Crítica | A Primeira Comunhão – O ritual do puro tédio

É óbvio que não ser inovador não quer dizer nada sobre um filme, mas ser datado e sem inspiração, daí já é outra história. E para o nosso azar, o terror espanhol A Primeira Comunhão La niña de la comunión) é um tedioso ritual dos dois. Com sua trama mal desenvolvida e submersa em toneladas de clichês e tropos do gênero, nada soa original ou mesmo envolvente, e esses são defeitos que nenhum filme de terror gostaria de ter.

A trama e o elenco

O enredo até começa bem, com a protagonista, Sara (Carla Campra), tentando se encaixar em uma cidade pequena da província de Tarrgona, na Espanha. A esquisitona sem amigos que não parece ligar para suas diferenças. No entanto, a partir do momento em que ela e sua amiga rebelde Rebe (Aina Quiñones) cruzam com uma garotinha macabra, vestida para a primeira comunhão, a trama vai ladeira abaixo rumo ao desinteressante.

A história, por sua vez, não é original e recorre a inúmeros clichês e estereótipos do gênero, como a presença de uma entidade sobrenatural que busca vingança, uma adolescente que se envolve em atividades de ocultismo e uma narrativa que se passa na década de 1980. Esses elementos já são comuns em produções similares, o que torna o enredo pouco surpreendente e preguiçosamente previsível. Enquanto o mesmo luta para ser uma versão espanhola de O Chamado, parte de sua boa singularidade inicial afunda nas águas turvas do mais do mesmo.

Uma das principais falhas do filme é a falta de desenvolvimento das personagens somada ao desempenho péssimo do elenco. Os espectadores não têm a chance de se conectar emocionalmente com as jovens e, portanto, não se importam muito com o que acontece com elas. Além disso, os atores não conseguiram transmitir emoção suficiente em suas atuações, tornando difícil acreditar em seus medos e angústias durante a caçada sobrenatural.

Outro aspecto desanimador é, sem dúvida, a falta de engenhosidade no roteiro. O filme não trouxe nada novo para o gênero e, em vez disso, contou com uma série de previsibilidades cafonas. Os lugares assombrados, as sombras misteriosas, os sussurros de crianças diabólicas – tudo soa muito familiar e sem inspiração. Além disso, a história também é bastante prejudicada por efeitos especiais capengas, mesmo que tenha alguns práticos aqui e ali que são interessantes. As sequências de terror são mal elaboradas e artificiais.

Um problema constante no filme é a ausência de tensão e sustos efetivos. As cenas que deveriam ser assustadoras são mal executadas, com decisões pouco convincentes e jump scares previsíveis que dói. O clima de terror é prejudicado também pela trilha sonora, que não cria o clima adequado para a história. Em vez de criar uma atmosfera de apreensão e suspense, a condução ociosa de Víctor Garcia transforma quase todas as sequências de susto em situações risíveis.

A edição do filme também deixa a desejar, com transições abruptas e cenas que não fluem de forma coerente. Além disso, há diversas cenas que não contribuem para o desenvolvimento da trama e que parecem ter sido adicionadas apenas para preencher tempo – como vemos na subtrama da Rebe e seu pai abusivo. Por fim, o desfecho é anticlimático e pouco satisfatório. A explicação para o que aconteceu com a menina fantasma não é clara e as pontas soltas da história não são devidamente amarradas, deixando o espectador com uma sensação de que algo importante ficou faltando. E com a cerejinha do bolo que é uma criatura digital bizarra e sem lógica.

Veredito

Em resumo, A Primeira Comunhão mais parece um exercício da cartilha “o que fazer em um filme de terror quando entrar em desespero” do que algo que mereça a nossa atenção completa. Um filme de horror que vai contra o ótimo cinema de gênero espanhol e apresenta uma trama pouco original, personagens superficiais, ausência de tensão e sustos efetivos, edição mal executada e desfecho insatisfatório. É rezar para ser aterrorizado, já que o único vilão do filme é mesmo o sono que provoca.

NOTA: 2/10

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