Crítica | Priscilla é uma cinebiografia, mas não da personagem título

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Hollywood nunca escondeu seu fascínio por celebridades. Por algum motivo, cinebiografias sobre grandes nomes do show business nunca saem de moda. Dessa forma, filmes que retratam histórias ofuscadas pelo “brilho” dessas superestrelas são um bom chamariz para quem está cansado da mesmice. Afinal de contas, obras como essas têm a oportunidade de dar voz a personagens pouco conhecidos da grande massa. Veja o caso de Priscilla Beaulieu, por exemplo.

Em 1959, quando tinha apenas 14 anos, ela se apaixonou por um homem na Alemanha Ocidental que viria a ser o maior amor de sua vida: Elvis Presley. Com dez anos a mais que Priscilla, o “Rei do Rock and Roll” usou todo seu charme e influência para conquistar não apenas o coração da jovem, mas também a benção de seus pais. Em 1962, ele levaria Priscilla para os EUA, onde ela seria sua rainha no mágico reino de Graceland. 

De fato, a história era um verdadeiro conto de fadas para qualquer adolescente na década de 70. No entanto, esse casamento era muito menos mágico do que os tablóides faziam parecer. O divórcio foi assinado em 1973, e Priscilla deixou Graceland definitivamente. 

Os pormenores desse conto foram narrados no livro “Elvis e Eu” (1985), assinado pela própria Priscilla e Sandra Harmon. Este material foi utilizado como base para a adaptação cinematográfica de Sofia Coppola, de nome Priscilla. O novo filme nos leva para dentro do casamento conturbado entre a protagonista e o astro do rock, mas com o foco direcionado, é claro, para a personagem título. 

Antes de começar minha dissertação, acho importante ressaltar que essa foi minha primeira experiência válida com o trabalho de Coppola. Assim, foi interessante entender como ela usa a câmera para filmar sua protagonista de modo que o tema central da obra seja muito mais discutido através da técnica do que pelo roteiro.

As cenas em que Priscilla anda pelos cômodos gigantes da mansão de Elvis ou os takes em que ela é vista observando o exterior da casa pelas janelas tornam clara a intenção da diretora em contar a história de alguém que foi esquecida dentro daquele lugar. O “Fantasma de Graceland”.

São nesses momentos do filme que a intérprete de Priscilla, Cailee Spaeny (Jovens Bruxas), consegue entregar um bom trabalho. O olhar vago da atriz e sua delicadeza ao caminhar pela casa deixam evidente toda a solidão da personagem. Coppola consegue transmitir ao espectador a dor que o casamento problemático causou em Priscilla. 

No entanto, é difícil criar uma conexão com a protagonista por outras vias que não sejam seu sofrimento. O filme não se preocupa em explorar outras camadas de Priscilla para além daquelas que foram talhadas por Elvis Presley (Jacob Elordi). Se você sabe pouco sobre a ex-mulher do cantor, sinto-lhe informar que não é o novo filme de Sofia Coppola que vai fornecer novas informações. 

A protagonista parece não ter voz em sua própria história. Por mais que fique clara a intenção da diretora em retratar a transformação de uma jovem de 14 anos na personificação dos traumas e desejos de um astro da música, é frustrante simplesmente aceitar que o roteiro não se preocupa em explorar outras nuances humanas de Priscilla. Em determinado ponto do filme, inclusive, parece que aprendemos muito mais sobre Elvis do que sua ex-mulher. 

Sofia Coppola não negligenciou sua protagonista, muito pelo contrário. Ela enfatizou como os traumas de seu casamento foram essenciais para moldar sua personalidade. Porém, não é fácil aceitar que uma pessoa (ou personagem) possa ter toda sua essência definida por terceiros. Dessa forma, quando os créditos sobem, você se pega pensando em quem ela era antes do casamento e em quem  se tornou após o divórcio. Assim, o recorte escolhido por Coppola passa a ser desinteressante e ter dito pouco sobre Priscilla. 

Nota: 6/10

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