Crítica | Ghostbusters: Apocalipse de Gelo – Desprovido de alma e congelado no tempo

O que torna um filme de aventura e ação realmente cativante? Personagens carismáticos? Sequências de ação emocionantes? Emoções autênticas? Temas sobre amizade e família? Bem, todos esses elementos estão presentes no clássico dos anos 80, Os Caça-Fantasmas. Mas o que define verdadeiramente um filme dos Ghostbusters como um filme dos Ghostbusters?

Com quatro décadas de história nas telonas, é desafiador responder sem cair na armadilha da repetição. Curiosamente, a mais recente empreitada mergulha no lado mais gélido e sombrio desse universo fantástico, com fantasmas assolando Nova York – uma metáfora involuntária da própria franquia, congelada no tempo, presa no gelo da indecisão sobre como progredir e evoluir, dividida entre o receio de desapontar os fãs de longa data e o desejo de atrair uma nova geração, especialmente os jovens da Geração Z.

E se Ghostbusters: Mais Além, de 2021, prometia ser uma lufada de ar fresco, repleto de ideias instigantes que poderiam revitalizar a franquia sem perder sua identidade, sua sequência direta, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, soa como uma repetição superficial, apelando para recursos nostálgicos por mera conveniência de roteiro. É uma narrativa desprovida de alma, repleta de aparições fantasmagóricas medíocres e piadas forçadas que não conseguem arrancar sequer um sorriso genuíno.

Os erros e acertos de Ghostbusters: Apocalipse de Gelo

O que começa com uma eletrizante sequência de ação pelas ruas de Nova York – reintroduzindo o novo elenco e sua dinâmica familiar disfuncional – acaba por afundar em um profundo mar de monotonia ao tentar adotar um humor tão insosso quanto os filmes da Marvel. Esse sólido começo cede lugar a uma trama pouco inspirada assim que apresenta seu grande antagonista: uma entidade antiga e poderosa, capaz de desencadear um verdadeiro apocalipse congelante.

Embora tente seguir a fórmula de ser maior e mais grandioso que seu predecessor, o filme opta por trilhar caminhos traiçoeiramente simples e apressados, sacrificando o desenvolvimento de uma narrativa envolvente e carismática em prol de uma história repleta de lacunas e desprovida de emoção.

Nesta continuação, a família Spengler retorna ao ponto de partida: a icônica estação de bombeiros em Nova York. Seu objetivo é se reunir com os membros originais dos Caça-Fantasmas, que montaram um laboratório ultrassecreto de pesquisa para elevar a caça aos espectros a um novo patamar. Contudo, quando a descoberta de um artefato antigo desencadeia uma poderosa força do mal, os Ghostbusters de ambas as gerações devem unir forças para proteger seus lares e salvar o mundo de uma iminente Era do Gelo.

A premissa até poderia ser promissora se não fosse pela quantidade excessiva de personagens unidimensionais e pela falta de qualquer emoção na interação com os nostálgicos e reverenciados nomes da franquia, que desta vez mal conseguem contribuir de forma significativa para a dinâmica geral. É gente demais para pouco tempo de tela.

Dan Aykroyd, Annie Potts, Ernie Hudson e Bill Murray fazem suas aparições, porém, seus papéis se reduzem a soltar algumas frases engraçadas e relembrar ao público a grandeza da franquia à qual pertencem. Enquanto isso, Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard e a talentosa Mckenna Grace – que se destaca com o melhor desenvolvimento de personagem – assumem a responsabilidade de carregar o legado.

Entretanto, é difícil se conectar verdadeiramente com os dilemas desses novos protagonistas. Rudd, em particular, parece preso em um estado de piloto automático, incapaz de alterar sequer a postura que adotou em seu papel como Homem-Formiga. Sua atuação é exaustiva de tão rasa. Mas nada se compara à performance inteiramente estagnada de Kumail Nanjiani, que, apesar de desempenhar um papel crucial como o grande Mestre do Fogo na luta contra o diabão de gelo, falha em trazer qualquer humor genuíno para sua interpretação. Cada linha de diálogo que ele entrega é constrangedora de se assistir.

E se é difícil rir com o filme, rir dele se torna mais fácil. A trama se precipita em direção ao clímax para resolver as pontas soltas após horas de construção de uma narrativa de suspense que falha em nos cativar. A história, mal estruturada, se agarra desesperadamente a qualquer elemento que possa despertar um mínimo de emoção nos fãs mais fervorosos.

Embora brilhe com seu CGI de qualidade e alguns ângulos de câmera divertidos, cortesia do diretor Gil Kenan (de A Casa Monstro), que sabe como brincar com os cenários e os fantasmas extravagantes, falha em criar uma química genuína entre o elenco. O visual impressionante do vilão com chifres e sua voz imponente se perdem entre as obviedades do roteiro.

Veredito

Enquanto Ghostbusters luta para decidir em qual época se concentrar e se libertar do peso do passado para vislumbrar um futuro verdadeiramente inovador, filmes como Ghostbusters: Apocalipse de Gelo continuam a ser produzidos. Apesar de contar com um elenco extenso e talentoso, repleto de personagens carismáticos de diferentes gerações, há pouco que funcione na diversão proporcionada por este roteiro superficial, desprovido de criatividade e entregue de forma automática, buscando apenas arrancar suspiros dos fãs mais fervorosos.

Longe de introduzir qualquer novidade à franquia de 40 anos, que parece congelada no tempo, incapaz de ousar com medo de desagradar, o filme representa simplesmente uma repetição barata de tudo que já foi bem-sucedido anteriormente, em uma história desprovida de qualquer centelha de originalidade ou paixão. Embora até possua alguns momentos de ação divertidos e criaturas animadas, o humor é cansativo, as decisões são questionáveis e o legado da franquia não atende a ligação.

NOTA: 5/10

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