Crítica | Dois Papas – Bastidores da Igreja Católica em trama sobre união

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Por tirar o foco da religião e mostrar o lado burocrático de ser um grande líder mundial, o filme ‘Dois Papas’ (The Two Popes), de Fernando Meirelles (Ensaio sobre a Cegueira, Cidade de Deus) para a Netflix, mergulha no imaginativo e desenvolve uma trama sobre uma série de encontros e reuniões entre o Papa Bento XVI e Jorge Mario Bergoglio, que veio a se tornar o Papa Francisco no futuro. Com essa liberdade criativa, o diretor cria um interessante diálogo de união dentro da Igreja Católica, porém, é inevitável não sentir a glamourização que o roteiro desenvolve em torno do que realmente aconteceu.

Se colocarmos os protagonistas como figuras metafóricas, que representam dois pontos de vistas diferentes e que dialogam entre si para servir de propaganda de unificação, o longa faz mais sentido do que se o colocar como biográfico ou “baseado em fatos”. É exatamente essa oposição e discursão de crenças que dão energia a trama. Enquanto um representa o lado conservador da igreja, o outro é quase que santificado de tão simples, gentil e honesto. Ainda que seja um filme sobre duas figuras distintas e suas conversas calorosas sobre o propósito de Deus e/ou como é ser líder do povo, o filme é sobre, acima de tudo, a jornada do Papa Francisco e sua bondade, que o torna também o Papa mais distinto e tolerante de todos.

Além disso, o roteiro (escrito por Anthony McCarten, de ‘Bohemian Rhapsody’) utiliza imagens de arquivo e recria algumas cerimonias que nós não temos acesso. Com humor inesperado, traz para o palpável os bastidores de situações rotineiras dentro do Vaticano, mesmo que use algumas invenções para dar fluidez a história, dessa forma, a narrativa acaba sendo mais interessante e, por incrível que pareça, divertida e prazerosa de se acompanhar. Muito devido à direção astuta, corrida e estilo documental de Meirelles. Ainda que irregular em certos momentos, há qualidades e planos elaborados para realçar sentimentos, como a câmera que se aproxima do rosto dos personagens gradativamente conforme os diálogos se intensificam. O problema de Meirelles é o exagero, seja na tentativa de engrandecer sua trama simplista ou mesmo de forçar o cômico com situações inusitadas para tornar os Papas “gente como a gente”, como comer pizza, tomar Fanta e assistir futebol.

Mesmo que tenha uma diversão inesperada e a direção de arte também roube a cena, com o glamour das roupas extravagantes dos membros da Igreja. O maior de todos os acertos do longa é a escalação de Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes) e Jonathan Pryce (A Esposa). Ambos estão impecáveis nos papeis, em especial, Pryce, que além de ser visualmente parecido, ainda incorpora o olhar doce e gentil de Francisco. A química entre eles equilibra as cenas que dividem juntos e dá prazer de assistir a naturalidade que lidam com as situações propostas pelo roteiro. O carisma de ambos faz o argumento funcionar ainda mais interessante, sendo os momentos de flashbacks (ainda que estilosos em preto e branco) os mais fracos, exatamente por não ter a presença dos atores. 

Com isso, Fernando Meirelles entrega-se a situações imaginadas para propor uma trama sobre união em prol de algo maior, ao mostrar os bastidores e a burocracia da Igreja Católica, com ‘Dois Papas’. A força do elenco segura os diálogos expositivos e o humor carrega a história com mais entusiasmo do que se poderia esperar. O intuito é bom e funciona, mas é inevitável não sentir que o longa fantasia demais relações que foram muito mais frias e calculistas na realidade.

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