Crítica | Longlegs – Agora sim será difícil não sonhar com Nicolas Cage

O cinema de horror tem sido cada vez mais impulsionado por uma corrida voraz para produzir o próximo “melhor do ano” no gênero, ou o “mais traumatizante desde Hereditário”. Isso cria uma competição cansativa em busca do filme mais intenso, da obra mais impactante e do horror mais elevado. No entanto, ser o “terror do ano” não significa necessariamente ser perfeito, mas sim saber brincar com as expectativas e o imaginário do público.

E nisso, Longlegs: Vínculo Mortal se destaca graças a uma campanha de marketing brilhante que o tornou inesquecível. A estratégia de esconder o rosto do vilão e manter a trama envolta em mistério, aliada à atmosfera sufocante do filme, transformou-o em um dos grandes eventos cinematográficos deste ano.

Contudo, essa estratégia de marketing não é o único fator que comprova a qualidade de Longlegs. O terror do filme é engenhosamente construído em cada detalhe, subvertendo clichês do gênero e transformando familiaridades em algo mais profundo, imersivo e perturbador.

O cineasta Oz Perkins (Maria e João: O Conto das Bruxas), parte da nova geração de diretores com visões ousadas e distorcidas, manipula elementos clássicos do horror, conferindo-lhes uma aura de maldade sem igual. Em sua versão de um thriller de serial killer, Perkins mescla o realismo brutal de uma cena de crime com a surrealidade de um pesadelo vívido, criando um Silêncio dos Inocentes para a era moderna.

Os acertos e erros do filme

Na sua narrativa, Longlegs transita por diversos subgêneros, buscando criar uma fusão original no contexto de filmes sobre true crime. O filme combina a estética crua de filmagens caseiras com elementos dos mais perturbadores já vistos em histórias sobre assassinos em série.

O que Oz Perkins faz com maestria é construir um horror atmosférico tão denso e imersivo que parece envolver o espectador em uma neblina opressora. Com uma trilha sonora intensa e estranhamente desconcertante, somada a imagens grotescas extraídas diretamente de um pesadelo febril, Longlegs mergulha no imaginário sombrio e satânico, mexendo profundamente com nossa percepção.

No entanto, além dos elementos sobrenaturais e dessa essência maligna que permeia a obra, o filme ganha ainda mais força ao explorar a caçada a um serial killer sob a perspectiva de uma agente do FBI com habilidades especiais. Essa abordagem aproxima o filme de grandes obras do gênero, como Zodíaco e Se7en – Os Sete Crimes Capitais, dando-lhe uma dimensão mais realista e inquietante.

Para atingir esse nível de impacto, o drama em Longlegs é intenso e a narrativa se desenrola de forma lenta e calculada, o que pode não agradar a todos os públicos. A história de Lee Harker, vivida pela talentosíssima Maika Monroe (Corrente do Mal), se desenvolve gradualmente, com uma progressão que vai revelando aos poucos as camadas de mistério.

A trama explora tanto a identidade e o paradeiro do assassino conhecido como Longlegs quanto a enigmática conexão de Harker com ele, que pode ser a chave para solucionar os assassinatos. Embora nem todos os momentos da narrativa sejam igualmente eficazes, o filme guarda surpresas intrigantes para o final, embora algumas revelações, como a presença de Nicolas Cage (O Homem dos Sonhos) como o vilão bizarro, ocorram um pouco cedo demais.

No entanto, Cage, no melhor momento de sua carreira, entrega uma das performances mais singulares, estranhas e inesquecíveis. Ele encarna o mal de forma visceral, trazendo à vida um pesadelo do qual o espectador quer desesperadamente fugir. É uma das atuações mais desafiadoras que já fez e ele brinca em cena como se fosse só mais um dia normal. De fato, é impossível sair do cinema sem ter o rosto deformado de seu personagem gravado na memória.

Oz Perkins é um diretor de forte identidade e competência. Sua paleta de cores nubladas e estética gótica moderna são traduzidas com maestria neste filme, impulsionadas por uma direção de fotografia belíssima, intensa e sufocante. Não há espaço para luz ou esperança, apenas desespero e sombras que preenchem todos os cantos. Esse ambiente cria uma aura maligna que se alinha perfeitamente com o tom de pânico satânico da história.

Mais do que assustador, o filme se destaca quando busca ser chocante e denso, oferecendo uma imersão profunda na mente de alguém que persegue assassinos cruéis. Ao invés de recorrer a sustos baratos ou clichês, o terror aqui é construído de forma meticulosa e palpável, resultado de uma direção extremamente controlada. Embora o ritmo apresente alguns deslizes evidentes, o filme nunca perde de vista seu objetivo final.

Veredito

O sucesso de Longlegs vai muito além de uma campanha de marketing eficaz; ele se deve à autenticidade, singularidade e escuridão que o cinema de terror não tem ousado explorar ultimamente. Não é uma experiência fácil, e apesar dos tropeços no ritmo, o filme constrói um pesadelo inquietante e satânico, com Nicolas Cage em uma atuação lendária. Agora, fica claro como ele continua a assombrar os sonhos das pessoas desde seu papel em O Homem dos Sonhos.

Longlegs é um terror sólido, estiloso, lindamente filmado e profundamente atmosférico. Embora não seja para todos, e certamente não para os fãs do terror mais convencional, o filme desafia o gênero a superar seus limites, a fugir do senso comum, criando uma experiência que, para o bem ou para o mal, será inesquecível. Em sua essência, é uma obra bastante ambiciosa, que se esforça para não desmoronar sob o peso de suas próprias promessas e expectativas.

NOTA: 8/10

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