Saber que o Superman ganharia mais um remake nos cinemas não parecia motivo de empolgação. Vamos ser honestos: esse ciclo interminável de reboots já cansou até pros fãs. Embora seja uma figura imponente e central da cultura pop, o herói já teve todas as suas versões possíveis nas telonas — e depois da abordagem desastrosa com Henry Cavill sob a direção terrível de Zack Snyder, parecia um erro insistir em recomeçar o universo da DC justamente por ele. Mas não é uma delícia estar redondamente enganado?
James Gunn provou (mais uma vez!) ter algo raro entre os cineastas pop: visão de futuro. Com ousadia e um otimismo, mostrou que o Superman ainda pode ser um excelente ponto de partida — e, mais que isso, uma peça-chave para colocar a DC de volta no jogo, especialmente após o desgaste evidente da outrora dominante Marvel Studios.
Assumir o desafio de reconstruir o universo da DC praticamente do zero, apostando em mais cor, humor e leveza, exigia coragem de sobra. E muitos já dizem que a DC se “marvetizou”, mas a verdade é que Gunn propõe algo melhor: uma versão do Superman mais política e emocional — e sem medo de abraçar o tom clássico, até cafona, do personagem criado lá nos anos 1930.
Não é surpresa que o diretor responsável por transformar um grupo B da Marvel nos adorados Guardiões da Galáxia tenha descoberto como fazer o Superman decolar novamente. Seu novo filme não só entrega um Homem de Aço como ele sempre deveria ter sido, como também inaugura com força um novo e promissor universo compartilhado. Um recomeço digno e, quem diria, esperançoso.
Índice
Os acertos e erros de Superman

O primeiro acerto de James Gunn é entender que o público já está exausto de histórias de origem. Por isso, ele escolhe começar seu filme em um ponto em que tudo já está em movimento. O passado do Superman é mostrado apenas o suficiente: sabemos da sua origem em outro planeta, do papel de seus pais e da sua já estabelecida relação com Lois Lane — vivida com carisma e segurança por Rachel Brosnahan. Esse atalho narrativo é crucial para afastar a sensação de déjà vu e abrir espaço para algo mais fresco.
A partir daí, o herói decola — literalmente e narrativamente — em aventuras que remetem a passagens clássicas dos quadrinhos. Gunn ainda mergulha em uma abordagem política que, com sutileza, reforça o simbolismo do Superman como um imigrante: alguém poderoso, mas deslocado, tentando encontrar seu lugar em um mundo que nem sempre o compreende.
David Corenswet entrega um Clark Kent mais mimado e até arrogante em alguns momentos, mas com a ingenuidade, a bondade e o idealismo exagerado que sempre definiram o personagem. Mais expressivo e leve que seu antecessor, ele parece genuinamente se divertir no papel, e isso se reflete na tela. Sua química com Brosnahan é outro ponto forte, impulsionada pelo timing cômico preciso da atriz de A Maravilhosa Sra. Maisel, que dá uma nova energia à dinâmica clássica entre Lois e Clark, especialmente no Planeta Diário.

