Crítica | Continência ao Amor – Um romance superficial e escapista

É cansativo dizer mas… um dos dispositivos de enredo mais potentes e utilizados no gênero romance é o tropo do casal que vai de inimigos para amantes. Isso resultou em muitos sucessos como Orgulho e Preconceito e 10 Coisas que Eu Odeio em Você. A própria Netflix se beneficiou muito com isso através das relações retratadas em suas séries teen mais badaladas. Aliás, Nicholas Sparks está rico hoje em dia por uma razão, não é mesmo? Ou seja, como podemos ver, esse tropo funciona extremamente bem por causa dos personagens convincentes e de um território comum suficiente para eles deixarem de lado suas diferenças e se apaixonarem ao longo da história clichê. Mas Continência ao Amor (Purple Hearts), por outro lado, nunca de fato atinge esse encanto tradicional.

A trama e o elenco

O filme da Netflix – que está fazendo grande sucesso na plataforma – apesar de não ser um remake de outro filme com mesmo nome e enredo, lançado em 1984, começa com uma aspirante a cantora e compositora (Sofia Carson se esforça e atinge seu potencial máximo) tentando manter seus problemas financeiros sob controle trabalhando em vários empregos. As coisas pioram quando ela fica sem medicação para diabetes, que ela descobriu que tem há apenas seis meses. O sistema de saúde falido do país a deixa desesperada para encontrar outra solução, mesmo que ilegal.

Quando ela cruza o caminho de Luke (Nicholas Galitzine serve para ser o galã apático), um jovem fuzileiro naval que está pronto para ir em sua primeira turnê, ela imediatamente não gosta dele, embora tenha mais a ver com sua noção preconcebida de soldados e o fato de que os companheiros de Luke são completamente misóginos.

Pessoalmente, Luke não consegue deixar uma marca em Cassie, mas quando ela descobre que se casar com ele poderia obter os benefícios de saúde que ela precisa desesperadamente para permanecer viva, ela decide se casar. Para Luke, também, esse arranjo funciona bem, porque lhe permite benefícios monetários adicionais para cuidar da dívida que ele ainda tem com seu ex-traficante de drogas.

O roteiro

À primeira vista, o enredo feijão com arroz de Continência ao Amor acha que está criando o novo Querido John e parece uma excelente receita para algum forte conflito entre os protagonistas que lentamente se apaixonam. Mas à medida que a história se desenrola, a coisa toda começa a desmoronar. O que mais dói no filme são seus personagens infundados e claramente sintéticos. A estranheza inicial entre eles quando se casam e fingem estar apaixonados ajuda a preparar o cenário. Podemos ver claramente que ambos se sentem desconfortáveis ​​um com o outro, e isso é compreensível, mas essa sensação de repulsa parece nunca ir embora.

Esperava-se que eles lentamente encontrassem uma maneira de contornar suas diferenças sem abrir mão de suas ideologias, em vez disso, ao se apaixonar, a personalidade forte de Cassie se esvai como poeira no deserto. Eles se lançam de cabeça em um momento apaixonado que desaparece apressadamente. E isso continua pelo resto do filme. A história de amor pela qual devemos torcer nunca realmente tem espaço para florescer em meio a todo o caos de suas vidas diferentes. Mesmo quando eles deveriam se aproximar, esse constrangimento entre eles vira uma barreira no caminho. É frustrante.

Isso, claro, se deve à falta de química e sedução entre os atores e um trabalho insuficiente da direção, que de outra forma estão bem por conta própria. Individualmente, Cassie e Luke até fazem sentido, mas quando eles se juntam, parece irreal que possam manter a farsa até o final do filme – e pior ainda fica para o público ter que comprar essa baboseira. Além disso, não vemos nada em seu relacionamento que lhes permita evoluir de inimigos para amantes. Tudo é raso, leviano e apressado. Falta faísca nesse fogo e tempero nesse prato.

A direção

O trabalho da dupla Ben Lewin e Elizabeth Allen Rosenbaum falha no mais essencial dentro do gênero: provocar afeto no público. As sequências de pegação são tão frias que poderiam conservar alimentos. Já as cenas de cantoria, por sua vez, ainda que bonitas, não se sustentam e as canções por vezes parecem mais perdidas dentro da história do que, de fato, ajudam a trama a se desenvolver. Há sim um certo encanto, uma doçura, em algumas delas e isso fisga o espectador pelo coração, mas logo já o mergulha no profundo tédio.

Conclusão

Nem mesmo o excesso de sentimentalismo é capaz de fazer Continência ao Amor sair do romance óbvio. Apesar de tentar focar em questões relevantes e conflitos morais, o filme da Netflix nunca consegue ir além da superficialidade do entretenimento barato. Há boas sequências de cantoria e algumas decisões de roteiro que subvertem o cafona e o datado do gênero, mas a história sólida afunda pela falta de química de seus protagonistas. Sobra apenas mais um sucesso com potencial desperdiçado pela plataforma de streaming.

NOTA: 5/10

Leia também: Continência ao Amor é baseado em uma história real ou em um livro?


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