Crítica | Casamento em Família – Torta de climão com sabor de decepção

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Nem sempre a união de astros significa boa receita. Às vezes, a torta de climão é tanta, que o sabor amarga e resta apenas um filme com metade do potencial e muito mais desanimado do que a potência de seu elenco veterano. E desde os créditos iniciais até o seu desfecho, Casamento em Família (Maybe I Do) é cafona e ultrapassado, como uma cerimônia datada que ninguém se importa, mas o que faz essa festa ter o mínimo de relevância é, sem dúvida, a dinâmica do elenco e a excelente química extraída dessa confusão em família.

Por conta do texto verborrágico e o excesso de diálogos a cada meio segundo, fica óbvio que a história é originalmente uma peça de teatro e que não foi muito bem adaptada para um roteiro de filme, já que soa muito mais engessado e menos enérgica para as telas. É tanta palestrinha existencial vinda de todos os lados, que por vezes parece que todos estão falando sozinho em um idioma desconhecido. Mas a premissa dessa comédia romântica é exatamente oferecer diferentes pontos de vistas sobre o amor e, mais que isso, sobre a instituição casamento que tanto assombra os casais. Mas funciona? Muito pouco.

A trama e o elenco

Dois casais de meia-idade entediados questionam seus relacionamentos e vivem experiências extraconjugais em busca de correr atrás do tempo perdido, enquanto um casal jovem entra em uma batalha constante para saber se o namoro está indo para algum lugar. O que os une? Bom, todos estão se relacionando entre si e todos estão infelizes com os rumos que a vida tomou. Obviamente que, em algum ponto, essa bomba de mentiras iria explodir, os fazendo confrontar a verdade crua do amor idealizado que não existe.

Esta é a premissa forçada e desajeitada de Casamento em Família, filme de Michael Jacobs – diretor e roteirista veterano da TV – que, apesar de seu elenco de primeira linha, não consegue escapar de sua escrita de má qualidade, que fornece uma obra extremante simplista, rasa e tediosa de ser assistida, muito por conta também da estética precária de suas gravações. Os dois casais em questão são Sam (William H. Macy) e Monica (Susan Sarandon), a doçura exagerada e enfadonha do primeiro lutando contra o desejo sensual de sua esposa rebelde.

Monica fica com Howard (Richard Gere), que não pode nem mesmo se comprometer com sua própria infidelidade mais do que com sua confusa esposa, Grace (Diane Keaton), que encontra Sam chorando sozinho no cinema uma noite. Sam e Monica são pais do cético Allen (Luke Bracey), cuja apaixonada namorada Michelle (Emma Roberts) – filha de Howard e Grace – está louca para que ele faça o tão sonhado pedido de casamento.

Embora a premissa de Casamento em Família possa ser interessante para o público que gosta do gênero e até tenha bons momentos de comédia corporal, extraídos do ótimo senso de humor do elenco experiente, as observações sobre fidelidade, intimidade e amor são simplesmente superficiais demais. Afinal, como qualquer um desses personagens – falhando miseravelmente em seus próprios casamentos infelizes – pode ser considerado qualificado para dar conselhos sobre casamento? Não é de admirar que essas pessoas não se amem; não há nada para amar neles em primeiro lugar.

Roberts e Bracey já trabalharam juntos em Amor com Data Marcada, da Netflix, e se beneficiam da boa química que possuem em cena, embora esse núcleo jovem seja o mais fraco e menos necessário para a trama, já que não é divertido e a forçação de barra da Michelle – em querer se casar à todo o custo – só nos faz criar um alto nível de antipatia por ela e sua pressão. Essa relação à base da obsessão (que deveria ser o carro-chefe da narrativa) é sem brilho algum e preocupantemente tóxica, um desperdício de bons atores.

Vira e mexe é fácil identificar as origens de um filme no teatro pelas nuances de um roteiro mais redundante, mas o filme de Jacobs revela suas raízes teatrais em sua cinematografia monótona e encenação preguiçosa, que não justifica sua adaptação para um produto do cinema. As cenas se arrastam em locações minguadas e genéricas. As conversas são longuíssimas e inconclusivas, afinal, uma coisa é ouvir personagens inteligentes debaterem e discutirem a necessidade do amor e do casamento; outra bem diferente é suportar pensamentos daqueles que mal são capazes de opinar, carregados de clichês e tropos do gênero. E o roteiro não está disposto a debater e subverter essas previsibilidades, que culminam em um clímax totalmente decepcionante.

Veredito

Com seu final previsível e feliz após a promessa de caos, Casamento em Família é o mais puro tédio encapsulado numa trama enfadonha, rasa e arrogante sobre como o amor deveria ser. Nem mesmo o elenco de primeira linha, formado por experientes no gênero, faz essa comédia romântica fugir da artificialidade de relações criadas apenas para gerar humor nas telas. Ainda assim, mesmo com altos e baixos, é um filme bem-intencionado e com algumas piadas divertidas, mas sem visão e, por consequência, totalmente esquecível. Uma torna de climão sem sabor, assim como um relacionamento fadado ao fracasso.

NOTA: 5/10

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