Crítica | O Brutalista – Construído para durar

Tem filmes que realmente são construídos para durar. O Brutalista não apenas preenche a óbvia cartilha básica do Oscar, mas também se impõe como uma experiência dramática grandiosa em plena era do streaming. Com suas três horas e meia de duração (incluindo um intervalo), assisti-lo é como maratonar uma série: exige atenção, fôlego e comprometimento, mas a recompensa ao final é inegávelmente saborosa.

Claro que a temática da imigração de refugiados nos EUA é sempre relevante, e ganha ainda mais força diante da atual gestão brutal de Trump. No entanto, o que torna o filme verdadeiramente marcante é seu espírito de vingança, sua vontade feroz de expor as entranhas apodrecidas da América – tudo isso com uma estética profundamente artística e uma emoção genuína. E como em qualquer grande construção, os responsáveis pelo alicerce são fundamentais: Adrien Brody, em cena, e o diretor Brady Corbet, na visão. Sem eles, O Brutalista não passaria de um shopping center sem vida.

Os acertos e erros de O Brutalista

Apesar de ser uma história ficcional, quando László Toth vê a icônica Estátua da Liberdade pela primeira vez, na cena de abertura do filme, ela está de cabeça para baixo. O ano é 1947, e Toth — um arquiteto húngaro-judeu que sobreviveu ao Holocausto — chega aos Estados Unidos para recomeçar. Na verdade, a estátua apenas parece invertida devido à perspectiva distorcida de Toth. Mas essa ilusão visual transforma-se em um poderoso presságio: esta não é uma história de triunfo. Como diz um personagem em certo momento: “nós aqui apenas toleramos você”.

A partir dessa premissa densa e perturbadora, O Brutalista constrói sua narrativa entrelaçando arquitetura, cinema e crítica social. A jornada de Toth é dolorosa e se torna cada vez mais sombria à medida que ele se envolve com uma família americana rica que deseja apenas explorar sua visão artística — e abusá-lo e humilhá-lo de todas as formas possíveis.

Com um roteiro primoroso, as quase quatro horas de filme se desdobram em uma narrativa lenta, mas profundamente imersiva, movida por sonho, raiva e um desejo crescente de vingança. Assim como o brutalismo arquitetônico dispensa ornamentações e foca na essência da estrutura, O Brutalista utiliza esse conceito para moldar sua estética e sua mensagem. Cada pilar narrativo sustenta uma obra cinematográfica de grande relevância para os dias atuais. E é nos minutos finais que Brady Corbet (Mistérios da Carne) — em seu melhor trabalho até aqui — revela a força dessa metáfora brutal.

Toth sobreviveu a um dos muitos campos de concentração na Alemanha. Durante a 2ª Guerra Mundial, foi separado de sua esposa (interpretada por Felicity Jones) e, agora, nos Estados Unidos, carrega a esperança de reencontrá-la. Grande parte da trama se desenrola em torno desse trauma, enquanto ambos tentam se reconstruir após uma dor irreparável.

Mas O Brutalista vai muito além da jornada de um imigrante e suas dificuldades. O filme disseca os ciclos de violência que se repetem, de formas diferentes, em todas as camadas da sociedade. Essa abordagem ganha ainda mais força com uma trilha sonora monumental e uma montagem meticulosamente planejada, tornando cada cena um golpe emocional preciso. Tecnicamente, a obra é impecável: da fotografia, o som à escala de produção, cada detalhe é de arrepiar. Corbet filma com um olhar penetrante, íntimo e amplo como poucos hoje em dia.

O elenco está totalmente entregue, e embora Adrien Brody (O Pianista) seja o coração da trama com uma performance intensa e profundamente emocional, Guy Pearce (Amnésia) equilibra essa dualidade sombria, adicionando ainda mais profundidade à narrativa. Os personagens são humanos, complexos e repletos de camadas, mantendo o filme envolvente, mesmo quando se permite algumas divagações que, sim, poderiam ter sido enxugadas na edição.

Apesar de sua longa duração, não se arrasta, mas exige um alto nível de atenção e comprometimento do espectador — algo que nem sempre estará presente. Se não fosse pelas 10 indicações ao Oscar 2025, que inevitavelmente despertam a curiosidade do público, o filme certamente teria um apelo comercial ainda mais restrito.

Veredito

Épico em escopo, O Brutalista é o filme que os Estados Unidos precisam neste momento. Brady Corbet expõe, sem anestesia, as feridas de uma América “pura” e excludente, alimentada pelo nacionalismo cruel de Trump, e como a história de medo e brutalidade segue se repetindo através do tempo.

Monumental em sua escala e tecnicamente impecável, o filme abraça sua própria ambição para construir uma jornada dolorosa e honesta sobre um homem violado, humilhado e reduzido à condição de mero instrumento a serviço dos poderosos que controlam o mundo. E, apesar de sua longa duração, essa história não se esgota ao final da projeção — ela fica com você.

Com alicerces sólidos e concreto resistente, O Brutalista é uma obra erguida sobre o solo manchado de sangue da América e projetada para ecoar por gerações.

NOTA: 9/10

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