Quem é fã de cinema já está acostumado a ver a representação indígena norte americana nas telonas. Geralmente os bandidos dos filmes de faroeste ou apenas ajudantes dos mocinhos em filmes de “bang bang” mais aventurescos. Porém, também sabemos que quem gosta de cinema conhece a carreira de Martin Scorsese e sua genialidade ao contar uma história. Em Assassinos da Lua das Flores, o diretor entrega um de seus filmes mais diferentes e, pode até se discutir, um dos seus melhores trabalhos. Fugindo do estereótipo de seus próprios longas e das histórias de “cowboy e índio” no cinema, Scorsese nos mostra a crueldade da colonização estadunidense se perpetuando ainda no início do século XX.
Na década de 1920, os indígenas da tribo Osage dominam as terras ricas em petróleo do estado de Oklahoma. A cobiça dos homens brancos da região começa a passar dos limites quando diversos membros da tribo são assassinados misteriosamente. Começa então uma trama de investigação, traições e mistérios em meio ao coração dos Estados Unidos.
Mesmo antes de se entrar na sala de cinema, Assassinos da Lua das Flores já levanta a mesma discussão do último filme de Martin Scorsese: seu tamanho. Com 3 horas e meia de duração, o filme caminha por uma trilha diferente ao contar sua história, o que ajuda a deixar mais fluida a narrativa. Sem optar pela tradicional jornada do herói, Scorsese conta a história quase como um relato histórico ou até mesmo a boa e velha fofoca da porta de casa. Não há uma grande curva dramática para o ápice, as coisas acontecem por erros humanos, uma dose de bebida a mais, um ego ferido ou até mesmo pelo puro acaso. Não existe uma barriga no filme justamente pela forma natural com que os acontecimentos se desenrolam.
Leonardo Dicaprio retorna para sua sexta parceria com o diretor e no seu papel mais diferente da carreira até aqui. Longe do papel de galã, magnata ou mocinho genérico, o personagem Ernest Burkhart é, em essência, um covarde. Não existe nada confiável vindo do protagonista desse filme, ele não sustenta seus próprios argumentos, suas próprias convicções e sequer consegue bater de frente com quem lhe confronta. Isso o torna a visão ideal para um filme onde toda a moral é dúbia e as atitudes nunca mostram as verdadeiras intenções dos peões nesse tabuleiro histórico criado por Martin Scorsese.
Outro parceiro de longa data do diretor é Robert De Niro e, ao contrário de DiCaprio, o ator de 80 anos interpreta um personagem que ele já conhece, mas de maneira diferente. O personagem William Hale é a definição de lobo em pele de cordeiro. inicialmente a audiência pode até esperar um dos papéis mais “boa praça” de De Niro, como Máfia no Divã ou Showtime, mas aos poucos vemos Hale é na verdade uma espécie de Don da máfia, muito anos de sua existência. Com seu dinheiro e poder, engana aqueles que chama de amigos e faz com que outras pessoas façam o trabalho sujo que ele ordena. Um personagem tão complexo não poderia estar nas mãos de outro ator.
Lily Gladstone também merece destaque. A personagem Mollie Burkhart merecia mais destaque no filme, mas ela é o perfeito termômetro de como a maldade dos homens brancos adoece o povo Osage. Como uma mulher de poucas palavras, ela rouba a cena com sua presença, seus trejeitos e suas imposições. O pouco tempo de tela de Gladstone é até mesmo um reflexo da história que Scorsese quer contar e se torna ainda mais impactante com a conclusão da história.
A montanha-russa dos eventos de Assassinos da Lua das Flores garante que o público fique preso na cadeira por suas mais de 3 horas, mas é o talento de Scorsese aliado a um elenco formidável que fazem deste filme um forte concorrente a todos os Oscar possíveis. Sem defeitos nas áreas técnicas que fazem dele um bom filme, Assassinos da Lua das Flores é um relato cruel sobre cobiça, colonialismo, machismo e poder.
Nota: 9/10
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