Crítica | Os Rejeitados – Carta de amor aos incompreendidos

É fascinante como Os Rejeitados (The Holdovers) já nasce como um clássico instantâneo para a temporada natalina. O novo drama de Alexander Payne (Sideways/Os Descendentes) é tão submerso no amor pela incompreensão humana que sem muito esforço já se conecta à nossa alma.

Estrelando Paul Giamatti (A Dama na Água) – no seu mais profundo papel – como um professor cujo afeto é recluso, o longa cria uma atmosfera de filme de Natal que nos desarma e nos faz entrar naquele mundinho doce e isolado da trama. Um filme natalino fora do óbvio e, ao mesmo tempo, com todas as lições e expectativas que o subgênero pode oferecer. Uma preciosidade salpicada por neve e relações amorosas especiais.

A trama e o elenco de Os Rejeitados

O filme segue a amizade improvável (porém deliciosa!) entre um professor de história tímido e seu aluno arrogante, ambos extremamente diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais, durante o caótico período de festividades de fim de ano. Enquanto juntos descobrem que são os coadjuvantes de suas próprias vidas, a dupla derruba aos poucos o muro criado para se proteger dos comentários maldosos do mundo e vivem alguns dias (forçados) que vão mudar suas jornadas para sempre. Para isso, o novato Dominic Sessa e Paul Giamatti possuem uma química absurda em cena. O olhar amoroso que falta em um é subitamente completado pelo outro.

A estética nostálgica dos filmes da década de 1970 dá a trama uma energia singular, reconfortante e um tanto quanto mágica, como se aquele internato frio e solitário em que os personagens precisam ficar fosse também um lugar de transformações, um rito de passagem como vemos em bons filmes coming-of-age.

Com ares de Clube dos Cinco e filmes do cineasta Hal Ashby, a narrativa logo nos fisga e nos mantém emocionados na história repleta de senso de humor afiado e comentários pertinentes sobre a conexão humana em tempos difíceis. A ótima Da’Vine Joy Randolph (The Idol) é outra que brilha ao viver uma mãe que recém perdeu seu filho e precisa aceitar e conviver com a dor da solidão. Uma performance contida e lindamente bem executada. 

A premissa deste filme pode soar um tanto quanto familiar no começo, mas ele se destaca ao desvendar gradual e meticulosamente as complexidades de seus belíssimos personagens principais. O resultado é um drama impactante e uma comédia centrada nos personagens, muitas vezes entrelaçados nos mesmos momentos, sendo desenvolvidos de maneira sutil e bastante reflexiva.

À medida que o trio é compelido a compartilhar mais tempo juntos naquele lugar silencioso e monótono, a sensação de uma família, ainda que disfuncional, começa a se estabelecer. A partir desse ponto crucial, Payne habilmente abre cada personagem, direcionando sua câmera para seus interiores.

À medida que a trama se desenrola, se transforma na encarnação de realmente conhecer alguém aos pouquinhos – gradualmente, de maneiras que dão contexto às suas excentricidades, suas qualidades e defeitos. Quanto mais intimamente os personagens se conhecem, mais passamos a conhecê-los também. Um drama repleto de compreensão às diferenças de cada um e ao que nos faz humanos.

Veredito

Ao ser uma das melhores e mais doces comédias dramáticas dos últimos anos, Os Rejeitados dá uma aula de como fazer um filme natalino com maestria e usa toda a sua sensibilidade para evocar o que melhor se pode aproveitar do espírito natalino de forma inteligente e fora do comum, que crava seu olhar aguçado sobre a complexidade humana bem fundo em nossos corações. Se busca um filme para chorar e rir e às vezes os dois ao mesmo tempo, pode ter encontrado o melhor deles. 

Uma história substancial, bonita e carregada de sinceridade, sobre conexão humana, com personagens verdadeiros e profundos. Um clássico instantâneo para a temporada de fim de ano e que deve aparecer em todas as listas de melhores do ano. Nada mais do que justo, afinal, rejeitados aqui é só mesmo no título mesmo.

NOTA: 9/10

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