Crítica | Entrevista com o Demônio – Terror evoca o lado maligno da TV

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O maior problema de Entrevista com o Demônio (Late Night with the Devil), da Diamond Films, é que sua execução lenta e maçante não faz jus à sua premissa criativa e atmosférica. Embora o filme tenha se tornado um verdadeiro fenômeno este ano e ofereça um clima de horror reconfortante aos fãs do gênero, ele falha em capturar a grandiosidade da história divertida que tinha em mãos.

O resultado é uma obra aceitável, com pontos altos marcantes, mas longe de ser a santidade que muitos estão venerando. Mesmo sendo refrescante em sua proposta e evocando a nostalgia da TV dos anos 70/80, o roteiro falha amargamente em entregar uma recompensa satisfatória. Ainda assim, pelo orçamento limitado que possui, mostra que para fazer um filme de terror inesquecóvel é preciso muito mais do que apenas sustos baratos.

Os acertos e erros do filme

De fato, o terror dos irmãos roteiristas e diretores australianos Cameron e Colin Cairnes não tem sustos óbvios (felizmente!). O filme busca muito mais do que apenas ser um filme da temporada de Halloween. Apesar de evocar arrepios com uma atmosfera de tensão crescente, o longa se destaca por sua ambientação rica em mistérios dentro de um talk show americano noturno. A sensação de estar assistindo a algo quando já deveríamos estar dormindo é brilhantemente capturada pela direção, que mantém pleno domínio do suspense ao recriar o programa e o zeitgeist cultural do momento, especialmente com o clima tenso da década que apresentou Charles Manson e Ted Bundy ao mundo.

A ideia de que a TV antiga guarda mistérios além da compreensão humana está em alta nos cinemas atualmente. Nessa evocação nostálgica, que lembra filmes como Poltergeist e O Exorcista, o terror nos conquista com facilidade. Mas a escolha de ir e vir entre o programa e os bastidores, mostrado em preto e branco, é o que deixa o ritmo totalmente fragilizado através dessa montagem pseudodocumental.

A escolha por efeitos práticos nas cenas de terror e sangue é assertiva e resgata a energia dos anos 70 e 80, conferindo um charme adicional à obra, embora alguns elementos possam parecer questionáveis e datados demais. A trama acompanha Jack Delroy (David Dastmalchian), um apresentador de um programa de televisão dos anos 70 que está tentando recuperar a audiência de seu show após a trágica morte de sua esposa, o que o deixou desmotivado.

Desesperado para reconquistar seu sucesso, Jack planeja um especial de Halloween em 1977, esperando que seja inesquecível. No entanto, o que deveria ser uma noite de diversão se transforma em um pesadelo ao vivo. Tudo começa quando ele convida uma parapsicóloga (Laura Gordon) para falar sobre seu mais recente livro, que trata da única jovem sobrevivente de um suicídio em massa ocorrido em uma igreja satânica. Dai por diante a trama mescla medo pelo desconhecido com culto à fama.

Apresentando-se como uma espécie de found footage de uma filmagem real que “chocou a nação”, o filme sabiamente brinca com os elementos desse subgênero, mas busca ser menos caótico e mais roteirizado. Como resultado, é bem menos assustador do que poderia ser. David Dastmalchian, um ator excelente, parece ter nascido para esse papel. Seu olhar enigmático e envolvente confere ao protagonista uma boa dose de mistério e charme intrigante.

No entanto, o mesmo não pode ser dito do restante do elenco, especialmente da jovem Ingrid Torelli, que se mostra caricata e mal dirigida, entregando uma interpretação de possuída bastante óbvia e sem emoção. Sua personagem é mal explorada. Acima de tudo, o filme falha em seu desfecho apressado e abrupto, após tanta construção de medo.

Veredito

Capturando o zeitgeist de uma década sombria para os EUA, Entrevista com o Demônio utiliza seu roteiro engenhoso para criar uma atmosfera de medo através dos programas de TV noturnos, quando a maioria das pessoas já deveria estar dormindo, dando a sensação de que estamos assistindo a algo proibido.

No entanto, apesar dessa ambientação eficaz, o filme não é tão assustador quanto poderia ser e desperdiça seu potencial de horror com um pseudodocumentário sem ritmo, que perde a sintonia no desfecho. É revolucionário? Longe disso. Mas consegue equilibrar o mistério com o pânico satânico da época, oferecendo uma experiência muito mais divertida do que diabólica. Uma ideia brilhante, mas mal executada.

NOTA: 7/10

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