Crítica | Air: A História por Trás do Logo – Chato como uma reunião que poderia ter sido um e-mail

Convenhamos que é raro ver um drama esportivo centralizar sua trama no lado corporativo do negócio. Isso se deve por uma razão bem nítida: saber os bastidores burocráticos de um feito é bem mais chato e monótono do que a realização do mesmo, especialmente dentro de um filme sem ação, cujo maior artifício está nos diálogos e nas relações pessoais de um grupo de funcionários da Nike em busca de resgatar a empresa do fracasso nos anos 80. Air: A História por Trás do Logo amplifica essa sensação de biografia desnecessária, mas se esforça para criar uma certa magia em torto na contratação do ícone do basquete Michael Jordan.

O lançamento do tênis Air Jordan pela empresa, em 1994, é um marco na história da cultura sneaker e do mundo esportivo em geral. Mas a conquista não se resume a uma criação inovadora que revolucionou a indústria do calçado esportivo. A história do Air Jordan é um verdadeiro conto de sucesso que envolveu astúcia nos negócios, talento no esporte e um ícone cultural que ultrapassou gerações. Mas isso faz parte da áurea criada em volta desse endeusamento de celebridades – algo que funciona até hoje – mas que acaba sendo desmistificado dentro do próprio filme que tenta vender a ideia. No fim das contas, tudo aqui e sobre marketing e não sobre valores pessoais, tanto que Jordan nem dá as caras na obra.

A trama e o elenco

Ben Affleck, novamente na cadeirinha da direção depois de Argo, adapta a história semibiográfica de como a Nike se tornou um titã dos tênis de basquete, concentrando-se em seus funcionários e não no símbolo Michael Jordan, algo que até funciona bem para a proposta. A escolha de nunca mostrar um ator interpretando Jordan (além das silhuetas) permite que todos os principais jogadores desse feito possam ter seu devido destaque. O roteiro simples e assertivo enfatiza a importância desse acordo da empresa com o astro e como isso mudou para sempre a vida dos atletas profissionais e a participação deles em marcas patrocinadoras.

A obra tem como intuito contar uma história sobre rebeldes e sonhadores, mas acaba por ser um case de sucesso do marketing mundial. Jordan pode ser a celebridade no centro, mas é o audacioso Sonny Vaccaro, de Matt Damon, que é o herói improvável, assim como o guru do basquete contratado pelo CEO da Nike, Phil Knight (interpretado por Affleck) para construir sua divisão especializada que deseja bater de frente com a gigante ADIDAS. Damon tem seu charme como um “homem comum” e entrega um protagonista convincente e relacionável, mas o pouco que está em cena já faz Viola Davis roubar os holofotes ao viver a mãe de Jordan.

Não que o filme não tenha alma e não seja preenchido por personagens carismáticos, longe disso, no entanto, tudo soa artificial quando o roteiro tenta ir mais a fundo em encontrar um significado além do lado comercial da coisa. Jordan não gosta da Nike inicialmente e aceita, pois é convencido de que a empresa valoriza seus feitos, mas pede participação ativa nos lucros do tênis que leva seu nome, ou seja, nada faz parecer que ambos os lados tomam decisões apenas por amor ou admiração. Affleck, por sua vez, vive um personagem exageradíssimo e sua atuação é bastante entediante.

A fotografia e o figurino ajudam a criar uma atmosfera de época, com as roupas, penteados e acessórios característicos dos anos 80. No entanto, embora a fotografia seja bem realizada e algumas cenas realmente capturam a essência dos anos 80, em outras ocasiões, a sensação é de que a imagem parece sintética, com cenários construídos em CGI, em vez de uma recriação autêntica. O figurino, por outro lado, consegue transmitir bem a estética, com roupas coloridas e tênis icônicos. No geral, a direção de fotografia e figurino contribuem para a ambientação da história, mas com algumas ressalvas em relação à naturalidade.

Veredito

Puro marketing, assim como sua trama, Air: A História por Trás do Logo deve atrair o público por conta de seu elenco estelar, mas a reunião de astros é tão monótona que facilmente poderia ter sido apenas uma pesquisa básica na Wikipédia sobre a ascensão da Nike. Por sorte, no meio de tanta falação e burocracia desinteressante, Ben Affleck encontra um equilíbrio entre a comédia e o drama das relações humanas, mas salta no ar com ânsia de fazer uma cesta, porém, acaba sem atingir grandes feitos. É didático, simplista e muito menos espetacular do que a conquista em si.

NOTA: 6/10

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