Crítica | ‘Judy’ esquece de mostrar a importância de Judy Garland

Publicidade

O ano foi marcado por cinebiografias e retornos triunfais de astros e estrelas que estavam hibernando em busca de um papel ideal. Com a imediata aceitação do público após o sucesso de ‘Bohemian Rhapsody’, as portas foram abertas para obras como ‘Rocketman’, e agora ‘Judy: Muito Além do Arco-Íris’ (Judy), drama que mostra a vida adulta da atriz e cantora Judy Garland, uma das mais talentosas e importantes da chamada “Era de Ouro” de Hollywood. Tanta fama e popularidade esconde também polêmicas de uma vida regada de infelicidades e abusos, que são dissecados no roteiro do longa, estrelado com vigor e maestria por Renée Zellweger (O Bebê de Bridget Jones), irreconhecível no papel da protagonista que dá título ao filme.

Ao seguir o mesmo padrão de outras cinebiografias, o roteiro intimista caminha por sua adolescência conturbada, logo após interpretar Dorothy em ‘O Mágico de Oz’ (1939), e segue para mostrar os últimos anos de vida e como o uso de remédios e álcool contribuíram para sua decadência após traumas e infelicidades que viveu ao longo do tempo que foi uma das queridinhas de Hollywood. Essa “desconstrução de deuses” segue exatamente o mesmo modelo de outras inúmeras obras e a proposta da trama é evidenciar esse lado obscuro e solitário por trás de uma grande estrela. Por não agregar novidade, a trama se torna previsível e menos impactante do que poderia ter sido, porém, a jornada da protagonista rumo ao fracasso é desoladora e consegue manter uma conexão de empatia com o espectador, mesmo que seja um período curto da vida de Garland a ser explorado.

Outro grande detalhe desse tipo de obra e que também é explorado aqui são os figurinos e a direção de arte impecável, colorida e viva. A extravagância da fama e os luxuosos ambientes dos estúdios são trabalhados minuciosamente pela produção, até mesmo, reconstruindo cenários de alguns filmes clássicos da atriz. Imersa na metalinguagem, a direção de Rupert Goold (A História Verdadeira) também ganha destaque positivo com belos planos sequência e enquadramentos fechados, que exaltam a magia entorno de Garland e toda sua doçura, também captada pela interpretação de Renée Zellweger, mesmo que caricata e exagerada em certos momentos, sua expressão corporal e entrega é evidente e transparece dedicação, de longe, o trabalho mais desafiador da carreira e, sem dúvida, o elemento que sustenta o filme e o carrega nas costas.

Mesmo que qualidade técnica seja o ápice, o roteiro, como havia citado, é fraco em reforçar clichês do gênero, como o do amante produtor que se torna manipulador ou mesmo os chefes que aproveitam o talento e a inocência do artista, ou seja, a sensação de que isso já foi feito é frustrante e distancia de qualquer envolvimento profundo que possa nos surpreender. Além disso, a trama e a direção estão mais preocupadas em ressaltar a performance de Zellweger do que, de fato, mostrar a importância que Garland teve para a história do cinema. Esse desequilíbrio faz o projeto perder grande parte de sua magnitude e a homenagem soa enfraquecida e em segundo plano. O foco e a ambição de estar no Oscar impede que haja momentos realmente deslumbrantes.

Com exceção de uma cena impecável ao som de “Somewhere Over The Rainbow” e de uma interpretação passional de Renée Zellweger, o roteiro se perde em sua própria ambição ao seguir modelos pré-prontos e desperdiçar a chance de mostrar todo o brilhantismo que Judy Garland possui. Poderia ter sido uma obra de arte, assim como a carreira meteórica da atriz, mas no fim das contas, é só mais um filme fraco e vazio cujo tema é a decadência de uma estrela.

Este filme foi assistido na cobertura oficial do Festival do Rio 2019.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você também pode gostar: