Crítica | A Dama e o Vagabundo é fofo, carismático e despretensioso

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A Netflix, gigante do streaming mundial, se tornou uma válvula de escape para alguns lançamentos que, por diversos motivos, se tornariam um fracasso nas salas de cinemas, mas que encontram seu público online e minimizam o prejuízo. Dessa mesma forma, o serviço de streaming da Disney, denominado Disney +, serve como uma alternativa de lançamento de longas que certamente teriam uma bilheteria baixa para os padrões do estúdio, com isso, é uma plataforma que exige demanda de novos conteúdos e que não está tão preocupada com o sucesso nos cinemas, já que as salas estão cada vez mais restritas a filmes de super-heróis e blockbusters de grande orçamento. Tendo isso explicado, faz sentido que o live-action da clássica animação de 1955, ‘A Dama e o Vagabundo’ (Lady and the Tramp), tenha sido liberado no streaming e não nos cinemas, já que, assim como ‘Dumbo’, representa uma visão ultrapassada de uma época que tem dificuldade de se conectar com o público de hoje.

Não que a Disney não tenha plena consciência desse fato, ao menos, no quesito atualizar discursos datados e corrigir erros, o estúdio tem sido bem rigoroso. Como dar um final mais leve e uma mensagem de preservação em ‘Dumbo’ e de dar voz e empoderamento à personagem Jasmine, de ‘Aladdin’. Com ‘A Dama e o Vagabundo’ não é diferente, já que a animação (por ser o retrato dos anos 50) possui pouca diversidade e defende a divisão de classes, ainda que não intencionalmente. Agora, o longa traz um elenco e figurantes negros com vigor, um casal de protagonistas humanos formado por um homem branco e uma mulher negra, tratado com a naturalidade que deve ser, e algumas outras reparações bem-vindas, porém, a trama infelizmente não consegue fugir do fato de ser obsoleta, por melhor que sejam as intenções.

Se por um lado o roteiro está preocupado em desenvolver uma versão mais inclusiva do clássico, por outro, esquece de elaborar uma trama consistente, já que a história até tem uma apresentação adequada e o desenvolvimento dos personagens é eficiente, mas se apressa, põe os pés pelas mãos e entrega um desfecho mal resolvido. A direção de Charlie Bean (Lego Ninjago: O Filme) é coerente com a proposta de ser um filme menor, contido e feito para outra plataforma que não seja o cinema. O diretor até entrega bons planos, com sequências aéreas pela cidade e enquadramentos visualmente trabalhados em cima da animação. A cena clássica do jantar a luz de velas dos cachorros está idêntica à original, assim como outros momentos que são recriados com respeito e cuidado com o material de base, algo que certamente agradará fãs mais devotados, porém, o espaço que teve para expandir e trazer novidades é limitado e mal explorado pelo diretor, assim como no live-action/remake de ‘O Rei Leão’.

E por falar em ‘O Rei Leão’, diferente da tecnologia ultrarrealista que o diretor Jon Favreau emprega, aqui o CGI no rosto dos animais é humanizado. Os cachorros possuem expressão facial e, por mais que possa parecer estranho inicialmente, faz sentido dentro da proposta. A mistura de CGI com animais reais aproxima o filme de convencional, mesmo que em algumas sequências de ação os movimentos possam parecer falsos e sem leveza. Mas claro, é a voz doce de Tessa Thompson (Dama) e o gingado malandro de Justin Theroux (Vagabundo) que dão personalidade e carisma aos personagens, uma escolha perfeita do estúdio, que resgata a inocência da animação cujo forte é mesmo o contraste entre o casal. Assim como em ‘A Bela e a Fera’ e ‘Romeu e Julieta’, o filme lida com o amor impossível e talvez por isso soe tão brega hoje, mas como recorte de uma época específica, é a grande sensação. Já o humor, funciona com naturalidade, porém, é o romance entre a dupla que arranca suspiros e mantém o feitiço da história.

Dessa forma, o live-action de ‘A Dama e o Vagabundo’ é fofo, carismático e despretensioso, como se poderia esperar, mas é exatamente esse o grande problema: é previsível demais. O desperdício de mais uma história sem que haja alguma novidade que possa justificar um remake, ainda mais quando a trama é ultrapassada e representa o recorte de uma época que não dialoga com os dias de hoje. No entanto, a tentativa da Disney de trazer um elenco de vozes diversificado é um frescor e mostra que, mesmo com algo datado, o estúdio está focado em se redimir. Só falta mesmo conseguir equilibrar a redenção com um bom roteiro.

Onde assistir: Vale lembrar que o filme foi lançado diretamente no streaming da Disney e não irá para os cinemas. O serviço Disney+ chegará no Brasil apenas em 2020.

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