Crítica | Till: A Busca por Justiça – Retrato sensível de uma mãe e seu luto sufocante

No primeiro momento, Till: A Busca por Justiça parece apenas mais um filme biográfico comum padrão de Hollywood, porém, sua abordagem dramática acima da média o eleva para algo muito além disso. A maneira como a diretora Chinonye Chukwu extrai sensibilidade e afeto de uma tragédia é louvável, afinal, Till é um filme sobre uma mãe negra sufocada pelo luto e como essa dor a move para frente na busca por justiça – ou quem sabe, por uma explicação.

Se distanciando de sua veracidade histórica americana, o longa poderia ser – com facilidade – sobre uma mãe que perde um filho por conta de bala perdida nas comunidades do Rio de Janeiro, ou por alguém que vê seu ente querido negro ser agredido e assassinado por policiais, ou seja, esse enredo infelizmente se reverbera pelos tempos e se gruda no racismo estrutural da nossa sociedade, transformando filmes como este em espelhos que precisamos olhar. E refletir muito sobre.

A trama e o elenco

Baseado em lamentáveis fatos reais – e caso você já tenha assistido a essa história em episódios da cancelada Lovecraft Country – a premissa segue Mamie Till-Mobley (vivida pela fantástica Danielle Deadwyler), então Mamie Bradley, na dor após o linchamento de seu filho caçula, Emmett Till (Jalyn Hall), assassinado brutalmente em 1955, aos 14 anos de idade, na pequena cidade de Money (Mississipi) depois de ter sido acusado de ofender uma mulher branca chamada Carolyn Bryant (Haley Bennett). Ainda que o roteiro caia nas armadilhas do gênero, o desempenho do elenco ultrapassa algumas barreiras de forma brilhante.

É complexo e especialmente difícil trazer para as telas um dos crimes de ódio mais notórios da América e, por conta disso, o filme evita mostrar a violência em detalhes, uma vez que, apesar de ter esse fato como base, sua história distancia-se de ser um tipo de torture porn do cinema racial. Mas isso não quer dizer que não seja um soco no estômago que mexe com o nosso emocional. Óbvio que há profundidade na história para servir de base ao contexto, que mostra a rotina de Emmett, seus sonhos, sua audácia e a relação com a família, toda essa introdução se estende um pouco além de necessário, mas funciona.

Para dar vida ao personagem-título, Jalyn Hall traz sorrisos comoventes e uma sensação de travessura adolescente durante cenas de afeto, iluminadas pela belíssima fotografia terrosa de forma calorosa, que pode muito bem ser sonhos ou memórias preservadas por alguém sobre quem Emmett foi na vida real. Já Deadwyler, por sua vez, entrega uma performance dramática extremamente comprometida, destemida e densa, que você raramente vê em filmes desse porte. A direção preciosa de Chukwu apenas evidencia ainda mais a sensação de intimidade, de que talvez nós não devêssemos estar assistindo a dor dessa mãe em uma tela grande, uma invasão que nos faz entrar nesse sentimento de culpa que se constrói.

Veredito

Sendo uma cinebiografia incomum, Till: A Busca por Justiça remonta eventos reais e memórias comoventes sobre a dor incurável da perda. Um conto asfixiante a respeito de uma mãe de luto e sua luta por justiça, para que um dia sua resiliência possa significar algo, enquanto se esforça para lembrar do jovem Emmett Till da maneira certa.

Apesar disso, o filme gasta tempo demais na espera por algo evidente que está para acontecer e isso o faz perder parte de seu ritmo pelo caminho, ainda que a montanha-russa emocional proporcione uma jornada angustiante e tocante do começo ao fim. A direção de Chinonye Chukwu se recusa a desviar o olhar do sofrimento mas, assim como o evento histórico, o filme deve se tornar inesquecível por si só.

NOTA: 8/10

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