Crítica | Garfield – Fora de Casa subestima seu público e desperdiça uma boa história

A experiência de ir ao cinema já não é mais a mesma. Fato é que a Internet possibilitou uma forma incrivelmente rápida e acessível de consumir conteúdo, moldando os gostos e até mesmo o hábito das pessoas. Redes sociais e seus short videos tornaram estranho para muitas pessoas o costume de gastar dinheiro para passar duas horas na frente de uma tela vendo um filme que, em poucos dias, será lançado em algum streaming com a mesma qualidade de áudio e imagem. 

Mais que isso, aqueles que optam pelas salas de cinema parecem não saber mais como seguir os protocolos exigidos por esses ambientes. Conversas paralelas e principalmente as luzes dos smartphones dividem o espaço com os filmes que estão sendo exibidos. 

Nesse contexto, partindo de um pré-julgamento pouco embasado, seria fácil deduzir que o público infantil é o mais afetado pelos efeitos da Era Digital, não é? Pois bem, minha experiência recente em uma exibição especial de Garfield – Fora de Casa me fez refletir sobre o quão subestimadas as crianças podem ser. 

Afinal de contas, durante a sessão não fui incomodado por conversas paralelas ou brilhos ofuscantes das telas dos celulares. Mais que isso, as crianças estavam completamente envolvidas pelo filme. Riam quando deveriam rir, sempre reagindo de acordo com o que era proposto pelo longa. As poucas que levantaram com os pais para ir ao banheiro não queriam tirar os olhos da tela, absortas pelas peripécias do gato laranja. 

Vic and Garfield in GARFIELD

Sim, esse texto ainda é uma crítica. No entanto, seria difícil falar sobre a nova aventura de Garfield sem relacioná-la diretamente ao seu público. Isso porque o filme falha justamente porque subestima a audiência infantil.  

Os acertos e erros de Garfield – Fora de Casa

Na trama, o gato Garfield reencontra seu pai, Vic, que o abandonou na rua quando era apenas um filhote. Os dois acabam caindo em uma grande enrascada e precisam se reconciliar para que Garfield consiga voltar para casa em segurança. Porém, essa missão não será simples e a dupla precisará contar com a ajuda de amigos como o cão Odie e o boi Otto. 

A qualidade técnica da animação é indiscutível. Com traços elegantes e iluminação balanceada, os personagens das tirinhas criadas por Jim Davis saltam aos olhos na telona. Bastante lúdico, o filme aposta no tom cartunesco e no humor físico para disfarçar um enredo pouco inspirado. 

Infelizmente, o texto é extremamente simples. A personalidade ácida do gato presente nas HQs é deixada de lado e ofuscada por um protagonista tão raso quanto a história que está sendo contada. As soluções óbvias e os diálogos clichês evidenciam o descaso que a produção teve com o conteúdo em prol da forma do novo filme. 

As crianças certamente vão se divertir com situações cômicas nas quais o felino acaba se metendo. No entanto, a impressão que fica é que elas mereciam mais. O descaso cometido por Hollywood com o público infantil torna-se cada vez mais evidente através de produções que, como Garfield, abrem mão de boas histórias por tramas falsamente sustentadas com belos visuais. Isso tem se tornado cada vez mais comum no mercado de animações.

Cena de Garfield - Fora de Casa

O relato da sessão de Garfield na qual estive presente serve para provar que as crianças podem ser muito mais do que o mundo espera delas. Elas estão mais preparadas do que imaginamos para absorver histórias intrigantes, que despertem a curiosidade e a criatividade não apenas através de imagens, mas por bons diálogos, desenvolvimento de personagens e mensagens. 

Apostar no arroz com feijão, principalmente no ramo das animações, pode ser um grande desperdício. Excelentes profissionais estão depositando suas energias em filmes lindos, mas desprovidos de significado. Crianças querem depositar sua concentração em narrativas cativantes, seja nas telas dos smartphones ou nos cinemas. Por isso, é importante saber aproveitar esse desejo para criar produtos que respeitem a inteligência de seu público.

Nota: 6/10

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