Crítica | Kursk: A Última Missão – Sobra tédio em filme baseado em um evento trágico

Os mistérios em torno do naufrágio do submarino russo batizado de Kursk, no ano 2000, é a base do roteiro, que conta os fatos verídicos de antes e durante o acidente que deixou 118 mortos, sendo que 23 desses marinheiros haviam conseguido sobreviver por um período de dois dias após o acidente. O longa é focado na vida pessoal e na luta pela sobrevivência desses homens, em particular. Assim como em Chernobyl, ainda que a tragédia pudesse ter sido evitada e uma série de erros humanos tenham dificultado o resgate da tripulação, a trama de ‘Kursk: A Última Missão’ perde parte de seu interesse por escolher mostrar mais o acidente do que suas causas e, dessa forma, caminha em passos lentos demais para que possamos nos envolver emocionalmente com seus personagens, algo que força a barra do começo ao fim.

Faz parte construir personagens heroicos e fortes em filmes de sobrevivência para que possamos torcer por sua luta e determinação diante das dificuldades, porém, utilizar tempo de tela além do normal para desenvolver uma ligação com o passado e provar que aqueles homens eram “pessoas de bem”, certamente afeta o ritmo, sem contar que, mesmo que seja de praxe para situar a história, o mergulho em suas vidas pessoais soa mais como uma manipulação de emoção do roteiro por conta do desfecho trágico do que para o funcionamento da narrativa, que só engrena após mais de 20 minutos de filme e segue desequilibrada até o final. Outro elemento inserido de forma gratuita é a proporção de tela, que começa fechada e amplia assim que o submarino mergulha no mar. Por mais estiloso que possa ser, seu uso em nada acrescenta ao filme e a sua história. Se pegar obras como ‘Mommy’ e ‘Lucy in the Sky’, por exemplo, onde esse recurso é feito com coerência, vai compreender melhor o que digo.

Apesar da desarmonia inicial, a trama até consegue se reerguer em seu segundo ato, momento também em que a direção de Thomas Vinterberg (A Caça), realizador conhecido por fundar com Lars Von Trier o movimento Dogma 95, se torna menos caótica e mais centrada em narrar a história, seguindo padrões já estabelecidos por outras produções similares. A ausência de originalidade nos planos e na construção do vai e vem de dentro do submarino com o resgate do lado de fora pesa, mas ao mesmo tempo, situa o espectador nesse tipo específico de drama/thriller e em suas características que causam tensão e expectativa. Nesse quesito, tanto a direção quanto o roteiro são eficazes. Já o elenco, que é composto por diversos rostos conhecidos, entrega o necessário sem pontos altos. Ainda que tenha a presença de Colin Firth (O Discurso do Rei) e Léa Seydoux (Azul é a Cor Mais Quente), apagados na trama, o destaque fica mesmo para Matthias Schoenaerts (Operação Red Sparrow) e sua entrega mediana.

Ainda que a parte técnica, como um todo, não seja lá grandes coisas e os efeitos especiais toscos tenham sido utilizados além da conta, o maior problema do longa está em sua falta de iniciativa de ser um filme de ação assumido e se manter apenas no drama sem ritmo. Cenas mais dinâmicas, movimentadas e uma trilha intensa, teriam feito total diferença no resultado e, mesmo que seja uma história carregada de tristeza e incerteza, a inserção de energia e ânimo seria ainda mais eficaz para provocar emoção, já que é objetivo do roteiro ressaltar os heróis que os personagens são. O recente ‘Fúria em Alto Mar’, por exemplo, ainda que seja uma galhofada, se assume da forma que é e consegue deixar o contexto de “submarino preso no fundo do mar” mais atrativo e estimulante.

Dessa forma, ‘Kursk: A Última Missão’ falta ser polido e encontrar um equilíbrio entre o drama e ação. Mesmo com rostos conhecidos no elenco e um diretor criativo, o longa é cansativo, desinteressante e falha em sua missão de provocar emoção através da tragédia, já que leva tempo demais até compreender que é o tempo a chave da trama e é trabalhando com ele que se segura o interesse do público. A história é até envolvente e intensa, mas retratada da forma mais inexpressiva possível, apenas replicando elementos já explorados em tantas outras sem, ao menos, ter o interesse de criar sua própria narrativa.

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