue salvar o filme da mesmice. Essa última opção é o caso do drama ‘Um Lindo Dia na Vizinhança’ (A Beautiful Day in the Neighborhood), indicado ao Oscar 2020 pela atuação de Tom Hanks mas que, na realidade, não entrega nada além de um filme simples, raso e desregular, sendo um dos mais fracos da carreira do ator até então.

A trama acompanha a história verídica sobre a vida de Fred Rogers, o criador do ‘Mister Rogers’ Neighborhood’, um programa infantil de TV muito popular na década de 1960, nos Estados Unidos. Em 1998, Tom Junod (vivido pelo ator Matthew Rhys), até então um descrente jornalista investigativo, aceitou escrever sobre Rogers para uma revista famosa. Durante as entrevistas para a matéria, Junod mudou não só sua visão em relação ao seu entrevistado como também sua visão de mundo, iniciando uma amizade com o apresentador, que influencia diretamente sua relação com seu pai. Dessa forma, a trama busca inspirar através da relação conturbada entre pai e filho, porém, o roteiro não consegue emocionar como deveria, apesar de apelar para algumas armadilhas dramáticas típicas desse tipo de obra.

Nesse desequilíbrio entre o roteiro, que busca um mergulho profundo no sentimentalismo, e a direção monótona de Marielle Heller (Poderia Me Perdoar?), é a atuação de Hanks que faz a mínima diferença de qualidade pelo fato de que o ator parece sim ter sido a escolha certa para o papel. Sua feição calma, pacífica e relaxada combina com a imagem controlada que o apresentador passava na TV, porém, é inevitável não se irritar com a voz tranquila, como se estivesse medicado com Rivotril, que o ator faz para acompanhar seu personagem. Ainda assim, infelizmente, seu papel é pequeno dentro da trama, que o vende como um protagonista, mas que o coloca de escanteio para dar espaço a um melodrama enjoado, repetitivo e sem emoção de uma família que não se dá bem. Além de, claro, o ritmo ser lento e faltar conflito para dar alguma comoção que seja a narrativa.

Mesmo com deslizes, é notável o carisma de Hanks e a tentativa de desenvolver um drama doce e melancólico sobre paternidade, até mesmo ressaltando, de forma interessante, a masculinidade tóxica de alguns pais e a busca por perdão. Quando não tenta inventar a roda, a trama caminha lenta, mas entretém e até consegue fazer refletir com algumas boas frases de efeito, mas o marasmo cansa após um tempo e o entretenimento dá lugar ao desinteresse. A montagem privilegia os planos longos e isso auxilia no ritmo desregular. No elenco, Susan Kelechi Watson (This Is Us) consegue roubar a cena, mesmo com alguns momentos péssimos onde há cenas musicais e não apenas ela, mas todos, dão um show de tédio.

Ainda que seja criativo em sua essência, ‘Um Lindo Dia na Vizinhança’ tem uma história real maior e mais interessante do que sua retratação em tela. O melodrama é monótono, desregular e a atuação de Tom Hanks não coloca o ator na mira do Oscar. Não por falta de carisma, mas sim por ser tão pequena e contida que não consegue emocionar. Ainda assim, com altos e baixos na trama, a importante mensagem sobre perdão e paternidade pode ficar no coração de alguns e/ou se perder totalmente no de outros. É muita mensagem de efeito para pouca profundidade narrativa.

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