Crítica | A Profecia do Mal – Um épico católico de ação com terror

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Na grande maioria das vezes, um filme de baixo orçamento peca por achar que possui a necessidade de mostrar demais e ir além de onde seus pés alcançam. Aproveitar o pouco que tem em mãos e saber fugir do óbvio, sem cair em exageros toscos, não é uma tarefa para muitos. E por falar em pecado, A Profecia do Mal (The Devil Conspiracy), comete vários ao longo do seu tortuoso percurso, mas ressignifica a bíblia dentro de sua história de fantasia sombria, que contrapõe à ciência e a fé de forma bastante interessante.

A produção – que chega ao Brasil pela Imagem Filmes – parece sofrer de transtorno de personalidade ao não saber se deseja ser um filme de terror, um thriller de ação ou uma ficção científica clássica, no entanto, consegue mesclar muito bem os gêneros e estilos enquanto constrói uma narrativa surpreendentemente intrigante, repleta de anjos bad-ass, demônios lutadores de artes marciais e uma conspiração bíblica com boas reviravoltas. Quer dizer, se você estiver disposto a embarcar nessa aventura nonsense e recheada de absurdos, a sensação é de estar jogando um divertido videogame de ação.

A trama e o elenco

É aquilo: quanto menos fizer perguntas ao roteiro escasso, melhor. Uma vez que um dos maiores méritos da obra está exatamente na originalidade e ousadia da premissa que, curiosamente, sabe brincar com seus inúmeros clichês e se divertir com suas bobagens. Após uma introdução pra lá de animada e cheia de ação – que nos insere no mundo onde essa história mirabolante irá se desdobrar – a trama, situada nos tempos atuais, segue uma empresa de biotecnologia farmacêutica satânica que planeja clonar Jesus (é isso mesmo que você leu!) como um meio de libertar o diabo de sua prisão no submundo – a menos que o Arcanjo Miguel (vivido por Peter Mensah) possa detê-los.

No entanto, não é a versão guerreira angelical de Miguel que vemos empunhando uma espada poderosa nos tempos modernos. O herói habita o corpo de um falecido padre, agora com veias elétricas azuis e superforça. Ele deve resgatar a historiadora Laura (Alice Orr-Ewing) antes que ela engravide com o DNA de Jesus (O Bebê de Rosemary ao contrário!) e faça com que o Inferno habite a Terra. Ou seja, entre surtos e piração, ao menos uma coisa temos que concordar: nada disso foi feito antes.

Há muito de outros filmes semelhantes dentro deste, como O Último Caçador de Bruxas, João e Maria: Caçadores de Bruxas, Thor 2 e até uma pitadinha de Anjos e Demônios, e isso se deve ao fato de ser um filme que sabe muito bem aproveitar seu orçamento para construir uma atmosfera obscura e paisagens noturnas deliciosas, com feitos visuais moderados grande parte do tempo, que não são piores do que os piores da Marvel, por exemplo. Os grandes cenários e fortalezas são frequentemente impressionantes, algo que nos faz querer adentrar nessa guerra celestial, mesmo que seja necessário exercitar a suspensão da descrença para tal.

A performance de Joe Doyle, por sua vez, muda de um padre fraco e bobinho para um verdadeiro Exterminador do Futuro, que alimenta os estereótipos de ação dos anos 80, enquanto ele evita ferimentos de bala e corre a toda velocidade atrás de carros. Alice Orr-Ewing também entra no papel e se entrega, principalmente pela enorme mudança corporal que sua personagem passa ao abrigar uma força tão severa na barriga. As atuações são coerentes, ainda que sem grandes feitos. Entre uma sequência grotesca de susto e a construção de medo que nunca decola, a direção desgovernada de Nathan Frankowski (Ao Escrever o Amor em Seus Braços) falha mesmo é nos elementos de terror que tenta desesperadamente executar.

Frankowski não foge da mitologia cristã que impulsiona uma guerra angelical cheia de ação, mas, por vezes, tudo soa raso demais, corrido demais e sem um destino certo a se seguir. Há uma quantidade avassaladora de informações e personagens para absorver e nem tudo (ou pouca coisa) realmente faz algum sentido no meio do caos e desequilíbrio da direção diante dos múltiplos gêneros. Além da estética impecável, outro grande feito está na trilha sonora épica – no melhor estilo coral do Evanescence – que brilha durante todo o filme e ajuda na imersão. Independentemente disso, há algumas partes estúpidas e até algumas toscas que fazem rir sem querer (como a cena bizarra e desnecessária de uma ultrassom). Nem tudo funciona ou soa harmônico.

Veredito

Visual e sonoramente surpreendente, A Profecia do Mal pode parecer barato, mas não é preguiçoso. O filme entrega um enredo bastante inédito e sólido, executado com diversão e ânimo por todos da equipe, mas perde grande parte de sua força pelo seu exagero desnecessário e ambição de ser um blockbuster com orçamento de um filme B de terror. Por vezes bagunçada, por vezes caótica, a trama não foge dos clichês e previsibilidades, mas transfere entretenimento escapista que, felizmente, não nos faz querer rezar para acabar.

NOTA: 7/10

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