O retorno da Pixar às salas de cinema com Lightyear no ano passado não foi tão triunfal quanto se esperava. O fracasso comercial e o material pouco inspirado fizeram com que o spin off de Toy Story passasse despercebido pelo público. Elementos, portanto, chega em um momento delicado para o estúdio, mas dessa vez com uma proposta inédita — ou quase.
Imagine um mundo inteiramente ambientado por seres elementais de água, ar, fogo e terra. Cada uma das tribos que compõem este cenário tem traços culturais bastante específicos e nem sempre há harmonia entre os habitantes da Cidade Elemento. É nesse contexto que acompanhamos a jornada de autoafirmação de Faísca Luz, uma garota esquentada que tem sua vida virada de cabeça para baixo ao conhecer uma simpática e chorona Gota D’água.
Quando o assunto são animações da Pixar, fica difícil não pensar na incrível capacidade dos colaboradores do estúdio em criar universos únicos que estimulem ao máximo a imaginação de seus espectadores. Em Elementos, porém, essa característica está muito mais presente na forma que no conteúdo. É muito interessante ver como os habitantes da Cidade Elemento interagem com o ambiente à sua volta, utilizando suas particularidades anatômicas para fazer com que aquela realidade funcione e se torne especial.
Além disso, o design dos personagens, do tracejado às cores, foi cuidadosamente trabalhado para que os quatro elementos fossem devidamente representados. Seres do fogo têm a pele em constante combustão, como brasas ardentes vivas. Já os elementais da água são translúcidos, com seus interiores repletos de bolhas de ar que surgem conforme se movimentam. Esses detalhes tornam a experiência visual muito gratificante.
Apesar do ótimo trabalho técnico, Elementos não é sinônimo de pura originalidade. Isso porque se substituirmos os seres elementais por animais antropomórficos, teremos algo muito parecido com o que a Disney fez em Zootopia (2016). Tanto um filme quanto o outro apresentam em seu subtexto uma interessante discussão que envolve diversidade cultural, pertencimento e até mesmo xenofobia. Porém, enquanto Zootopia surgia como uma grande novidade, Elementos parece reciclar uma fórmula já explorada.
Assim, a grande jogada do novo filme da Pixar é focar no gênero da comédia romântica. Faísca (fogo) e Gota (água) provam que até mesmo os extremos opostos podem se atrair. Mais que isso: apesar das diferenças socioeconômicas e culturais, os protagonistas são totalmente complementares.
O relacionamento dos personagens é muito humanizado. As virtudes e defeitos de cada um são evidenciadas em um roteiro sensível, que está sempre preocupado em deixar claro que Faísca desperta o que há de melhor em Gota e vice-versa. Dessa forma, acaba sendo ridiculamente fácil se apegar e até mesmo se identificar com ambos.
Dito isso, o filme pode até ser, no fim das contas, apenas mais uma versão moderna de Romeu e Julieta. No entanto, a Pixar soube reimaginar um material antigo e traduzi-lo para seu público de forma inventiva. Elementos não é inesquecível ou sequer atende os padrões criados pelo seu próprio estúdio há alguns anos atrás. No entanto, graças aos seus protagonistas, consegue ser uma história cativante.
Nota: 8/10
Leia também:
- Crítica | A Pequena Sereia apela para a nostalgia mas se renova pouco
- Crítica | Velozes e Furiosos 10 – Quando o limite de velocidade é a criatividade
- Crítica | A Mãe – Jennifer Lopez dá à luz a um filme de ação esquecível
Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News.
Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso grupo no WhatsApp ou no canal do Telegram.