A obra remete ao espírito dos longas de super-herói dos anos 2000, como X-Men e Homem-Aranha, ao centrar sua narrativa em torno da responsabilidade de ter poderes em um mundo frágil e em constante conflito. Esse dilema, que é a espinha dorsal de qualquer boa história de herói, ganha peso real aqui. Mas a grande diferença desta nova versão está na sensação de mundo vivido. O universo apresentado é amplo, seus personagens são sólidos e tudo parece já existir há muito tempo. Em apenas duas horas, o filme não só reintroduz o Superman como estabelece com segurança as bases de um novo e promissor DCU nos cinemas. E isso, por si só, já é um feito considerável.
Gunn aposta em uma abordagem mais cósmica (quem diria?) ao amplificar a megalomania de seu vilão, Lex Luthor — agora interpretado por Nicholas Hoult. Apesar da expectativa, Luthor acaba sendo um ponto fraco do filme: seus diálogos flertam com o cafona, e sua obsessão pelos meta-humanos beira a forçação de barra. Patético demais. Hoult entrega o necessário para o papel, mas sem camadas ou complexidade real. Todo o núcleo vilanesco, aliás, parece uma herança desgastada da era Snyder.
Por outro lado, quem realmente brilha é Krypto. O cão do Superman rouba a cena com seu comportamento caótico, impulsivo e adoravelmente realista — quase como um cachorro de verdade em meio a super-heróis. Ele funciona como o melhor alívio cômico do filme, equilibrando a trama com leveza.
Há muitos elementos em cena (kaiju, Gangue de Justiça, universos compactos e etc) — talvez até demais — e nem todos recebem o tempo ou o desenvolvimento que merecem. Mas, curiosamente, isso não atrapalha tanto quanto poderia. Ao invés de parecer desorganizado, o excesso de personagens e tramas paralelas ajuda a comunicar que o universo da DC já está em funcionamento, com conflitos e histórias que nem sempre terão o Superman como protagonista.

No desafio de criar um novo mundo do zero, Gunn faz justamente o oposto: nos apresenta a um universo que já existe, já pulsa. A construção é simples, criativa e funcional. O roteiro, ainda que simplista em alguns momentos, reserva boas nuances e surpresas pontuais. Sim, há tropeços — como a reviravolta boba envolvendo um clone do herói —, mas o saldo final é positivo.
A invencibilidade do Superman sempre foi um desafio narrativo — e aqui não é diferente. Sem grandes traumas em seu passado, o herói muitas vezes soa mais como uma entidade divina em busca de propósito do que como alguém com quem o público possa se identificar. Gunn tenta contornar isso ao inserir dúvidas internas no personagem: um Superman em conflito com suas próprias convicções, perdido entre seu ideal de justiça e a descrença da humanidade em aceitá-lo como salvador. Funciona, até certo ponto, mas ainda é pouco para dar profundidade real.
As sequências de ação, por sua vez, seguem a assinatura de Gunn: são agitadas, coloridas e embaladas por uma câmera nervosa que dá ritmo e energia às cenas, mesmo em meio ao excesso de CGI. São cenas divertidas, mas não exatamente inovadoras. Nada aqui soa realmente novo ou surpreendente — com exceção da trilha sonora, que se destaca ao preencher bem os silêncios e reforçar o tom animado da narrativa.
As lutas são sim grandiosas, imersivas e bem coreografadas — mas isso, honestamente, já era o mínimo esperado. A sensação é de competência técnica, mas sem grandes ousadias. Gunn entrega o espetáculo, mas ainda falta à obra aquele impacto que faz um filme de super-herói se tornar inesquecível.

Veredito
Sem perder tempo com mais uma história de origem já conhecida, James Gunn inicia sua jornada na DC com um filme otimista, assumidamente divertido e fiel à essência do Superman. E não é justamente assim que o herói sempre deveria ser? Superman marca um excelente recomeço para o novo universo compartilhado da DC, apostando em inventividade e leveza. Mesmo com um vilão raso e diálogos que soam cafonas em alguns momentos, o longa se sustenta como uma explosão de energia, confiança e carisma — o tipo de entretenimento que lembra por que o cinema de super-heróis pode ser, sim, um parque de diversões nas telonas.
Há uma profusão de elementos e personagens em cena — muitos ainda a serem desenvolvidos nos próximos capítulos —, mas David Corenswet já se mostra um Superman promissor, superando com folga o carisma limitado de seu antecessor. O filme tem seus excessos e certa afobação em querer mostrar tudo de uma vez, mas acerta no mais difícil: nos convencer de que esse mundo já está vivo e pronto para ser explorado. A DC, enfim, parece ter compreendido que um bom filme — seja ele de super-herói ou não — precisa tocar o público. E se isso significa repetir fórmulas que funcionam, tudo bem. Superman é grandioso e simbólico, mas também acessível e apaixonante. E, nesse momento, isso já é mais do que suficiente.
Nota: 8/10
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