Faz um tempo que os thrillers tecnológicos estão presos a fórmulas repetitivas, mas Christopher Landon parece ser o sujeiro que sabe muito bem como dosar o suspense com gotas de ação e mistério que deixam seus filmes tão bem elaborados e divertidos de serem assistidos. Após os sucessos com o público teen A Morte Te Dá Parabéns e Freaky – No Corpo de um Assassino, o cineasta da Blumhouse mostra que também domina, e talvez até com mais precisão, o suspense voltado para o público adulto.
Em Drop: Ameaça Invisível, Landon transforma a aparentemente inofensiva função AirDrop de um smartphone em um verdadeiro pesadelo moderno de dar paranóia. Com uma premissa simples, mas eficaz, ele prende o espectador do início ao fim em sua obra mais madura e eletrizante até agora.
Os acertos e erros do filme
Mais uma vez provando que das ideias mais simples podem surgir os filmes mais memoráveis, Drop não perde tempo tentando reinventar a roda ou subverter a fórmula dos thrillers em tempo real. Em vez disso, aposta em um ritmo ágil e em uma execução afiada, abrindo espaço para brincar com expectativas e usar truques de roteiro que confundem e surpreendem o espectador.
A maneira como Landon incorpora as mensagens de texto na tela é criativa, envolvente e cheia de personalidade. Inspirando-se em clássicos como Quando Um Estranho Chama e no subgênero de home invasion, o diretor costura esses elementos com maestria, entregando uma experiência que parece uma versão contemporânea da estética narrativa de Alfred Hitchcock — cheia de tensão, mistério e domínio absoluto sobre a atenção do público. Ou quem sabe de M. Night Shyamalan?

Na trama, acompanhamos Violet, uma mulher quarentona, mãe e viúva, que decide se aventurar novamente no universo dos relacionamentos modernos após um trauma profundo ligado à violência doméstica. O que deveria ser apenas um encontro romântico, em um restaurante a mais de 30 andares do chão, rapidamente se transforma em uma agonia: ela se vê refém de um homem misterioso que invade seu celular e, pior, sua casa. Aterrorizada, Violet descobre que precisa cumprir uma missão terrível ao longo da noite se quiser manter seu filho em segurança.
Durante esse encontro nada confortável, o filme se diverte com o cenário sofisticado, os poucos personagens repletos de segredos e uma atmosfera constante de mistério sobre quem, de fato, é o sequestrador. Drop combina ansiedade, angústia e terror psicológico em uma mistura eletrizante de sensações, servida com elegância em uma narrativa que é ao mesmo tempo tensa e estilosa.

E, claro, para que essa receita funcione de verdade, o elenco precisa estar no ponto — e aqui, está. Meghann Fahy (The White Lotus) entrega uma performance intensa e convincente como uma final girl nada óbvia (e do melhor tipo!), que precisa usar mais a inteligência do que a força para sobreviver. Ela constrói uma Violet vulnerável, mas também determinada, cuja força nasce do trauma e da experiência. Já Brandon Sklenar (É Assim Que Acaba) interpreta Henry, um fotógrafo bonitão, paciente e aparentemente inofensivo — mas que, aos poucos, revela camadas mais sombrias. Sklenar acerta em cheio com seu charme de “bom moço”, essencial para sustentar a ambiguidade do personagem e manter o público em constante dúvida.
Depois de sobreviver a um casamento abusivo, Violet vive em alerta, se perguntando se todos os homens escondem alguma ameaça — e essa dúvida se torna também a nossa. O roteiro trata com sensibilidade a questão dos “monstros disfarçados de homens comuns”, mas evita o erro de generalizar, tropeço comum em muitas produções recentes. Ao contrário, Drop acerta ao construir uma narrativa que surpreende justamente por fugir dos extremos fáceis, equilibrando crítica social com uma história pulsante e cheia de tensão.

No entanto, nem todos os elementos dessa abordagem mais séria funcionam com a mesma força. As tentativas de alívio cômico soam dispensáveis, o clímax escorrega para o lado do exagero e o desfecho não alcança totalmente o impacto que vinha sendo prometido ao longo da trama. Algumas boas reviravoltas acabam se diluindo, dando lugar a uma explicação um tanto rasa e simplista, que merecia mais profundidade. No fim das contas, a jornada é bem mais empolgante do que a resposta que ela entrega.
Veredito
Com isso, Christopher Landon faz um uso excelente do cenário claustrofóbico, do tempo real e das alturas vertiginosas, criando uma atmosfera de tensão constante em sua obra mais madura até agora. Drop: Ameaça Anônima é um suspense despretensioso, mas elegante e eficaz, dirigido por alguém que claramente domina o gênero e sabe como conduzir o espectador em uma montanha-russa de emoções — mesmo que o destino final não seja tão memorável quanto o trajeto.
Até mesmo Alfred Hitchcock perderia o fôlego com esse filme que parece, em muitos momentos, prestar uma homenagem ao seu domínio absoluto sobre o público. Drop é envolvente e afiado — como um primeiro encontro cheio de segredos, onde qualquer deslize pode ser fatal.