Em sua décima primeira incursão cinematográfica, Asteroid City, Wes Anderson assume ser o coentro de Hollywood – polarizador, distinto, um gosto adquirido. Como Tim Burton e poucos outros, Anderson ostenta um estilo tão singular que a estética de seus filmes se torna a narrativa em si.
Um autêntico autor que tece suas histórias dentro de dioramas com tamanha destreza que, por vezes, esquecemos que estamos vendo um filme, e não uma instalação artística. Não obstante, em meio a essas experiências hipnotizantes de cores, há uma sensação desconfortável de que algo está faltando – talvez o filme esteja tentando muito ser inteligente, esquecendo-se de ser agradável.
A trama e o elenco de Asteroid City
Situado na década de 1950 numa fictícia cidade do deserto norte-americano, a trama se desenrola como uma peça dentro de uma peça dentro de uma série de reencenações. Quase como uma “boneca russa”, onde cada camada revela uma nova surpresinha. Com uma grande constelação de estrelas (incluindo Tilda Swinton, Tom Hanks, Bryan Cranston, Edward Norton, Adrien Brody, Jason Schwartzman e Scarlett Johansson), o longa flutua no universo próprio de Anderson: a estética meticulosamente construída, os diálogos longos e cansativos, e a sensação avassaladora de que você acabou de entrar numa loja de antiguidades onde cada objeto tem sua própria – e intrincada – história.
A história por trás da tal “cidade do asteroide” é curiosamente recheada de intrigas, risadas e uma pitada de caos e fofoca. A trama, que obviamente bebe do imaginário da corrida espacial da época, acompanha um grupo de jovens gênios observadores de estrelas que, ao participar de uma convenção organizada para unir alunos e pais numa competição acadêmica, se deparam com acontecimentos em escala global que ameaçam o pacato itinerário. O que começa como uma divertida confusão vai se transformando num verdadeiro cenário de catástrofe onde o cômico se mistura com a perplexidade da vida alienígena – se é que isso faz algum sentido.
Mas não se engane, Asteroid City é muito mais do que apenas uma história de invasão alienígena hollywoodiana. É também uma investigação emocional da dor e da solidão – expressa tanto na atmosfera melancólica que se infiltra através das paletas de cores vibrantes quanto nas complexas relações entre os inúmeros personagens.
No entanto, apesar desses temas mais profundos, o filme se arrasta sob o peso de sua própria ambição, perdendo-se em meio a diálogos intermináveis e enredos secundários que parecem mais destinados a exibir a habilidade de Anderson para criar cenas estilizadas do que a servir qualquer propósito narrativo real.
Veredito
Por fim, embora Asteroid City seja um deleite visual que fascina com sua encenação meticulosa e cores ardidas, acaba sendo uma experiência bastante esvaziada. Apesar do universo ultra colorido e caótico que Anderson cria, a verdadeira essência do filme parece se perder em meio a todo o estilo e excentricidade.
Uma verdadeira overdose de sua estética, deixando pouco espaço para a substância. A narrativa é como um meteorito errante, bonita à vista, mas perdida em seu próprio caminho. É um mundo peculiar e visualmente bonito, porém, a história varia entre frustrante e levemente pretensiosa.
O fã de Anderson, claro, encontrará uma viagem divertida, enquanto o novato poderá se sentir um pouco desorientado nesse emaranhado de situações malucas criadas. Como o coentro, o gosto deste filme pode ser amado por alguns e desprezado por outros. Assim, Asteroid City talvez sirva melhor como um retrato da carreira de Anderson – ao mesmo tempo fascinante e frustrante, mas nunca menos do que único.
NOTA: 6/10
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