Crítica | Case Comigo – O casório entre a comédia romântica tradicional e o musical vibrante

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Após ser a grande febre no começo dos anos 2000 e posteriormente ter tido uma forte passagem pelo streaming, as comédias românticas estão retornando aos poucos aos cinemas e nada melhor do que resgatar não apenas aquela boa e velha essência “Sessão da Tarde” do subgênero, como também alguns astros e estrelas que solidificaram sua existência, como a atriz e cantora Jennifer Lopez, que também é o rosto central de Case Comigo (Marry Me), novo filme da Universal Pictures que serve de grande aposta para o Valentine’s Day.

Dessa vez, a batida refrescante de Case Comigo mistura todos os clichês habituais do gênero (afinal, tem como fugir disso?) com uma salpicada de contemporaneidade e uma colherzinha de leveza, na busca por produzir o mais puro suco do entretenimento despretensioso. Há quem diga que o cinema perdeu sua criatividade e vive uma sobrevida de repetições. De certa maneira, essa afirmação justifica a existência de tantas obras superficiais, simples e empenhadas apenas em servir um passeio ameno ao espectador, mas não seria isso que, de fato, faz o cinema ser o que ele é? Sem mergulhos profundos e satisfeito com a dosagem alta de anestesiantes, o cinema é festa e, nesse caso, uma de casamento onde a magia parece nunca ter fim. Mas sabemos que cedo ou tarde ela tem.

A trama e o elenco

O forte do roteiro de Case Comigo não está na construção de algo plausível ou possível, afinal, as inconsistências da trama são praticamente irreparáveis, mas sim na forma como questiona e brinca com o conceito de união. Ao fixar na narrativa de que o amor nasce da convivência diária, o enredo acaba por fugir levemente de algumas previsibilidades e entrega um discurso realmente atual e necessário, claro, dentro de uma história que precisa ser romântica e melosa, senão não seria uma comédia romântica clássica.

Nesse contexto, conhecemos a mega celebridade Kat Valdez (praticamente uma cinebiografia para Lopez, que esbanja carisma e talento) e sua vida vazia de emoções e rica de solidão. Quando seu noivo (vivido pelo cantor Maluma, sim, é sério) a trai com sua assistente bem no dia em que seu casamento seria transmitido para milhões de pessoas, ela dá uma de Vani de Os Normais e decide se casar com o primeiro homem que vê pela frente.

Acontece que esse sujeito é Owen Wilson, que vive um monótono professor de matemática e, através dessa decisão embasada na vingança e na imprudência, um novo casal está formado. O problema está mesmo na falta de química entre Lopez e Wilson, ainda que a dupla tenha ótimos momentos de humor.

E se o casal não funciona, afinal, conter a força da natureza que é Jennifer Lopez não é para qualquer um, o roteiro força uma emoção por meio do background das personagens e suas dores e aflições.

Charlie tem a vida simples que gosta, mas é praticamente invisível ao mundo, já Kat, possui tudo que qualquer um gostaria de ter, mas vive uma vida de aparências – narrativa típica dos males da fama. Essa união de mundos mostra que o amor, na realidade, se constrói aos poucos e que duas pessoas distintas podem sim se apaixonar pelo simples acaso. Ainda que ilusória e bastante artificial, a abordagem da trama surpreende por conseguir fugir das armadilhas do “amor ideal”, “metade da laranja” e “paixão à primeira vista”. E acredite, isso é revigorante.

A direção

Como se pode esperar, Case Comigo não é um musical, mas há bastante canções originais e performances de JLo para preencher as lacunas vazias entre um diálogo e outro e ofuscar os deslizes da história. A artista mostra que, além de completa, sabe dosar bem o drama com o humor e entrega ótimos momentos de comédia, perfeitamente guiados pela diretora Kat Coiro (Dead to Me), cuja condução é enérgica, tem um ritmo instigante e peca apenas por não saber contornar momentos extremamente artificiais do elenco, como a fatídica falta de química do casal e a ausência de uma justificativa mais interessante para a decisão impulsiva da protagonista, ou seja, problemas de roteiro que direção nenhuma consegue salvar.

Mas para isso, há músicas que ficam na cabeça, piadas bobas que arrancam boas risadas e uma progressão reflexiva nas personagens que nos faz ter empatia, ainda que todas as clássicas passagens do gênero – como o término do namoro, os conflitos sociais e até mesmo a sempre presente cena de reconciliação no desfecho – são apressadas e parcialmente emotivas. Falta mais emoção, já que a premissa espirituosa permite bastante sentimentalismo.

Conclusão

Dessa maneira, o casório entre a comédia romântica tradicional e o musical vibrante de Case Comigo se faz notar com a presença do furacão Jennifer Lopez e todo o seu carisma habitual, mas, na hora do beijo, a enxurrada de clichês e a falta de química do casal certamente interrompem a cerimônia. De qualquer forma, o roteiro leve, jovial e bem-humorado acerta em não gastar suas energias tentando reinventar a roda e abraça a essência despretensiosa do filme “sessão da tarde”.

Esse resgate saudoso do gênero no cinema ganha força por subverter alguns estereótipos e, ainda que seja adoçado por um romance pouco plausível e artificial, as boas ideias são aproveitadas e a comédia se prova bem mais eficaz e divertida do que se poderia esperar. Para os românticos de plantão, o pedido foi feito e resta apenas sentar e aproveitar o passeio nupcial da história, agora, se você é daqueles que já desistiu da idealização hollywoodiana, pode se surpreender com a mensagem de que o amor nasce mesmo é do convívio. E, em épocas da pegação desenfreada, poucos filmes se arriscam a dizer a verdade.

NOTA: 7/10

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